O mestre José Ribeiro Chula

joseribeirochula

Foi com o mestre António Moleiro de Valdéra, um antigo discípulo de Domingos Miguel, que José Ribeiro Chula Júnior recebeu as primeiras lições de jogo do pau.

Tinha então 17 anos, conta hoje 34, é natural da Moita do Ribatejo e, presentemente, joga no Barreiro e em Alhos Vedros.

Durante a sua carreira de mestre e de jogador tem feito uma notável propaganda do jogo do pau, tendo-se exibido no Barreiro, Coina, Azeitão, Setúbal, Grândola, Loulé, Moura, Atalaia, Montijo, Moita, Alhos Vedros e em muitas outras localidades onde o seu jogo tem sido sempre aplaudido.

José Ribeiro, que segue a escola de Lisboa, é um magnifico jogador, e na sessão de jogo do pau que há três anos organizámos no Ateneu Comercial, teve ocasião de pôr à prova todo o seu valor da sua classe, assaltando com os mais categorizados elementos que tomaram parte da aludida sessão!

A sua escola «a pura escola de Lisboa», é de grande eficácia; no ataque serve-se habilmente do pau, manejando-o só com o braço direito, o que é próprio do jogo lisboeta, e as suas pancadas enviesadas são muito perigosas, mesmo para os jogadores mais cautelosos!

As suas passagens, tento para o lado direito como para o esquerdo, são feitas com perfeição, e os seus cortes, claros e precisos, notando-se em especial uma grande rapidez no corte saído!

(…) e as cobertas laterais são executadas com toda a atenção, tendo sempre o máximo cuidado com as mãos!

José Ribeiro Chula tem vários discípulos no Barreiro e os melhores são José Policarpo e Joaquim Cunha, rapazes ainda novos no jogo, mas que, pela sua habilidade, constituem verdadeiras esperanças.

José Ribeiro é pois um belo jogador e um grande propagandista da modalidade a que se dedica, o que prova pelo notável desenvolvimento que, na sua região, tem dado à esgrima portuguesa, ensinando inúmeros rapazes, e tomando parte de várias festas desportivas, em que o jogo do pau faz parte do programa.

Sebastião D. M. Cerveira.

 

O Jogo do Pau – Desportos Revista – 1983 (4/4)

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IMPORTÂNCIA DO JOGO DO PAU COMO ACTIVIDADE PSICO—MOTORA E SEU VALOR EDUCATIVO

Sob o ponto de vista de actividade de carácter psicológico,o jogo do pau encerra em si extraordinárias possibilidades, e da sua prática de carácter técnica se pode, desde já focar o desenvolvimento da coordenação motora; a alusão empírica dos antigos mestres de que «olho vê, o pé anda e o pau bate» refere uma atitude conjunta do aproveitamento dos recursos anatómicos e fisiológicos; a existência dum objecto exterior,cujo maneio implica grande destreza, envolve um melhoramento de capacidade de percepção e consequentemente, uma melhoria da própria consciência do corpo.

Os diferentes ritmos a que a prática sujeita, nos seus esquemas tradicionais de treino, são tema de situações e períodos de dispêndio de energia que se enquadram, quer no trabalho dito de endurance, aeróbico, entre as 120/140 pulsações/minuto e que se encontra nas execuções de aperfeiçoamento técnico, de intensidade moderada, quer no trabalho dito de resistência, anaeróbico, entre as 140/180pulsações/minuto, e que se encontram nos períodos de maior intensidade, caso de combate ou do treino mais intenso; desta forma se adquire também controlo respiratório e melhoria na capacidade de recuperação.

Da prática se desenvolve o equilíbrio dinâmico, o que se associa a correcção de hábitos posturais, bem como a relaxação, linhas mestras de eficácia de execução; há ainda que considerar que a execução, de um caracter rítmico, nos esquemas técnicos de base, correspondem a um melhoramento analítico dos movimentos, que, pela sua natural correcção, visto serem originados por respostas intuitivas às solicitações surgidas, virão a ser criadas durante o contra-jogo ou qualquer outro tipo de jogo; como em outra qualquer técnica de combate, nota-se um desenvolvimento aturado da percepção psico-cinética, elemento que, associado aos restantes, contribui para uma melhoria geral do esquema corporal.

No tocante ao desenvolvimento da potência o trabalho incide essencialmente na execução em velocidade, se bem que, com determinados intuitos específicos, haja vantagens na utilização de cargas superiores para aperfeiçoamento técnico.

Note-se que, não sendo o jogo do pau uma técnica de oposição directa, não é óbice o peso, a força, a idade, (caso corrente o jogador encontrar a sua melhor forma entre os 30 e 50 anos) ou o sexo: existem actualmente diversas raparigas a praticar principalmente na escola do Poceirão, (concelho de Palmela) do mestre Custódio Neves.

Não deve, no entanto, o jogo de pau deixar de estar inserido em esquemas de treino mais vastos, e consequentemente em simbiose com as leis da programação e metodologia de treino,que, sendo correctamente definidas, não vêm, como se verifica, dissocia-lo das suas características fundamentais.

Sob o plano psico-sociológico,o jogo de pau é de um extraordinário valor educativo, visto que é solicitado quer o esforço individual, quer em oposição a um ou mais adversários (treino,contra-jogo, jogo de um para dois, de um para três, do meio,etc.) quer em esforço coordenado com o de outros, em jogos de grupo contra grupos, jogo de quadrado, da cruz, etc. campos que reflectem os aspectos multi-facetados da sociedade em que vivemos, sendo ao mesmo tempo uma escola de desenvolvimento das qualidades pessoais e sociais. O carácter extraordinário de modalidade que busca o constante aperfeiçoamento, é corolário
daquilo que o jogo de pau representa como ARTE TRADICIONAL PORTUGUESA,que na sua pureza, traduz uma maior integração na cultura nacional, bem como a adeitação e manutenção de uma legítima herança.

É pois, necessário não deixar morrer esta arte, este desporto tipicamente nacional. A todos os bons portugueses se lança este alerta, muito especialmente aqueles que gostam de exercício físico em geral e também a todos aqueles que têm a cargo a difusão do desporto no nosso país.

O apoio tão necessário como merecido às escolas já existentes, a criação de novas escolas a nível nacional, a maior difusão da modalidade nas camadas jovens, a realização de encontros inter-escolas e regionais como também a criação bem orientada de um ambiente leal e desportivo pode ainda permitir e contribuir para que este jogo possa, sem perder o espírito bem português que o criou e o caracteriza, acompanhar a evolução dos tempos e ocupar na terra onde nasceu o lugar que bem merece.

O Jogo do Pau – Desportos Revista – 1983 (3/4)

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Desenvolvimento da técnica:

A) «CONTRA JOGO»:

Jogo (COMBATE) em que se opõem  apenas dois jogadores.

B) «SÉRIES DE JOGO»:

Formas de treino individual em que o jogador simula um combate imaginário apenas contra um único adversário.

C) «JOGOS DE CONJUNTO»:

Jogos em que um ou dois jogadores enfrentam sempre um número superior de atacantes, dos quais aprendem a defender-se mediante um trabalho especifico do pau coordenado com movimentos de pernas adaptados às diferentes situações do combate. Aqui estão incluídos o «JOGO DE DOIS EM FRENTE» (um jogador enfrenta dois adversários), «O JOGO DE TRÊS EM FRENTE» (um jogador enfrenta três adversários),«O JOGO DO MEIO OU DA RODA» (um ou dois jogadores enfrentam um grande número de adversários. No caso de serem dois jogadores contra vários, usa-se uma técnica chamada «costas contra costas»).

Também incluído nestes «jogos de conjunto» há o treino individual que é feito através de vários conjuntos de formas de combate em que o jogador simula um combate imaginário contra vários adversários que segundo estas diferentes «formas» estarão colocados em diversos ângulos de ataque. Aqui estão incluídos os chamados «JOGOS DE CRUZ», «JOGO DOS VARRlMENTOS», «JOGOS DE QUADRADO», etc.

COMPETIÇÃO:

A competição incide unicamente sobre o «CONTRA JOGO» que como já foi referido é aquele em que se opõem apenas dois adversários jogando o chamado «JOGO LIVRE» no qual ambos podem empregar todo os recursos técnicos que possuem, sendo no entanto obrigatório controlar as pancadas.

A competição é feita numa circunferência com 3 metros de raio riscada no chão e será declarado vencido o jogador que precisar pisar fora desta, uma ou mais vezes.

Será desclassificado o jogador que não controlar as pancadas, ou ainda aquele que fazendo defesas imperfeitas, procurar atacar sem atender às boas regras da dita defesa. Este tipo de competição está já desatualizado e brevemente (em Outubro ou Novembro próximos) Será substituído por outro tipo de competição mais real mas sem qualquer perigo, uma vez que esta será feita com proteções apropriadas. As regras desta nova competição serão divulgadas oportunamente.

MATERIAL UTILIZADO:

Paus direitos e lisos de madeira de «Lodon» (CELTIS AUSTRALIS LINEU), que são paus típicos ou qualquer outra madeira que não seja excessivamente pesada, mas resistente, e que seja suficientemente flexível (não de mais) e macia (não deve transmitir vibrações das pancadas às mãos de quem as segura), como por ex.: CASTANHEIRO, CARVALHO,FREIXO, MARMELEIRO, etc…

Para jogadores adultos do sexo masculino, os Paus (ou varas) devem medir 1,60m e pesar cerca de 600g. Se os jogadores forem também adultos mas do sexo feminino, a medida dos paus manter-se-á sensivelmente na mesma, mas o peso não deverá exceder as 400g. Para jovens e crianças, tanto o peso como a medida deverão ser proporcionais à idade e ajtura do jogador. Para a generalidade dos casos, todos os paus para este jogo deverão ser ligeiramente mais grossos numa das extremidades (a que bate) do que na outra (onde se pega).

LOCAL:

Qualquer local plano com uma área mínima de seis metros por oito (ginásios, campos de ténis, campos relvados, terra batida, areia da praia, etc.), sendo muito agradável jogar ao ar livre.

PARTICIPANTES:

Todas as idades, ambos os sexos. Para a competição é necessário também a participação mínima de um Juiz que normalmente é um mestre ou um instrutor escolhido também pelos mestres.

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O Jogo do Pau – Desportos Revista – 1983 (2/4)

artigo de jogo do pau 1983
A técnica do Jogo do Pau exige um extraordinário apuro das qualidades motoras.

Descrição técnica:

A) «TÉCNICA DE BASE» Constituída por:

ATAQUES – Sete ataques de base desferidos aos lados esquerdo e direito do adversário: dois «ENVIEZADOS» (desferidos de cima para baixo),dois «REDONDOS» (paralelos ao chão), dois «ARREPIADOS» (atacam de baixo para cima),uma «PONTA» (PONTUADA ou ESTUCADA) normalmente directa a cara ou ao plexus solar.

Todos estes ataques são feitos aproveitando o comprimento total do pau, e todos eles, salvo a «PONTA» são feitos em «ROTAÇÂO» (aproveitando o balanço da parte mais grossa do pau que é a que bate). Também todos eles podem ser feitos com uma ou com as duas mãos. Neste último caso a distância entre as duas mãos deve ser igual ao tamanho do antebraço do jogador que segura o pau;

DEFESAS – Sete defesas (GUARDAS ou COBERTAS) de base «RIJAS» (aquelas que oferecem resistência às pancadas do adversário) para cada ataque. Estas defesas podem ser feitas directamente sacudindo o pau do atacante ou em rotação varrendo as pancadas, e neste caso são chamadas «VARRIMENTOS» (aquelas em que se opõem às pancadas do atacante outras pancadas em sentido contrário);

SARILHOS – Exercícios provenientes de defesas antigas,que têm por fim aumentar a facilidade no manejo do pau, adquirir coordenação entre os movimentos do pau e das pernas, e ensinar o principiante a bem pisar o terreno.

B) «TÉCNICA AVANÇADA» Constituída essencialmente por:

GUARDAS BRANDAS – Aquelas em que se aproveita a forçada pancada do adversário em favor do nosso contra ataque(muito rápido e de difícil controlo);

GUARDAS SIMULADAS – Aquelas em que se recolhe o pau à pancada do adversário,para esta passar sem ser tomada;

CORTES – Pancadas destinadas a prejudicar activamente o efeito da outra pancada que não foi defendida com uma guarda;

GUARDAS AVANÇADAS – Defesas entrando no terreno do adversário debaixo do ataque daquele (para a execução destas guardas com eficácia é necessário alto nível técnico);

CORTES ANTECIPADOS – Percepção mental do ataque do adversário contra-atacando antecipadamente (exige nível técnico superior, Este tipo de cortes não são usados em combates desportivos visto serem dificilmente controláveis quando executados correctamente).

C) «JOGO TRAÇADO»:

Técnica usada especificamente em distâncias muito curtas em que não há possibilidades de se aproveitar o comprimento total do pau mas pelo contrário, conseguir o máximo de eficácia com um comprimento mínimo de pau.Caracteriza-se essencialmente por:

a) O pau ser seguro a meio com as duas mãos afastadas, usando-se ambas as pontas livres (a fina e amais grossa) indiferentemente para atacar ou defender.

b) Os ataques e as defesas são muito semelhantes e são feitos directamente e não em rotação.

c) As defesas são sempre «RIJAS» e feitas em sentido contrário aos ataques.

De capital importância é a questão do chamado «CONTROLO» do ataque visto ser este jogo praticado até ao momento sem qualquer protecção artificial. Esse «CONTROLO» usa-se, se necessário em treino com praticantes menos avançados, em combate com adversários inferiores ou na competição. E feito encurtando, desviando, retardando ou mesmo não desferindo as pancadas.

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O Varapau – Xanquim Lorenzo Fernandez 1959

O Autor cita Eça de Queiroz que fala no jogo do pau, e refere o seu uso em alguns pontos da Galiza. Descreve as principais características e serventia do varapau — flexibilidade e leveza, apoio de caminhantes, pastores, etc., e ainda arma de luta —. É precisamente este aspecto que o Autor salienta, descrevendo os preliminares do desafio e diferentes fases do jogo ou luta, posição dos jogadores, etc. O jogo do pau serve fins ora desportivos, ora de agressão. Relato vivo de uma luta entre dois portugueses que, «costas com costas», conseguiram pôr em debandada um grande número de feirantes, em Porqueiró (Galiza); de lutas contra lobos; etc. Qualidades essenciais ao bom jogador: agilidade, boa vista, reflexos rápidos, resistência física e serenidade e domínio de nervos. Notando o pouco uso do jogo do pau na Galiza conclui por uma origem portuguesa, introduzido via Vale do Lima.

  • Nota referente ao artigo em: “Bibliografia Analítica de Etnografia Portuguesa.” Benjamim Pereira, 1965.

 

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O Varapau

por Xanquin Lorenzo Fernandez, de Orense, Espanha

Em  “O Comércio do Porto” 13 de Outubro de 1959

No romance de Eça de Queirós, “O crime do Padre Amaro”, encontrei uma frase que me fez lembrar algo já desaparecido nas terras do Sul da provincia de Orense, nas zonas limítrofes das Serras de Laboreiro e do Gerês. Diz esta frase: «Os homens do campo com os seus varapaus passavam para os dourados do sacrário ». Estes varapaus, outrora arma de ajuda, e hoje já esquecidos, usaram-se também nestas terras, e destes quero falar aqui. O varapau é um pau direito, de dois metros de comprimentos, limpo de ramos e de casaca. Um bom varapau, de acordo com a regra clássica que preside à sua escolha, quer-se mais alto do que quem o vai usar, e que «junte pé com ponta». A hipérbole assinala a necessidade de ter muita elasticidade, visto que quanto mais flexível ele for, mais jeitoso é o seu manejo. O varapau melhor e mais procurado é o de madeira de lodo ou lodeiro, bem direito, da mesma grossura em todo o seu comprimento, totalmente seco e com a sua superfície polida, para o que é primeiro raspada com a folha de uma faca ou de uma navalha, e em seguida com um pedaço de madeira dura. No cabo, a sua grossura deverá ser tal que se possa pegar jeitosamente com a mão, e o seu peso pequeno.

Este varapau era o companheiro dos moços rondadores, dos viandentes ao longo dos caminhos, dos pastores no cume das serras… O seu oficio era multíplice: no caminho, era uma ajuda, ora a subir as encostas, ora a desce-las, descansando-se nele o peso do corpo; quando um regato cortava a vereda, saltava-se por cima dele apoiando-se no varapau; o pastor no monte e o feirante na feira carregavam nele o seu gado, e quando era preciso afugentar o lobo , tanto em defesa própria como na do gado que lhe estava confiado.

Mas o varapau não era somente um apoio, sendo também uma arma para luta, e deu lugar a uma interessante forma de esgrima, que por aqui em Portugal era conhecida pelo nome de «jogo do pau», Esta luta tinha a sua técnica e as suas regras, que eram sempre cuidadosamente observadas.

Cumpre esclarecer que se podia «jogar o pau» com fins somente desportivos, mas que não eram poucas as vezes em que isso se fazia para agredir a outros ou para se defender deles.

Para se «jogar o pau», começavam-se pelo desafio: quando uma pessoa queria lutar com outra, fazia com o seu varapau um risco no chão: era o que se chamava «poñel-o risco», nome que se ampliou, equivalendo a valentia; por isso, diz a cantiga:

Santa Baía, vaia vaia,
E Meás é vaselisco;
Os mociños de Facõs
Son os que «poñem o risco».

O aceite do desafio por parte do rival consistia em pisar o risco: começava então a luta.

malhadinhas
«- ó rapazes, para cá deste risco mando eu; para fora, se quereis, mandais vós. Quem perdeu o amor à vida que entre – e Postei-me em posição de varrer.» – A cena de «o Malhadinhas», de Aquilino Riveiro, numa ilustração de Bernardo Marques, onde o uso do varapau é bem evidente.

Para se «jogar o pau», punham-se os lutadores frente a frente, com os respectivos varapaus seguros com as duas mãos pelo cabo, de tal jeito que a vara ficava em posição horizontal, dirigira para a direita do lutador. O jogo consistia em bater no adversário com o pau, e defender-se a tempo dos seus golpes. Quando a luta não era a valer, apenas se fazia como se fosse bater com o pau, mas sem descarregar o golpe, e a habilidade era o que conferia a vitória, embora geralmente se rematasse pelo cansaço de algum dos contendentes.

Contudo, o «jogo do pau» não tinha sempre este carácter desportivo. A luta era por vezes a sério, e rematava com a cabeça aberta de algum dos lutadores.

O «jogo do pau» requer uma série de condições, tanto por parte do jogador como pela do varapau; as deste já foram ditas: elasticidade e pouco peso são as principais. O lutador, pelo seu lado deve ser ágil, ter boa vista, reflexos instantâneos, e uma grande resistência física, assim como um bom domínio dos seus nervos, para se não deixar arrebatar, conservando-se sereno todo o tempo que seja preciso.

Nunca os homens destas terras foram amigos de armas de fogo nem de armas brancas, mas em troca usaram abundantemente os varapaus ou os seus cajados e mocas, mais modestos para derimir as suas divergências. Usaram-se, na verdade, a cardefia e a bisarma, mas tanto uma como a outra são mais ferramentas de trabalho, e somente de jeito ocasional se têm empregado como armas.

Em geral, a arma por excelência era o varapau; o rapaz tinha-se já por moço quando arranjava o seu varapau e ia de ronda com os outros: era uma coisa assim como ser armado cavaleiro. O varapau era o companheiro de todos os momentos, e por isso as romarias, as festas, e por vezes as feiras, rematavam sempre com pancadaria, em lutas entre moços de freguesias diferentes. Detalhe interessante: o varapau somente se largava da mão enquanto o moço estava com a moça na lareira da casa dela; então o pau ficava à porta, para indicar aos outros moços que nada tinham que fazer ali. A este costume responde a cantiga tão conhecida:

A tua porta, miniña,
Hai unha vara delgada;
Se non foras tan bonita,
Non eras tan deseada.

Quando em algum sítio se juntavam gentes de várias freguesias, era quase sempre certo que o ajuntamento se desfaria de jeito violento, pois não é sem vão que nesta terra se tem um tão forte sentido da freguesia. O galego não é de uma aldeia, nem de um concelho, nem de uma província: é de uma freguesia, e a quem não é dela, olha-se quase como a um inimigo. Esta rivalidade paroquial punha-se de manifesto nos aludidos ajuntamentos onde o varapau derimia as divergências.

Outas vezes, eram os moços de uma freguesia contra os que vinham rondar as suas moças, ou o desejo de se vingarem de alguma outra peleja ou qualquer motivo semelhante, que os bons «jogadores de pau» apriveitavam para mostrarem as suas habilidades.

A coisa começava aos berros de: – «Eu, carballeira! A quen me die un pau, doulle un peso!!». Em geral, a luta iniciava-se enfrentando-se por  parelhas, mas em pouco tempo cada qual dava onde lhe calhava, e a peleja perdia toda a organização. Por vezes, ela reduzia-se à luta dos respectivos campeões, enquanto que os respectivos bandos os acirravam para os encorajarem.

O varapau era sem dúvida uma arma eficaz. Bem jogado, punha nas mãos do seu dono grandes vantagens na luta. Afirmam-no bem alguns casos, que deixaram memória entre as gentes destas terras. Eis aqui um sucesso já de fins do século passado, mas  que ouvi narrar não há ainda muitos anos: Passou-se a coisa na feira de Porqueirós, feira de ano, em que se juntavam feirantes de toda a comarca e de fora dela. Os das diferentes freguesias iam com o seu gado e com os seus frutos, fazendo-se uma das melhores feiras da Galiza daquele tempo. Uma vez, ignora-se porquê, começou uma rixa entre os feirantes, e dois portugueses que, vizinhos moradores naquelas terras havia já tempos, acudiram a Porqueirós. A rixa assanhou-se, e chegou como sempre, a hora dos paus. Um dos portugueses, ao ver o perigo, berrou ao seu companheiro: – «Ó irmão! Junta costa com costa!!» –  Postos deste jeito, cada um com o seu varapau, defenderam-se os dois sozinhos dos que os atacavam. A luta, a julgar pela lembrança que deixou, deve ter sido épica. Durante muito tempo, mantiveram-se firmes, a despeito dos muitos atacantes; pouco a pouco, foram-se desfazendo dos adversários; uns, feridos, e outros acobardados, o triunfo quedou-lhes a eles, que, sozinhos, «desfizeram a feira». Tal era a superioridade que lhes dava a sua perícia em «jogar o pau»!

E também se conta de um moço de San Xés, que, de regresso da ronda, foi atacado pelos lobos, e, de costas contra um carvalho, defendeu-se toda a noite com um varapau, até que ao romper do dia a luz afugentou os lobos. E daquele moço de Grou, a quem os de Gaias conseguiram encontrar sozinho num caminho, e soube tão bem jogar o pau, que deu conta de todos. E muitos casos mais, que as gentes lembram, de feitos semelhantes, levados a bom fim com a ajuda do varapau.

No resto da Galiza desconheço tal arma. E assim, parece-me evidente que se trata de um instrumentos de origem portuguesa: o facto do seu emprego presente nas terras raianas, e não no resto da Galiza; o de ele se encontrar, pelo contrário, de uso muito corrente em Portugal; a nacionalidade dos seus mais famosos cultivadores – tenha-se em conta que o caso relatado de Porqueirós é um entre muitos – , bastam para nos mostrar.

E aqui vai um facto curioso: o varapau penetra na Galiza seguindo um velho caminho, o caminho que seguiram, num ou no outro sentido, muitos factos culturais que desde sempre estão em processo de intercâmbio entre Portugal e a Galiza, desde a cerâmica da Penha até ao varapau: o vale do rio Lima, esse rio que, nascido na Galiza, vai morrer em Portugal.

A eficácia dos velhos caminhos históricos continua ainda hoje tão viva como nos tempos que assinalam o começo das nossas respectivas culturas.

 

 

O Jogo do Pau – Desportos Revista – 1983 (1/4)

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Nuno Russo

Um pouco de história

O Jogo do Pau português também conhecido por «ESGRIMA NACIONAL», é uma arte de luta tipicamente portuguesa em que a arma é um simples pau direito e liso, aproximadamente da altura de um homem, e manejado adequadamente por cada um dos contendores, que com ele procuram, por um lado, atingir o ou os adversários e por outro defender-se dos golpes por estes desferidos.

Esta arte de luta, cuja origem remonta aos primórdios da nossa nacionalidade, teve o seu berço no norte de Portugal, mais concretamente no Minho,onde começou por ser uma técnica de defesa e ataque, própria das gentes e da cultura campesinas. Daí se expandiu para Trás-os-Montes e mais tarde para o Sul, onde também se veio a fixar, principalmente na Estremadura e Ribatejo.

Nestas regiões rurais o pau,varapau ou cajado, fazia (e por vezes ainda faz) parte da indumentária normal do homem do campo, associado essencial-mente às suas deslocações a pé ou a cavalo como companheiro e apoio, e sobretudo como arma elementar para se defender de eventuais agressões de outros homens ou animais. Com ele se resolviam todos os problemas diários que provinham sobretudo de rivalidades entre aldeias, de namoros, desvios de aguas de irrigação, etc. Raras eram as vezes ( sobretudo no norte do País ) que as feiras ou romarias não terminassem com paulada entre moços de freguesias diferentes ou pior ainda se envolvessem em desavenças aldeias inteiras,que se defrontavam em combates sangrentos e até mortais.

Este facto de o povo saber manejar o pau foi uma riqueza que serviu a nossa História não só em lutas internas – na revolta da Maria da Fonte, nas lutas entre liberais e absolutistas – mas também em defesa contra o invasor como aconteceu quando as tropas francesas pretenderam invadir Portugal entrando pelo Minho.

Só no final do século passado o Jogo do Pau se implantou em Lisboa. Aqui, sob condicionalismos muito diferentes dos da província, o «espírito» deste nosso Jogo altera-se. Liberto que está dos imperativos de luta que o acompanhavam nas origens em época e região, vemo-lo agora virado para o aspecto desportivo e ser praticado em Salões e Ginásios. Destes, o primeiro a introduzir a prática do Jogo do Pau como desporto foi o Real Ginásio, hoje Ginásio Clube Português. Esta transformação do Jogo do Pau bélico em Jogo Desportivo iniciada na capital, estendeu-se com o tempo a todas as escolas do norte e sul do Pais.

Mas apesar desta transformação bem como das pequenas diferenças técnicas existentes entre as várias escolas, o Jogo do Pau português continua a manter intacta toda a pureza da sua prática original.

Continuação >>

Tradicional arte do jogo do pau preservada por jovens de Abadim – 1978

Artigo do Diário de Notícias de 1978 sobre o jogo do pau de Abadim e o mestre Portela.

Um pouco arriba de Cabeceiras de Basto, um punhado de rapazes, orientados pelo mestre António Portela, desafiam a evolução dos tempos praticando a arte do jogo do pau — uma reminiscência do passado que em Abadim é vivificada como expressão cultural genuinamente portuguesa.

abadim-DiariodeNoticias1978

Alfredo Mendes (texto)
Armando Moreira (fotos)

Forasteiro que assente arrais em Abadim pressente num credo que o tempo naqueles lugarejos se quedou em tempos idos. Neste minúsculo povoado minhoto, tudo é antigo, rudimentar, tradicional, aceite pelos seus naturais com aparente resignação.

Duas buzinadelas bem afinadas e eis que galináceos, cavalgaduras e porcos fogem espavoridos dos córreos que nos conduzem , á entrada da. aldeia. Ai, encaixilhados nos postigos dos casebres de pedra sobreposta, os rostos das velhas de tez filigranada e solta fitam-nos com carradas de curiosidade no cochichar característico de «quem sarão, quem sarão estes»..

— A casa do António Portela?, pois não, — e as velhas mirradas de xailezinho traçado que mais se assemelha a asa de infortúnio, apontam-nos com simpatia o local preciso. Ai fomos encontrar um homem simples, modesto, de poucas falas, proprietário de umas nesgas de terras e mestre do jogo do pau em Abadim. Numa luta contra a voragem dos tempos, este homem de 62 anos tenta preservar, conjuntamente com 18 praticantes, uma arte considerada, por uns «esgrima nacional» que por outros, como «arte marcial portuguesa». A sua origem perde-se naturalmente na noite dos tempos, ficando-nos apenas na retina o conto de que «isto era praticado pelos nossos ante-passados quando atravessavam paragens pouco hospitaleira».

Nalgumas tabernas destas bandas, entre nacos de b0roa. e malgas de caldo verde, ainda se poderá escutar a crónica de combates encarniçados, que chegaram a notabilizar os homens que, em dias de romaria, com o estrugir do foguetório e dos bombos, o gemido do fole da gaita céltica, o malhão e o escorrer do verdasco, punham a festança em alvoroço com ajustes de contas. Quase sempre, os motivos destas refregas eram invariavelmente os mesmos: mulheres, questões de águas e cães.

Com destreza, habilidade e arte, o pau delgado feito de lódão era, assim, manejado com maestria segundo certas regras: varrimentos de cruz, varrimentos dobrados, corrida, jogo do meio e jogo contra jogo. Num livro de bolso datado de 1886, podem ler-se algumas delas. Relativamente ao capitulo do jogo contra jogo, atente-se nas seguintes passagens: «… se me der uma pancada oitava que venha do lado direito, devo ladear, coberto o meu lado esquerdo, e desandar-lhe uma pancada à cabeça». Depois, a jeito de conselho: «Quando estiver numa feira, devo estar atento e vigiar para todos os pontos; Se vier um homem desconhecido pela banda das minhas costas, passarei para o lado do meu amigo a fim de ficar de cara com o homem e não ser atraiçoado. Igualmente, quando de noite me retirar dalguma casa, darei, à saída da porta, uma pancada forte na soleira, sempre coberto com o meu pau para evitar alguma traição. Quando também de noite, for bater a qualquer casa, pegarei no meu chapéu e pô-lo-ei na ponta do meu pau; e, assim que se me abrir a porta, darei uma passada forte, e ao mesmo tempo meterei o pau adiante com o chapéu em cima; se casualmente vier alguma pancada, apanha-la-á o chapéu e não a minha cabeça.»

Mas nem só de cacetadas de «criar bicho» vivia o jogo do pau. Com o desboninar do tempo esta dança guerreira, que exige rapidez nos reflexos e manha, foi alastrando-se a outra regiões do País, sendo finalmente praticada como recreação e não por via de ataques ou desforras. Despontaram, então, mestres de renome, entre os quais se destacou o grande José Maria da Silveira (o saloio), menino de coro que mais tarde virou a mestre do próprio rei D. Carlos, um aficionado por esta arte, tal como o referiria O «Diário de Notícias» da época. E a própria capital foi pulverizada com os chamados «quintais», isto é, retiros desportivos onde se praticava o jogo do pau como forma de espectáculo. Ficaram famosos, até os «quintais» do Retiro da Pipa, da Travessa do Cômbro e os da Rua das Taipas Mais tarde, tiveram lugar os Saraus do Ginásio Clube Português, Lisboa. Ginásio Clube Eden Teatro e Ateneu Comercial, que tanto interesse despertaram na sociedade lisboeta da altura. Temos assim que esta forma de expressão artística genuinamente lusitana (Ramalho Ortigão foi também um esmerado praticante), conquistou a simpatia de muita gente que por diversas paragens do País vibrava com aquelas varas de 550 gramas e 1,52 metros feitas de marmeleiro, juncos, freixo ou lódão, de preferência. Era um «tau-tau» sonante, frenético, espectacular, belo enfim, constituído por saltos e piruetas, viracostas dobradas, singelos ou atravessados, pontuada, Sarilhos, guardas, pancadas, etc.

Aos praticantes, reivindicavam-se-lhes além do mais, muitas horas de treino, afoiteza e… virilidade.

Do uso e abuso a raridade de hoje

Com o perpassar normal das datas, a pouco e pouco o «tau-tau» característico deste jogo foi-se varrendo do humus nacional. Com ele, tende a desaparecer uma manifestação cultural de cunho violento que assenta sobretudo em golpes estudados e executados com uma curiosa beleza rítmica.

Num eirado da pacata freguesia de Abadim, António Portela e mais a sua escola tentam contrariar esta tendência, dividindo a sua vida entre o pau e a picareta. Ou seja: entre a pachorra de transmitir aquilo que sabe sobre esta arte e o amanho dos milheirais. São enfim bordoadas mestras dadas com gana e arreganho no esquecimento, ou a moçada destes lugarejos não se encontrasse apostada em vivificar uma arte que nos pertence, que não foi importada do Oriente para uma propaganda sensacionalista e deturpadora popularizar em troca de maquias chorudas. Não basta durante a semana medrarem empoleirados no dorso das serranias, como ainda nas horas vagas em ladeiras de suor se afoitam a praticar esta arte que, diante de nós, mestre Portela ensina á mistura com incita: «Pica!; Bate pequenino; Ah … home dum raio, arruma-lhe! Pica! Pica!» e a rapaziada folgazâ executa perante o olhar solene dos bois que moirejam próximo, o jogo ladeado, jogo da cruz, contra jogo, jogo de dois, jogo da cruz singela, jogo da cruz dobrada e jogo da feira.

De vez em quando, António Portela dirige-nos a palavra para recordar histórias do «arco-da-velha». Ah! naqueles tempos é que era, fossem lá dizer que não haviam pelas redondezas homens de rija tempera. Cuidassem isso, cuidassem isso e logo sentiriam no coiro a consequência de tão grave imprecaução. Isto nos segredou o nosso interlocutor que, de uma assentada, atirou:

— Tinha aí os meus dez anos quando fugia da beira do meu pai para, pela calada, ir aprender a jogar o pau. Depois, mais tarde, cheguei a travar muitos duelos, pois nesta zona toda a gente sabia manejar o pau e lutar com ele. Era cá um destes vícios de nos desafiar-nos uns aos outros, qu’eu sei lá! Agora, está bom de ver, as coisas mudaram. Mas é uma pena deixar morrer isto. Por essa razão, fundámos a Escola do Jogo do Pau de Abadim, filiada na Associação Portuguesa do Jogo do Pau. De qualquer das maneiras vamos tentar criar uma associação em Abadim, pois não temos local apropriado para jogar. Estou até a pensar em construir a sede deste organismo na adega de minha casa. No entanto, esta associação englobaria também teatro, futebol e musica popular, pois cá na terra não existe. Casa do Povo ou coisa com que a gente ao menos possa distrair-se um pouco. No grupo de entusiastas que oriento que vai dos 6 aos 18 anos, conto com pedreiros, guardadores de gado, carpinteiros e estudantes. Até queria ver se deixava um filho entregue a isto para que o jogo do pau não morra de vez.

Enquanto a conversa com mestre Portela prosseguia, num terreno emoldurado pelas latadas doiradas, um punhado de rapazes lutam com ardor, «para que esses senhores possam vêr como a coisa é». Os paus de lódão riscam os ares num zumbido impressionante para chocarem uns contra os outros, com toda a força que os combatentes conseguem desenvolver. Volvido algum tempo, aproveitámos um intervalo para meter cavaco com aqueles jovens de Abadim, de um Minho viçoso, pitoresco e fotogénico, onde as gentes foram forçadas a errar por franças e araganças para habitarem os «bidonvilles» sufocados pelas babéis de betão. Foi o êxodo – Contam-nos – o marchar por terras nunca dantes caminhadas, E os que ficaram? ao nosso lado, encontra-se o Luís Andrade Teixeira, de 17 anos, «guardador de vacas e de sonhos», É boieiro, e confessou-nos que o seu sonho era vir a ser arquitecto. Porquê jogo do pau?

— Bem, trata-se de uma arte portuguesa que gosto muito de praticar. Aos domingos, com os amigos, jogo ao futebol, á bisca na taberna, mas também pratico o jogo do pau, lá isso pratico. Sabem, ás vezes quando andamos assim alguns rapazes a pastar o gado nos montes juntamo-nos e então como passatempo combatemos. É porreiro.

Em amena conversa com outros jogadores ficou-nos igualmente a impressão de que pontifica entre eles a vontade firme de perpectuar o jogo do pau, Que sim senhor!, que isto é uma arte, que ainda por cima é portuguesa, etc, Foi então que dez réis de gente nos chamou a atenção: lutava com ardor, enfrentava com reviravoltas rápidas um magote de hipotéticos inimigos, numa dança simultaneamente graciosa e felina. — Sou o José Luís Teixeira e tenho 7 anos. O meu pai trabalha no campo e eu também. Nas horas vagas jogo aqui o pau com o senhor Portela. Porquê? Ora, atão porque gosto disto e além de tudo passeio de vez em quando de caminhete e como coizinhas boas; ai não… Quando for grande antes quero andar com os bois do que estudar», Caía o lusco-fusco quando saímos de Abadim, povoado minhoto onde «tudo é antigo, rudimentar, tradicional, aceite pelos seus naturais com aparente resignação». Na curva do caminho, ainda ouvimos o Mestre António Portela ordenar aos seus rapazes: «Podem picar»…

“Diário de Notícias” 31/12/1978

Polícia de Choque treina jogo do pau – 1986

policiadechoque

Como «actividade circum-escolar, na base do voluntariato», o Corpo de Intervenção da PSP está a aprender o jogo do pau, «a mais antiga luta tradicional portuguesa». Sob o olho atento do mestre Nuno Russo, do Ginásio Clube Português, 40 policias de choque alinham, duas vezes por semana, no ginásio daquela corporação e oferecem a quem assiste um exemplar espectáculo de paulada à lusitana.

Não é a primeira vez. Já o ano passado quatro dezenas de soldados do Corpo de Intervenção completaram com êxito um curso similar, salpicado a meio com uma demonstração formal que incluiu uma classe «concorrente» do Corpo de Fuzileiros. Nem a instrução da modalidade se limita a tropas especiais: a sua introdução na Academia Militar tem fervoroso adepto no 2.º comandante daquele estabelecimento, brigadeiro Figueira – conhecida figura da esgrima desportiva.

Ao contrário do que à primeira vista poderia parecer, a polícia de choque da PSP não se prepara para vir para a rua de paus na mão –  disse ao T&Q o Comandante do CI, tenente-coronel de Cavalaria Soares Monge. E explicou: «O Objectivo é, primordialmente, melhorar a preparação física e a destreza do pessoal. Ao mesmo tempo ajudamos a recuperar esta arte de luta tipicamente portuguesa».

Jorge Morais “Tal & Qual” 24 de Janeiro de 1986

 

“A Esgrima Nacional” -Zacharias d’Aça

Artigo de Zacharias d’Aça em “O Tiro Civil” ao longo de vários Números.

“Se o pau, nas mãos de um jogador forte e destro, é uma arma terrível no ataque e de grande resistência na defesa, encarado pelo lado artístico o seu jogo é duma rara elegância”