O minhoto e o fadista

Nos montes, ao ar livre, no despovoado, onde não há aperto, onde não há escuridão, nem galeria de mulheres dissolutas, nem a encruzilhada das vielas, nem os portais escuros, nem os apitos da polícia, o homem precisa naturalmente de toda a sua força e de toda a sua inteligência para atacar e para se defender.

Aí o homem que saca a navalha encontra-se debaixo do varapau, e não tem defesa nem esconderijo nem fuga: tem de lutar por força, braço a braço e frente a frente.

Por isso o minhoto que se embriaga nunca promove rixas: deita-se sensatamente a dormir. Se um dos nossos fadistas do Bairro Alto abusar do vinho do minhoto para o insultar, este deixar-se-á injuriar até bater, fará com este a figura mais parecida com a de um cobarde, o que deverá levar o fadista, se ele não souber bem anatomia, a numerar escrupulosamente nessa noite todas as engrenagens do seu esqueleto, porque no dia seguinte terá os ossos todos num molho.

“As Farpas” – Eça de Queirós, Ramalho Ortigão

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