A memória do jogo do pau de Júlio Alves Marinho (1/3)

Então chegamos a uma pessoa única e raríssima, e para meu conhecimento o homem mais grande (1,93m) e mais valente da freguesia de São Bartolomeu do Rego, no dia 21 de Agosto de 1953 por volta das 16:00 e antes de sair a procissão da nossa Senhora da Saúde, seu pai dirigiu-se para comprar uma vara de marmeleiro a um negociante de Borba da montanha. O Comprador disse ao negociante para lhe tirar meio tostão ao preço da vara, replica o vendedor como se o conhecia “parolo”. O filho estava ao lado do pai e disse ao vendedor: “você fale com mais respeito ao mesmo velho, pois se não, vai ser o diabo”. O negociante pegou numa vara e desafiou o rapaz, aí começaram a pancada. O rapaz combateu sozinho contra os homens que quiserem deita-lo ao chão. O barulho durou mais ou menos uma hora. Foi preciso a guarda a cavalo intervir para que o barulho acabasse. Metem-lo-no entre dois cavalos e disseram-lhe para ele parar. O rapaz respondeu-lhes: “paro mas os senhores não me batem pois senão fujo-lhes ao respeito”. A guarda acompanhou o pai e o filho até a saída da romaria e eles foram embora.

No mesmo ano, no dia 8 de Setembro, na Senhora do Viso o dito negociante, de Barba da Montanha voltou para vingar-se, mas ai, ele veio acompanhado dos seus amigos.

O meu pai conversava com o compadre encostado a um penedo a alguns metros, o Joaquim viu varas no ar e cântaros cheios de vinho à cabeça. Ele disse ao meu pai “deixa-me ir ver, que os de Borba querem brincadeira”, deu dois saltos, duas arrebitadelas ao chapéu, e as varas falaram com o mesmo sistema de jogo, entrou com jogo de varre quelhas contra jogo e as pancadas mortais. O pau não se via, só se via pessoas com a cabeça a deitar sangue, homens e mulheres deitados no chão. No fim o Joaquim Gonçalves disse: “Já não há mais?” O combate durou mais ou menos três quartos de hora e assim a festa terminou.

Estas duas cenas passaram-se na minha presença.

– Júlio Alves Marinho – ASS CUL PORTUGAISE 25/01/2001