Cerco de « puxadores »

Ao meio de um cerco de «puxadores» de bordões em riste, andavam em guarda dois mocetões ágeis e pinchantes, costas-com-costas, mantendo à distância os atacantes com vertiginosos sarilhos de varapau, e parando e retorquindo com vivacidade as pancadas e pontuadas que os acometiam sem cessar. O entrechocar dos lódãos e marmeleiros produzia um bizarro som de matracas e castanholas. Eram dois contra duas dezenas de jogadores. Quando o circulo se apertava e os botes se multiplicavam, pesados, esmagadores, a rastear, a cingir, a deslombar e a descabeçar, os dois esgrimistas, incitando-se com um brado, avançavam simultaneamente sob o hemiciclo dos seus contrários com um sarilho largo, irresistível, em que as «rachas», vigorosas e flexíveis, zoavam e bufavam, varrendo assim amplamente o «seu terreiro», até que o contra ataque dos adversários o retomasse, apertando novamente o cerco. Neste fluxo e refluxo de pauladas iam aquecendo e azedando os ânimos, porque nem sempre a perícia na esgrima lograva evitar as fortes contusões que, através da gentileza das fintas e dos molinetes, iam assinalando o corpo dos jogadores. Então, perdida a serenidade pela dôr ou por despeito, o torneio derivava em rixa; verificava-se esta mutação até pelo tom raivoso e exaltado das chufas, dos gestos e das palavras…
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“Terra de Basto” – Daniel Salgado – 1933

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