personagens jogadores de varapau (3º)

No seguimento de um post anterior, ficam aqui mais alguns personagens jogadores de varapau, na literatura portuguesa:

O morgado das Perdizes
– Deixem se de contos – continuou o padre – eles fazem o que querem porque sabem que não há um homem de coragem que se ponha à frente do povo….

-Lá isso é que é verdade.

-Já não há homens para as ocasiões.

O morgado das Perdizes que tinha presunções de valente e gabava se de ter varrido feiras a varapau espinhou se com estas palavras e protestou dizendo: -Então julgam vocês que eu se me der para ai, não vou ao cemitério, eu só, e ponho tudo aquilo em cacos? hein?

“A morgadinha dos Canaviais” Julio Dinis – 1868


O Trinta
Em aparecendo o Trinta com o seu varapau de marmeleiro, os desordeiros, que sabiam a coragem e perícia com que ele o manejava, sossegavam ou fugiam.

“Outros tempos, ou Velharias de Coimbra 1850 a 1880” – Augusto d’Oliveira Cardoso Fonseca 1911


Manuel Gandra
Moço e robusto, airosamente aprumado, com o sangue a reçumar-lhe em cores nas faces, uma alegria vivida nos olhos garços, destro ao jogo do pau e languido á guitarra, impunha-se aos homens pela valentia e as mulheres adoravam-no pedindo-lhe tonadilhas e fados tristes.

“Rei negro : romance barbaro” – Henrique Coelho Neto – 1912


O sr. Gomes
Todos na Aldeia o estimavam, porque todos Ihe deviam favores, e além de o estimarem, respeitavam-no porque ele não era mole de queixos. Um ano, na feira de Castro, numa barraca de bacalhau frito, pegou-se de razoes com um valentão de Almodôvar, e como das palavras passassem aos atos, zurziu o homem e mais uns quatro fulanos que o acompanhavam, pondo-os em tal estado que nenhum pode sair dali pelo seu pé.

Era muito desembaraçado, e com um bom cacete nas unhas era homem para varrer uma feira. Felizmente que os homens como o sr. Gomes, valentes no mais rigoroso significado da palavra, nunca são desordeiros nem provocadores; aceitam as situações que Ihes criam; não voltam a cara ao perigo que os ameaça, e quando precisam afirmar os seus brios e pundonor fazem-no a dentro da justa medida, como que procurando que a legitima defesa não toque as raias da agressão desnecessária.

“Scenas da vida” Brito Camacho, 1900


D. Lopo
Segundo a religiosa praxe da época, aprendera D. Lopo na sua mocidade, a jogar o pau, no que fora sempre insigne, e até temido.

“Viver para sofrer. Estudos do coração.” José Barbosa e Silva – 1855


Joaquim do Adro e Manuel da Portela
Nascidos no mesmo ano, Joaquim, do Adro, e Manuel, da Portela, tinham crescido juntos, ligados sempre por, até então, jamais quebrantada amizade.(…) Mais tarde, no tempo das verduras de rapazes, bem precavido devia andar quem quisesse mal a qualquer delles, pois, quando apenas julgava encontrar um, achava com certeza dois marmeleiros,
que consideravam a solidariedade como ponto de religião, tanto no ataque como na defesa.

“Contos – A sentença da Tia Angélica” Pedro Ivo – 1896