A espada a duas mãos – A forma como é utilizada atualmente, com uma guarda com um comprimento de quatro mãos ou mais, é mais adequada, não tanto ao combate um contra um, mas, pela sua habilidade, como um galeão cercado de galés, por si só, a opor-se a várias outras espadas ou diferentes armas. (…) é comum o seu uso em cidades, de dia ou de noite, sempre que um possa ser atacado por vários. Devido ao seu peso, que requer grande força, é utilizada pelos mais fortes de braço e de coração. Estes homens, vendo-se a ter que defrontar vários outros, por segurança e para aterrorizarem os seus adversários com a fúria da sua arma, fazem ataques com longos cortes, trazendo a espada a fazer um circulo completo, ora colocando o peso sobre um pé ora sobre outro, sem se preocuparem de todo em fazer pontuadas, pois segundo a sua opinião, os ataques de ponta apenas afetam um único homem, enquanto um corte, consegue lidar com vários.

Giocomo DiGrassi 1570 (via thescholarsruminations)

Do valor Militar

João de Carvalho, em tempo delRey D. João III, vendo perdida a Praça se pôs só com um montante nas mãos a defender aos mouros a entrada em uma torre; e investindo-o muitos, matou trinta ele só, e os outros vendo-o rodeado de mortos, se desviavam de medo, até que unidos mais, o jarretarão. Pôs ele animosamente os joelhos em terra, e assim pelejava de modo, que os apartava a todos, até que todos de longe lhe arrojarão tantos dardos, que morreu com admiração universal de valor tão grande.

Mereceu eterna memória na lira do Virgilio português em umas estâncias, que restaurou seu grande Comentador Manuel de Faria, e as refere sobre a est. 72 o canto 10 da Lusiada pag. 419. e nos Comentos da Egloga I. est. 7. pag. 167.

Vês o grande Carvalho ali cercado
De inimigos, como touro em duro corro:
De trinta Mouros mortos rodeado,
Revolvendo o montante, diz: «Pois morro,
Celebrem mortos minha morte escura,
E façam-me de mortos sepultura.
Ambas pernas quebradas, que passando
Hum tiro, espedaçado lhas havia.
Dos joelhos, e braços se ajudando,
Com nunca visto esforço e valentia:
Em torno pelo campo retirando,
Vai a Agarena, dura companhia,
Que com dardos e setas, que tiravam,
De longe dar-lhe a morte procuravam. 

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“Mappa de Portugal Antigo e Moderno” – João Bautista de Castro – (1763)
Luís de Camões – (1524 -1580)