A Terra de Leovigildo

No final do século XIX, princípios do século XX, era habitual o jogo do pau. No Campo do Sobreiro (antigo recinto de jogos, situado em terreno junto ao Apeadeiro), repleto de público, chegou a realizar-se em julho de 1934 um grande duelo entre António Quintela, de Nevogilde e João Quinteiro, campeão do Norte (FERNANDES, 2015:14)

A Terra de Leovigildo

Grandioso Jogo de pau!

Grandioso Jogo de pau
– Alhos Vedros –
Cujo producto liquido reverte a favor do acabamento das obras do Hospital da Misericórdia.

Domingo, 8 de Maio de 1960 às 16 horas.
Em que tomarão parte os melhores jogadores desta região e de Lisboa e entre eles os melhores mestres.

Domingos Miguel
O grande Mestre do Ateneu Comercial de Lisboa que é só por si um programa, devido à sua grande ginástica e mestria, onde há bastantes anos tem vindo por em prova o seu grande valor artístico, tendo muitíssimos admiradores em toda a parte do País onde tem apresentado esta linda modalidade, fazendo-se acompanhar dos seus discípulos.

António Nunes Caçador
De Lisboa. O categorizado Contra-Mestre do Ateneu, jogador também de grande classe e autor do livro explicativo desta modalidade.

Pedro Ferreira
De Lisboa. Jogador forte nos ataques e muito ágil na defesa.

Elias Gameiro
De Lisboa. Jogador de muita ginástica e de grande destreza.

Silvino Melro
Da Moita. Grande Mestre arrotense, que devido ao seu franzino corpo demonstra sempre uma grande destreza e que se fará acompanhar dos seus discipulos e condiscipulos que são os seguintes

Henrique Marques Valente
Do Bairro das Arroteias. Jogador muito lesto que tão bem tem sabido por em prova o seu valor artístico desde Lisboa ao Algarve.

António Brinca
De Pinhal Novo. Jogador muito rápido nos ataques.

Manuel Cunha
Dos Brejos da Moita. Jogador muito forte e muito lesto, tanto no ataque como na defesa.

Joaquim Miranda (O Espalha)
Do Pinhal Novo. É também um jogador entre os melhores do Sul do país.

Toma também parte com o seu grupo o mestre

José Ribeiro Chula Júnior
Da Moita. Jogador de grande classe e de grande popularidade, acompanhado dos seus discípulos.

Ernesto Alves
De Tomar, Jogador forte e de grande agilidade.

José Policarpo
De Cabeço Verde. Jogador que sabe marcar tanto no ataque como na defesa.

Garcia dos Santos
De Cabeço Verde. Jogador também muito rápido.

E finalmente apresentamos o grupo da F.N.A.T. de Lisboa o discípulo do grande Mestre Frederico Hopffer

Sacadura
De Lisboa. Jogador de grande projeção.

Jogo do pau na festa anual da F.N.A.T. em 1946

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E a festa terminou com vistosas e emotivas demonstrações de jogo do pau – a esgrima portuguesa – dirigidos pelo diretor e pelo mestre do Grupo de Jogo do pau de Cabeceiras de Basto, srs. Manuel Marques e Adelino Barroso. Um espectáculo de beleza e alegria deste inolvidável festival de Educação Física da F.N.A.T..

“Stadium” Nº 190, 24 de Julho de 1946

Mestres do Ginásio Clube Português desde 1895 até hoje

Desde 1895 que o Ginásio Clube Português tem apoiado o Jogo do Pau, sendo o primeiro ginásio a ter uma classe desta arte ao lado de todas as outras atividades desportivas praticadas pelo mundo fora. Estes são os mestres que têm orientado estas aulas ao longo destes 3 séculos:

Pedro Augusto da Silva

Artur dos Santos

António Lapa

Humberto Caldas

Frederico Hopffer

Francisco Hopffer

Júlio Hopffer

Armando Sacadura

Nuno Russo

Fidalgos da Província

João de Olivença em “Occidente” 30 de Dezembro de 1900.

RECORDO-ME dos fidalgos da província, e com eles convivi na adolescência, e na minha juventude. Foi ontem, sou lembrado que eram a nota pitoresca, simpática, em a sociedade de há trinta anos. (…)

Ao cair da tarde, quando já esmorecia o Malho, o senhor ladrão, o frade, ainda se ouvia o estalejar de um ou outro foguete de sete respostas, e soar o bombo, batido pela enorme vaqueta de cabeça de trapos, e também a serranilha alegre da gaita de foles, que enchia vales e montes de toadas de encanto inolvidável, que pareciam a própria voz das giestas, das congossas azuis, dos belos e verdes olmeiros e das mais árvores e penhas!

Ás vezes sentia-se grande reboliço. Toda a romagem, como onda que vem alastrando corrida sobre uma praia, desmandava-se a um lado, e era grande a grita; e vozes diziam: fujam; e os ébrios, erguendo-se cambaleantes, respondiam: – Qual fugir, nem qual diabo!

As mulheres, tapando as orelhas com as mãos, davam uivos lastimosos. Mas, por fim de contas, era o fidalgo que varria a feira, como lá se dizia, fazendo sarilho com um grande varapau ferrado, e impávido, ia levando diante de si os valentes, que não entestavam com ele, já pelo respeito que lhe tinham, já pelo receio de ficarem deslombados.

Bons tempos e bons fidalgos!

 
 

Hier ruht ein tapferer portugiese

O reconhecimento da bravura lusa pelo adversário, também se encontra nos relatos alemães desta batalha. Em muitas trincheiras, só se havia distribuído seis balas a cada soldado português (casos houve em que apenas receberam três)! Tal não significava a desistência da luta. Muitos portugueses pegaram nas suas espingardas e usaram-nas como no jogo do pau. Este pormenor, mencionado num relatório alemão, foi reconfirmado pelos guardas do Museu Militar, (…)

Até ás décadas de 50 e 60 do século passado, recrutavam-se os guardas do Museu Militar de Lisboa, entre os veteranos da Grande Guerra. Muitos gostavam de mostrar a peça mais emocionante na sala da “sua” guerra: uma cruz simples, em madeira, retirada de uma das trincheiras da batalha de La Lys. Era a cruz de uma campa de um soldado de nome desconhecido. Mostra a inscrição em alemão: “Hier ruht ein tapferer Portugiese” (AQUI JAZ UM VALENTE PORTUGUÊS).

Por Rainer Daehnhardt, texto completo em: http://www.grifo.com.pt/index.php?option=com_content&task=view&id=228

Mocidade Portuguesa

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Jornal da Mocidade Portuguesa Nº 33, Ano III.
1 de Abril de 1939. Lisboa.

“Aspectos da instrução do jogo do pau, no respectivo centro de Lisboa. A «Mocidade Portuguesa» promove assim o ressurgimento dum dos nossos mais interessantes e característicos desportos“


O XIII ano da Revolução Nacional, foi comemorado com um grandioso festival da Mocidade Portuguesa, realizado no campo de Jockcy Clube, e com uma parada da Legião. Na festa da Mocidade, a que assistiram os Srs. Presidentes da Repúblico, da  Assembleia Nacional e do Conselho e todo o Governo, uma multidão entusiasmada aclamou delirantemente o desfile de cinco mil aliados daquela patriótico organização.
A festa compreendeu exercícios de ginástica sueca, saltos e uma movimentada exibição
de jôgo de pau.

“Boletim da Junta de Provincia da Estremadura” – 28 de Maio de 1939
 

Jogo do Pau – História / History – OS GUARDIÕES DA TRADIÇÃO

"Os guardiões da tradição" Documentário (em português, com legendas em inglês) sobre o Jogo do Pau no norte de…

Gepostet von Jogo do Pau – História / History am Freitag, 5. Januar 2018

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A memória do jogo do pau de Júlio Alves Marinho (2/3)

Mestre José Leite (Quéo) (Fafe) Jogo do pau

Mestre José Quéo

Não esquecendo três grandes jogadores: Serafim Tripa de São Martinho de Silvares, Florêncio Tripa e Albano Ramos do Bairro de São Jorge.

Um domingo quando ia para o treino de futebol, no ano de 1954, por volta das 8:00 da manhã, encontrei quatro homens a jogar ao pau, Mestre Quéo e três irmãos António, José e Custódio, conhecidos por “os Moleiros”.

A partir dessa data, continuei até ao ano 1964.
Durante esse tempo passaram mais de 150, e quando a equipa fazia demonstrações encontrava-se com 20 a 30 jogadores.

Podemos salientar outros grandes jogadores: Joaquim Lopes e seu filho Valdemar, António Lopes, João Lopes, e seu filho Mário, Serafim Tripa e sua filha Maria do Carmo, Florêncio Tripa e António Chambeta.

Mestre José Leite (Quéo) (Fafe) Jogo do pau
Mestre José Leite (Quéo) (Fafe)

No mês de Julho de 1966, quando me encontrava em férias em Fafe, convidei o mestre Quéo e a sua esposa para almoçar em casa dos meus pais. Durante esse almoço, falámos dos seus familiares. Ele contou-me com uma grande alegria e emoção que tinha aprendido a jogar com o pai, que o pai tinha aprendido com o avô, e o avô do seu pai que o aprendeu de um senhor que se chamava Marques Mendes dos lados de Freitas, onde havia um grupo e eles faziam partidas. Ainda existe familiares. Foi pena que depois do Mestre José Quéo não houve um filho para continuar, assim terminou como podemos dizer uma existência mais ou menos de 200 anos de jogo do pau entre família.

– Júlio Alves Marinho – ASS CUL PORTUGAISE 25/01/2001

A memória do jogo do pau de Júlio Alves Marinho (1/3)

Então chegamos a uma pessoa única e raríssima, e para meu conhecimento o homem mais grande (1,93m) e mais valente da freguesia de São Bartolomeu do Rego, no dia 21 de Agosto de 1953 por volta das 16:00 e antes de sair a procissão da nossa Senhora da Saúde, seu pai dirigiu-se para comprar uma vara de marmeleiro a um negociante de Borba da montanha. O Comprador disse ao negociante para lhe tirar meio tostão ao preço da vara, replica o vendedor como se o conhecia “parolo”. O filho estava ao lado do pai e disse ao vendedor: “você fale com mais respeito ao mesmo velho, pois se não, vai ser o diabo”. O negociante pegou numa vara e desafiou o rapaz, aí começaram a pancada. O rapaz combateu sozinho contra os homens que quiserem deita-lo ao chão. O barulho durou mais ou menos uma hora. Foi preciso a guarda a cavalo intervir para que o barulho acabasse. Metem-lo-no entre dois cavalos e disseram-lhe para ele parar. O rapaz respondeu-lhes: “paro mas os senhores não me batem pois senão fujo-lhes ao respeito”. A guarda acompanhou o pai e o filho até a saída da romaria e eles foram embora.

No mesmo ano, no dia 8 de Setembro, na Senhora do Viso o dito negociante, de Barba da Montanha voltou para vingar-se, mas ai, ele veio acompanhado dos seus amigos.

O meu pai conversava com o compadre encostado a um penedo a alguns metros, o Joaquim viu varas no ar e cântaros cheios de vinho à cabeça. Ele disse ao meu pai “deixa-me ir ver, que os de Borba querem brincadeira”, deu dois saltos, duas arrebitadelas ao chapéu, e as varas falaram com o mesmo sistema de jogo, entrou com jogo de varre quelhas contra jogo e as pancadas mortais. O pau não se via, só se via pessoas com a cabeça a deitar sangue, homens e mulheres deitados no chão. No fim o Joaquim Gonçalves disse: “Já não há mais?” O combate durou mais ou menos três quartos de hora e assim a festa terminou.

Estas duas cenas passaram-se na minha presença.

– Júlio Alves Marinho – ASS CUL PORTUGAISE 25/01/2001