António de Sousa e José Pereira do Tanque – Alunos de mestre Calado – 1985

Parte do trabalho de investigação técnico e histórico do jogo do pau liderado pelo mestre Nuno Russo, nos anos 80, com objetivo de encontrar os mestres mais antigos do país, levou na pegada dos mestres Calado, pai e filho que ensinaram em várias regiões desde os inícios do século XX, como mestres ambulantes.
Infelizmente pouco se sabe sobre os mestres Calado, com quem aprenderam etc…, mas sabemos que ensinavam por várias zonas do país e que na altura desta investigação, eram tidos com grande respeito por grande parte dos jogadores de pau e conhecidos como os mestres mais antigos, conhecidos, em várias regiões.

Nas imagens, temos José Pereira do Tanque (José Batoque) e António de Sousa, ambos alunos do mestre Calado (Pai) a executar e ensinar o jogo do pau, como aprenderam com este mestre.

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Ao centro: António de Sousa, à direita: José Pereira do Tanque (José Batoque), Ambos alunos do mestre Calado (Pai) executando o jogo de 2 em frente.

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Executando o primeiro exercício ensinado pelo mestre Calado antes de começar o ensino do jogo do pau propriamente dito (Esquadria em mão)


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Nuno Russo e o senhor João Vieira Antunes à porta do cemitério onde no recinto exterior os mestres Calados davam as aulas de jogo do pau.

Vieira do Minho – Terra de origem dos mestres Calado (Pai e filho) “Os pretos”

Fotos tiradas em setembro de 1985 por Henrique Andrade

Francisco Padinha

francisco padinhaFrancisco Padinha era um gigante de bigode fininho, bem cuidado e com uma volta nas pontas. Tinha começado na luta greco-romana e evoluído para o levantamento de pesos. Natural de Olhão, Padinha pesava mais de 115 quilos, mas era capaz de levantar muito mais do que isso acima da cabeça. Desafiado num treino, sem preparação, levantou 128 quilos.

No início de 1914, ficou a saber-se pelos jornais que Padinha, sem rival em Portugal no que dizia respeito à força, tinha encontrado uma nova paixão, o jogo do pau. Há vários meses que treinava com um dos melhores professores do país, Artur dos Santos. E o mestre não lhe poupava elogios — Padinha, dizia, era rápido, elegante e com a souplese de um rapaz de 60 quilos.


“1914: Portugal no ano da Grande Guerra” – Ricardo Marques, 2014.

http://www.forumscp.com/wiki/index.php?title=Francisco_Padinha

José Hermano Saraiva – Justiça de Fafe

JoséHermanoSaraiva

LINK: A Justiça de Fafe aos 24:10

A justiça de Fafe explicada por José Hermano Saraiva – 2002

José Hermano Saraiva, analisa a estátua da Justiça de Fafe, e descreve o que para ele é um erro naquela escultura, que representa um paisano a atacar um homem bem vestido, simbolizando um trabalhador a bater no patrão, e explica que a justiça de Fafe nada tem a ver com isso, mas sim e na minha opinião também, com o facto de naquela região, o policiamento só ter chegado muito tarde, e a justiça de Fafe era na verdade, a justiça particular, que os indivíduos tinham que fazer pelas próprias mãos.

Manuel Fradinho

Para marcar a disponibilização dos arquivos da RTP deixo aqui o programa “Um Dia Com… Manuel Fradinho”

O Dr. Manuel Fradinho como podemos ver, era jogador de pau, e escreveu um artigo sobre a arte intitulado “Reflexões sobre o jogo do pau – Contributo para a sua análise”.

Um Dia Com… Manuel Fradinho


No link acima podemos ver Manuel Fradinho no programa de 1973, a jogar aos 1:30 e em várias ocasiões ao longo do vídeo.

Grande desordem no Cartaxo – 1899

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No Cartaxo, houve anteontem, dia em que se realizou ali a procissão dos Passos, grande desordem, entre os habitantes de Pontevel e a de Vale de Ponta, que armados de grossos varapaus se agrediram valentemente, sendo precisa a rápida intervenção da autoridade.

Houve cabeças partidas, grande balburdia, e fizeram-se várias prisões.

Esperam-se novos motins.

Mercado semanal de Barcelos

Como registo do gradual desaparecimento do varapau nas feiras, fica aqui uma nota já do início do século XX, bem no norte, onde a bengala já em grande parte substituía o varapau.


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Vendedeira de pão de Brôa
A influencia do meio citadino vai desalojando por muitas aldeias os costumes. A facilidade de comunicações veio a integrar a corrupção no trajo hodierno.
O varapau, a arma com que os enamorados se batiam pela sua bela, tende a desaparecer. Cede, por sua vez, o lugar à bengala tosca, grosseirona.

“Ilustração Portuguesa” nº263, 1911

O Bate Casacas

emA nota elegre dos tribunaes” – Alfredo Pinto, 1892:

Apresenta-se para depor como testemunha um homem de meia idade, alto, reforçado, tipo de lavrador, a quem o meirinho interpelou sob o nome de Bate casacas.

Juiz. — «Diga-me o seu nome. Da alcunha não quero saber.»

Ele. — «Mas quero eu, que a herdei de meu sogro e respeito-o muito.»

Juiz — com verdadeira curiosidade : — «Desejava bem que me explicasse a razão disso.»

Ele. — «E’ bem simples: meu sogro, que gozava no sitio boa fama como honrado e valente, disse-me à hora da morte : Rapaz, conserva a nome de guerra por que todos sempre me conheceram, que te hás de dar bem. — Ganhei-o na festa da Senhora Santana, onde eu, com o meu varapau, corri mais duma dúzia de casacas que contenderam com minha mulher, com aquela santa que já lá está na terra da verdade! Usa, pois, do nome, do cajado que ainda conservo, e… bate casacas sempre que for preciso.

«E aqui está, sr. juiz, porque eu conservo essa alcunha e estou sempre disposto a manter-la e respeitar-la.»

Juiz. — «E conte comigo para fazer justiça ao seu nobre procedimento, com tanto que nunca se exceda.»

 

Uma espécie de jogo do pau

Como curiosidade, antigamente, numa altura em que em Portugal se conhecia melhor a cultura portuguesa do que a estrangeira, explicavam-se as artes marciais orientais, referindo-se às nossas, para o publico ter uma ideia do que se tratava. Hoje em dia é ao contrário, para se explicar o que é o jogo do pau num artigo para o publico em geral, tem sempre que se aludir a artes marciais oriundas do outro lado do mundo para o publico perceber que não se trata de um jogo ou dança. Para explicar o que é nosso, temos que dar a volta ao mundo, quando deveria bastar olhar para o lado.

“Os marinheiros japoneses não respiravam no decurso da lição de gymnastica, muitos apresentavam o lypo abdominal e comprimiam o ventre com um cinto de lona, (relatório do dr. Tissié). São o jiu jitsu e o smó os exercícios mais apreciados por aquele povo oriental, e ensinados aos estudantes, exercito, marinha e policia especialmente o 1.°, sendo também praticado o Kan jitsu, especie de jogo de pau que vem dos tempos antigos.”
Diário Ilustrado – 1910

Nota Histórica – Jogo do pau no Ginásio Clube Figueirense no início do séc. XX

Jogo de pau no Ginásio Clube Figueirense
Jornal comemorativo do cinquentenário do Clube (Gimnasio Club Figueirense) – 1945

Do lawn tennis e do criquet não encontramos vestígios da sua prática no Ginásio, no que aos outros jogos diz respeito, apenas encontramos referências à prática da patinagem aquando dos saraus ginásticos e do jogo do pau. Este último, no dizer de J. Andrade, divulgou-se no clube por volta de 1906-1907, tendo como instrutor Albano Cabral de Moura. Contudo, os vestígios desta modalidade, ligada aos jogos tradicionais  portugueses, são bastante pobres. Os únicos factos dignos de nota, segundo o autor acima citado, eram as aulas “que ficaram na recordação dos seus alunos, pelo arrojo e violências empregues […], podendo mesmo, alguns, classificar-se de casos sérios”.

 


Manuel Cid – Distinto mestre de armas e jogador de pau

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Manuel Cid – Distinto mestre de armas e jogador de pau. Falecido em Lisboa a 16 de junho de 1902

Manuel Cid, além do seu conhecido trabalho como mestre de armas, ensinava também a esgrima de pau, chegando a realizar assaltos de pau em conjunto com os das outras armas da esgrima em demonstrações publicas, inclusive no estrangeiro. Foi também professor de jogo do pau de Isidoro Correia Gomes, segundo mestre do Ateneu Comercial de Lisboa.


  1. “O Tiro Civil” nº 238 – 1902
  2. “Diário Ilustrado” – 2 de Maio de 1891
  3. “Jogo do pau (Esgrima Nacional)” – António Nunes Caçador, 1963
  4. “Diário Ilustrado” – 29 de Novembro de 1891
    Academia de estudos Livres – todas as segundas quartas e sextas feiras o sr. M. Cid ensina a esgrima do florete, sabre e pau, na academia d’armas.”
  5. “Diário Ilustrado” – 2 de Maio de 1889
    Manuel Cid chegou do estrangeiro, o estimado professor d’armas dos corpos de guarnição de Lisboa (…) O sr. Cid foi a França, por convite particular, assistir a um congresso de esgrimistas. O sr. Manuel Cid viu o que havia de melhor nas escolas francezas de esgrima, civis e militares, tendo occasião de se fazer applaudir nos seus exercicios de sabre, florete, e pau. O Journal da “l’Academie d’Armes” registou os méritos do sr. Cid.
  6. “L’Escrime Française” – 12 Juilliet 1902
    Nous apprenons la mort du maître d’arme portugais Manuel Cid(…) Il etait haut, 1m. 87, brun, grande chevelure et barbiche noire. Bâti en athlète, possédant une force bien travaillée. Très connu ici et très estimé. Chasseur enragé, il était aussi professeur de bâton qu’il maniait avec une vraie connaissance et une supériorité écrasante.

EN: Fencing master Manuel Cid, died in 1902, he used to teach fencing classes alongside jogo do pau, in the “Academia de Estudos Livres” he taught foil, saber and staff fencing, and did public exhibitions of fencing including assaults of jogo do pau, including one in France in 1889.

II Torneio Regional da Zona Sul -Jogo do pau Português – 1987

D. Manuel de Bragança e Vasco Infante da Camara

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Vasco Infante da Câmara 7 anos antes.

Perante uma selecta assistência, os dois jovens príncipes da casa de Bragança, D. Luís e D. Manuel, presidente de ministros, ministro dos Estrangeiros, ministro da América, ministro de Espanha, bispo, conde de Coimbra, marquês de Soveral, conde de Sabrosa, governador civil de Lisboa, Jayme Arthur da Costa Pinto, etc., etc., desenvolveram os 500 alunos desta escola (Escola Académica) diversos exercícios de educação física, em cujas evoluções se distinguiram agradando por completo, principalmente no ultimo número – Jogo do pau –  em que os alunos D. Manuel de Bragança (Lafões) e Vasco Infante da Câmara filho do nosso particular amigo Nuno Infante da Câmara, se mostraram duma perícia e destreza dignas do maior elogio, o primeiro nos ataques, violento, mas correcto, o segundo nos ataques e defesas em que se mostrou inexcedível.
“Tiro e Sport” 31 de Maio de 1907