Jogo do pau em Cabeceiras de Basto – 1975 – Mestre António Portela

Cabeceiras de Basto em 1975 – O Povo e a Música – RTP

Entrevistadora – Sr. Portela, o Sr. é um mestre do jogo do pau, eu queria que nos falasse um pouco da sua vida como jogador de pau e daquilo que poderão ainda fazer por aqueles que ainda não conhecem e poderão vir a conhecer e a conservar este jogo.

M. Portela – Eu comecei a jogar ao pau tinha 14 anos, depois fui passando, (..) ao meu pai, com o Calado com o Mendes. eu fugi ali e fomos jogar. Depois fomos para Braga. Aos 16 anos fui para a tropa, voluntário, e depois, também tinha lá o jogo do pau e eu ia sempre assistir ao jogo do pau deles, depois vim de lá e continuei a jogar, Corri tudo por ai a baixo, fui a Lisboa uma 3 vezes, joguei no Ateneu Comercial, joguei no Barreiro, e tenho um livro onde veio a minha figura e gostei muito. Os rapazes do Barreiro e do Ateneu Comercial vieram cá e eu não aceitei o convite que me fizeram, porque as consequências da vida não o permitiram. Eu continuo sempre a ser um adepto do jogo do pau, e estou velho, mas sempre pronto para aquilo que se puder fazer sobre o jogo do pau.

Entrevistadora – Portanto poderá ensinar aos novos o jogo do pau.

M. Portela – Ensino aquilo que tiver nas minhas possibilidades, estou sempre pronto e com riscos até da minha vida da saúde e de tudo, continuo e gosto disto!

Jogo do Pau do Espinheiro

Resiste na extinta freguesia do Espinheiro, concelho de Alcanena, uma arte marcial de cariz popular chamada Jogo do Pau. Segundo os seus praticantes, o Espinheiro é a única localidade do Médio de Tejo, e em geral da região centro, onde ainda se mantém esta modalidade. Nascida na charneca, nos tempos em que os jovens se entretinham com pequenas disputas para passar o tempo. A arte do Jogo do Pau tem sido preservada pela Casa do Povo do Espinheiro, com cerca de uma dúzia de praticantes, e pretende agora abrir em setembro uma escola, por forma a passar esta tradição aos mais novos.

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=04VdyhvIopg?feature=oembed&w=500&h=281]

O Jedi de Fafe!

“O meu sabre de luz é um pau… de marmeleiro”.
O Jedi de Fafe, na Mixórdia de temáticas de Ricardo Araújo Pereira.

“Como fã da guerra das estrelas, considero este o melhor texto sobre a guerra das estrelas“ – Nuno Markl

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=ukTeaIHe1kQ?feature=oembed&w=500&h=281]

Uma demonstração técnica de jogo do pau.
Nesta demonstração, além de demonstrar o jogo do pau em combate livre como ele é praticado tradicionalmente, há também uma preocupação em demonstrar as técnicas individualmente, para dar uma ideia ao público da complexidade da arte, e da forma como, em jogo livre, cada pancada e contra ataque é estudado.

Neste vídeo temos 3 fases da demonstração:

  • Na primeira fase temos a demonstração da pancada com o seu alcance, seguido da pancada e contra ataque;
  • Na segunda fase (aos 3m35s) temos uma demonstração de jogo livre, mas em forma extremamente lenta e com as pancadas a serem paradas;
  • Na terceira fase (aos 4m20s) inicia-se o jogo livre.

Ficam neste 3 últimos posts referidos 3 diferentes formatos de apresentação do jogo do pau, sendo que apesar de terem públicos ou objetivos ligeiramente diferentes, os 3 apresentam jogo livre.

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=6Cghnc7gfLg?feature=oembed&w=500&h=374]

­Demonstração tradicional de jogo livre.
Numa demonstração tradicional, não há a preocupação de recriar um momento histórico (a não ser talvez pela utilização de roupa mais tradicional), há apenas a intenção de demonstrar a arte de combate como ela é praticada tradicionalmente.

Como as armas utilizadas são reais, de madeira sólida, e as pancadas são, como podemos ver no vídeo, bastante fortes e que claramente causariam graves danos caso caíssem no corpo de algum dos jogadores, como pode funcionar então esta demonstração de outra forma que não seja de uma coreografia bastante bem ensaiada para não haverem acidentes?

Ora se fosse uma coreográfica, com os movimentos pré definidos e ensaiados, poderiam até estar a ser utilizadas as técnicas do jogo do pau tradicional, mas não ser jogo livre. O que faz com que seja jogo livre, e jogo do pau como é praticado tradicionalmente, é o facto de que os movimentos não são planeados, as pancadas são fortes e certeiras, para bater e não para o ar.

Mas se assim é, como é possível os praticantes, na demonstração, não se magoarem gravemente na maior parte das demonstrações?

É possível, porque, apesar de as pancadas não serem controladas, serem feitas para bater e direcionadas para o corpo, não se trata de um combate real, em que os nervos estão ao rubro, mas sim de um treino/demonstração, em que os jogadores testam as suas capacidades. Este treino apresenta alguns riscos, sem duvida, pois se falha uma defesa ou há uma medição errada de distâncias, uma pancada pode cair num jogador. Pois mesmo que o atacante se aperceba da falha do jogador que defende, um ataque é muito dificilmente parado, especialmente se já for na sua fase final.

Mas então não há tentativa de enganar o adversário como num combate real? As pancadas são todas óbvias e claras? é que neste vídeo os jogadores parecem estar-se a medir um ao outro, e por vezes parece que estão se a estudar, a ver quem ataca primeiro e se se conseguem enganar um ao outro, isso é teatro?

Não é teatro, é até possível fazer alguns enganos e fintas. Temos que ter em consideração que os jogadores se conhecem e sabem a capacidade uns dos outros, se fosse um mestre contra um iniciado, o mestre poderia bater no iniciado na primeira pancada, mas num treino não o faz, ataca mais devagar, de forma a que seja possível ao iniciado defender, aprender e ir melhorando,  com ataques sinceros e claros para não haver acidentes. No entanto, conforme a mestria dos jogadores vai subindo, num combate entre praticantes de alto nível, não aumenta só a velocidade das pancadas, mas também passam a ser possíveis mais fintas e enganos, e uma tensão e intensidade superior, mais características de um combate real. O risco aumenta, mas como os jogadores se conhecem e tem confiança nas suas capacidades, este tipo de treino e demonstração, é possível de ser feito em relativa segurança, não sendo combate real, já se aproxima mais um pouco. Sendo que a certa altura, com jogadores de alto nível a diferença está em levarem as suas capacidades ao extremo, para, em combate real, realmente baterem no adversário.

Uma demonstração entre iniciados, será bastante mais aborrecida, lenta e previsível do que uma entre mestres ou praticantes de alto nível, por isso temos várias descrições de demonstrações em que certos indivíduos eram aplaudidos de pé pelo seu bravo combate, mesmo sem nenhum dos dois ter levado alguma pancada, o elevado nível de ambos os jogadores é óbvio na sua demonstração, mesmo para espetadores não praticantes.

Mas nas demonstrações de jogo do pau, os jogadores ficam a distribuir pancadas durante muito tempo, mais de 10 defesas e contra ataques por vezes, quase parece como num filme, um combate real não seria provavelmente vais rápido, uma ou duas pancadas e um dos lutadores estaria no chão?

Um combate real poderia sim acabar muito rapidamente, até logo na primeira pancada, no entanto, nestas demonstrações como já referi, a intensidade é reduzida, a um ponto em que ambos os jogadores possam treinar em segurança, em que sintam confiança nas suas defesas, por isso pode haver mais trocas de pancadas.

Mas se o jogo do pau é tão eficaz, não deveria haver um golpe que acabasse com o combate?

Não existem golpes infalíveis, pois todos os ataques tem uma defesa, um jogador vence quando encontra um desequilibro no adversário, ou por ter uma técnica superior, ou seja, mais bem treinada, ou simplesmente o adversário cometa um erro. Mas se ambos não cometerem erros e combaterem de forma ideal, nenhum será atingido. Porém, ninguém é perfeito, pelo quem, no calor do combate, a uma velocidade limite, todos podem errar, e só com treino se pode consolidar a técnica para que tal aconteça menos vezes, e se conseguir até criar aberturas e oportunidades de atacar o adversário.

Uma coisa que parece é que as pancadas não são realmente para bater no corpo, pois os jogadores estão muito longe um do outro, não é isso também que permite este treino em segurança?

A estas duas questões, “As pancadas são para o corpo?” e “A distância permite segurança?” a resposta é sim, mas vamos ver mais de perto o que quero dizer com isto. Embora por vezes pareça que as pancadas não chegariam ao outro jogador, a verdade é que há sempre deslocamento, por isso, quando o individuo que ataca avança, o que defende recua, e está sempre presente a gestão da distância pelas duas partes, não estando nunca os dois parados, a uma distancia segura a bater apenas com os paus no ar. Este recuar permite manter a distancia e, respondendo à segunda questão, manter-se seguro. Porém, este distanciamento, não é combater atirando ataques para o ar for a do alcance, o que estaria errado, mas sim, atacando para o corpo, sendo da iniciativa de quem está a ser atacado, de recuar e manter a distância, isto faz parte da defesa, sendo o ataque para o corpo, meramente recuar, é uma defesa eficaz, mesmo que não haja embate de varas.
Nas palavras de Frederico Hopffer:
“Dar todo o comprimento às pancadas é indispensável a fim de  que o discípulo não fique iludido, o que pouca  importância teria quando joga com o mestre, porque esse encurta, desvia, retarda, etc., as pancadas, mas quando jogar com qualquer condiscípulo ou adversário, não lhe será  fácil encontrar  quem lhe faça o mesmo.” – Frederico Hopffer, “Duas palavras sobre o jogo do pau” 1924

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=y7e_R4qNU3M?feature=oembed&w=500&h=281]

O grupo de Jogo do Pau da Guarda tem feito um excelente trabalho de recriação histórica tendo como base o jogo do pau. Aplicando as técnicas desta arte de combate, e criando um ambiente histórico, que não é no entanto meramente teatral. Pois em vez de criar coreografias modernas na tentativa de recrear o antigo, conseguem antes, aplicar técnicas antigas e preservadas na nossa tradição, não como uma dança mas como forma de combate e assim dar uma autenticidade e vivacidade ao espetáculo, que não teria de outra forma.

Jogo do pau Group from Guarda using Jogo do pau for Historical reenactment.