O RAPAZ E OS LOBOS

Conta a lenda, que um rapaz namorava uma rapariga e que uma noite resolveu ir vê-la às escondidas dos pais. Para isso colocou debaixo dos cobertores várias almofadas dando a impressão de lá estar. A mãe do rapaz acordou sobressaltada com a sensação de que o filho não estava em casa. Levantou-se, foi ao quarto dele e vendo o vulto voltou para a cama. Mas continuava inquieta. Levantou-se novamente dirigiu-se à cama do filho, destapou as almofadas e viu que este não estava lá. Imediatamente ela, o marido e mais algumas pessoas se puseram à procura dele.Foram encontrá-lo no meio do mato com um pau na mão rodeado de lobos. Quando o viram, gritaram:

Descansa que já aqui há quem te valha. O rapaz distraiu-se e imediatamente e os lobos aproveitaram essa distracção para se deitarem a ele e o desfazerem. *1

Esta lenda, de final trágico, é no entanto uma excelente analogia ao chamado “jogo do norte”, a antiga prática portuguesa de defesa em inferioridade numérica. Desde a referência à total atenção requerida numa situação tão perigosa como esta, aos lobos, que estando habituados a movimentar-se de forma a cercar as suas presas, trabalham em equipa, pondo o individuo na posição caracteristica que a tradição e história portuguesa retrata estas situações de combate, em que me posso “encontrar cercado de inimigos”*2 ou “cercado numa praça campo ou rua”*3 ou obrigado a “brigar com gente por detraz e por diante”*4.

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1-Recolha efectuada em Sobral do Campo, concelho de Castelo Branco
CONTOS MITOS E LENDAS DA BEIRA – José Carlos Duarte Moura
2- “A Arte do Jogo do Pau” – Joaquim António Ferreira (1886)
3- “Do Arte de Esgrima” – Domingo Luis Godinho (1599)
4- “Memorial Da Prattica do Montante” Mestre de Campo Diogo Gomes de Figueyredo (1651)

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