Manuel Cid – Distinto mestre de armas e jogador de pau

manuelcid
Manuel Cid – Distinto mestre de armas e jogador de pau. Falecido em Lisboa a 16 de junho de 1902

Manuel Cid, além do seu conhecido trabalho como mestre de armas, ensinava também a esgrima de pau, chegando a realizar assaltos de pau em conjunto com os das outras armas da esgrima em demonstrações publicas, inclusive no estrangeiro. Foi também professor de jogo do pau de Isidoro Correia Gomes, segundo mestre do Ateneu Comercial de Lisboa.


  1. “O Tiro Civil” nº 238 – 1902
  2. “Diário Ilustrado” – 2 de Maio de 1891
  3. “Jogo do pau (Esgrima Nacional)” – António Nunes Caçador, 1963
  4. “Diário Ilustrado” – 29 de Novembro de 1891
    Academia de estudos Livres – todas as segundas quartas e sextas feiras o sr. M. Cid ensina a esgrima do florete, sabre e pau, na academia d’armas.”
  5. “Diário Ilustrado” – 2 de Maio de 1889
    Manuel Cid chegou do estrangeiro, o estimado professor d’armas dos corpos de guarnição de Lisboa (…) O sr. Cid foi a França, por convite particular, assistir a um congresso de esgrimistas. O sr. Manuel Cid viu o que havia de melhor nas escolas francezas de esgrima, civis e militares, tendo occasião de se fazer applaudir nos seus exercicios de sabre, florete, e pau. O Journal da “l’Academie d’Armes” registou os méritos do sr. Cid.
  6. “L’Escrime Française” – 12 Juilliet 1902
    Nous apprenons la mort du maître d’arme portugais Manuel Cid(…) Il etait haut, 1m. 87, brun, grande chevelure et barbiche noire. Bâti en athlète, possédant une force bien travaillée. Très connu ici et très estimé. Chasseur enragé, il était aussi professeur de bâton qu’il maniait avec une vraie connaissance et une supériorité écrasante.

EN: Fencing master Manuel Cid, died in 1902, he used to teach fencing classes alongside jogo do pau, in the “Academia de Estudos Livres” he taught foil, saber and staff fencing, and did public exhibitions of fencing including assaults of jogo do pau, including one in France in 1889.

O Jogo do Pau – Desportos Revista – 1983 (1/4)

2

Nuno Russo

Um pouco de história

O Jogo do Pau português também conhecido por «ESGRIMA NACIONAL», é uma arte de luta tipicamente portuguesa em que a arma é um simples pau direito e liso, aproximadamente da altura de um homem, e manejado adequadamente por cada um dos contendores, que com ele procuram, por um lado, atingir o ou os adversários e por outro defender-se dos golpes por estes desferidos.

Esta arte de luta, cuja origem remonta aos primórdios da nossa nacionalidade, teve o seu berço no norte de Portugal, mais concretamente no Minho,onde começou por ser uma técnica de defesa e ataque, própria das gentes e da cultura campesinas. Daí se expandiu para Trás-os-Montes e mais tarde para o Sul, onde também se veio a fixar, principalmente na Estremadura e Ribatejo.

Nestas regiões rurais o pau,varapau ou cajado, fazia (e por vezes ainda faz) parte da indumentária normal do homem do campo, associado essencial-mente às suas deslocações a pé ou a cavalo como companheiro e apoio, e sobretudo como arma elementar para se defender de eventuais agressões de outros homens ou animais. Com ele se resolviam todos os problemas diários que provinham sobretudo de rivalidades entre aldeias, de namoros, desvios de aguas de irrigação, etc. Raras eram as vezes ( sobretudo no norte do País ) que as feiras ou romarias não terminassem com paulada entre moços de freguesias diferentes ou pior ainda se envolvessem em desavenças aldeias inteiras,que se defrontavam em combates sangrentos e até mortais.

Este facto de o povo saber manejar o pau foi uma riqueza que serviu a nossa História não só em lutas internas – na revolta da Maria da Fonte, nas lutas entre liberais e absolutistas – mas também em defesa contra o invasor como aconteceu quando as tropas francesas pretenderam invadir Portugal entrando pelo Minho.

Só no final do século passado o Jogo do Pau se implantou em Lisboa. Aqui, sob condicionalismos muito diferentes dos da província, o «espírito» deste nosso Jogo altera-se. Liberto que está dos imperativos de luta que o acompanhavam nas origens em época e região, vemo-lo agora virado para o aspecto desportivo e ser praticado em Salões e Ginásios. Destes, o primeiro a introduzir a prática do Jogo do Pau como desporto foi o Real Ginásio, hoje Ginásio Clube Português. Esta transformação do Jogo do Pau bélico em Jogo Desportivo iniciada na capital, estendeu-se com o tempo a todas as escolas do norte e sul do Pais.

Mas apesar desta transformação bem como das pequenas diferenças técnicas existentes entre as várias escolas, o Jogo do Pau português continua a manter intacta toda a pureza da sua prática original.

Continuação >>

II Torneio Regional da Zona Sul -Jogo do pau Português – 1987

D. Manuel de Bragança e Vasco Infante da Camara

tumblr_mel16537up1r1sx3h
Vasco Infante da Câmara 7 anos antes.

Perante uma selecta assistência, os dois jovens príncipes da casa de Bragança, D. Luís e D. Manuel, presidente de ministros, ministro dos Estrangeiros, ministro da América, ministro de Espanha, bispo, conde de Coimbra, marquês de Soveral, conde de Sabrosa, governador civil de Lisboa, Jayme Arthur da Costa Pinto, etc., etc., desenvolveram os 500 alunos desta escola (Escola Académica) diversos exercícios de educação física, em cujas evoluções se distinguiram agradando por completo, principalmente no ultimo número – Jogo do pau –  em que os alunos D. Manuel de Bragança (Lafões) e Vasco Infante da Câmara filho do nosso particular amigo Nuno Infante da Câmara, se mostraram duma perícia e destreza dignas do maior elogio, o primeiro nos ataques, violento, mas correcto, o segundo nos ataques e defesas em que se mostrou inexcedível.
“Tiro e Sport” 31 de Maio de 1907

 

FREE E-book – Lucky friday the 13th !

É na minha opinião o melhor livro de jogo do pau de sempre, e uma analise profunda da tática da nossa arte, aplicável de uma forma generalizável a várias armas e contextos.
Totalmente gratuito, mas apenas nos próximos 4 dias, aproveitem esta oportunidade única!

CoachingCombatTactics
Over the next 4 days (13th – 16th May),the book Coaching combat tactics: Counter attack selection is available for FREE in its digital format (on amazon)

Please share this message if you have friends interested in martial arts and their teaching.

Best wishes,
LP

About the book:

The goal of this book is to simplify the training of all fencing (weapon) arts, tackling both the subject of contents (What to teach) and pedagogy (How to teach).

This is sought by sharing concepts, games & drills that easily teach how to choose one’s counter according to:

1. Number of opponents

2. Traits of weapons:
a) Bladed /blunt
b) With and without hand guard
c) Single or double handed

3. Having greater, lesser or the same reach

4. Type of parry performed

5. Quality of footwork

About the Author –A brief presentation of Coach Luis Preto:

  1. Instructor of stick combat (Jogo do Pau), Karate & Wrestling
  2. Undergrad in physical education
  3. Two masters in sport sciences
    a) Sport teaching strategies (ULHT/Lisbon)
    b) Coaching (UBC/Vancouver)
  4. Certified by the International Sport Sciences Association as a:
    a) Fitness trainer
    b) Youth training specialist
    c) Endurance training specialist

Link: https://www.amazon.com/Coaching-combat-tactics-Counter-selection-ebook/dp/B017J19MNI?ie=UTF8

Arthur dos Santos no El Heraldo Deportivo

Artigo espanhol sobre Artur dos Santos em que se destaca as suas qualidades de grande professor de ginástica e de esgrima de pau.

arturDosSantosEspanha2

“La verdadera especialidad de Arthur dos Santos es la esgrima do pau, desporte genuinamente português, que el ha dignificado, codificándolo, quitándole toda apariencia de jayania.

Maestro consumado en este deporte, ha alcanzado senaladísimos triunfos, creando escuela propria y sacando uma pléyada de alumnos que sabem homrar al profesor y aseguran, con su actuación brillantíssima, el éxito de este desporte tantas veces como se presentan em público.”

El Heraldo Deportivo (Madrid). 25 Setembro 1917.

A lei do pau

A lei do pau.

Notícias Magazine, 21 novembro 1993

É preciso ir à aldeia de Bucos para conhecer um tipo especialíssimo de jogo popular – o jogo do pau. Esgrima característica portuguesa de índole tradicional, que subsiste até aos dias de hoje, é pois, por assim dizer, a contribuição espontânea e original das terras e dos homens de Basto. Sobre eles pesa toda a ancestralidade do mote: Para cá do Marão, mandam os que cá estão!… A lei do pau: o caceteiro sem par… E como pode este jogo ser simples ou nítido ou folclórico ou pitoresto? Insólito, traz-nos ao conhecimento uma cultura e um património de usos e tradições milenares.

Cabeceiras de Basto – A aldeia de Bucos à cabeça –  reflecte, com raivosa persistência, o vigor combativo das suas gentes. Ela é bem a expressão dessa resistência, muitas vezes bem amarga, à decomposição da vida típica e originária. Enterrada entre penedias, guardada por tantos fantasmas, quem terá coragem da suspeitosa reserva face a toda esta paz aldeã?

A serra da Cabreira é perto e é inconfundível. Há pasto e ninguém lá vai, E a aldeia se despovoa. Mas o passado arcaico deixou ali tanto simbolismo perdido, tanta nostalgia, tanta alma penada, que até mesmo a sua autenticidade nos parece amargamente suspeita sempre. Mas exactamente por isso é que o povo, cansado de tantas coisas más, resolveu dar «corpo à própria ideia» de um colectivo – para comunicar-se e agir em comum. E vai de inventar a Associação Desportiva e Cultural de S. João Basptista de bucos, que continua primando pelo jogo do pau.

Seja como for, o certo é que, em Bucos, o jogo do pau, que ainda não está divulgado em escala massiva, assume uma importância de vulto. Permanece uma herética, gigantesca técnica de luta, em que a arma é um simples pau de lódão veguio, direito e liso, da altura aproximada de um homem. E aqui são meia dúzia de adeptos que não encheriam mais que um autocarro. (E dizemo-lo fundados apenas na experiência recente, nomeadamente na dos grupos afins da Guarda, Espinheiro ou Cepães, o de Bucos, inescapavelmente, nos reserva surpresas, ressaltos, novos aspectos de uma realidade dialéctica).

Há na cultura de Basto (onde, diz o povo, «Celorico celou; Mondim meou; Cabeceiras cabeça ficou») uma expressão singular de cultura arcaica em vias de perder-se. E o jogo do pau exibe um extraordinário poder de atracção. Isto nos habilita a dizer que ele não é uma efémera expansão da mocidade, que nele vegeta por um capricho ou fantasia juvenil, mas que dura só enquanto não se apaga o ardor viril dos moços. E a canalha miuda, principalmente, anda deslumbrada!

Mas que se há-de exigir dos praticantes? Braço forte, ritmo certo, pau de lódão adequado, assegura Manuel Urjais, da direcção da modesta Assiciação Desportiva e Cultural S. João Baptista. É que, da antiga arte dos jogadores do pau, nada ficou… umas fotos… umas imagens… umas gravações… um chuço… um chapéu, talvez.

É ele quem diz que hoje não se «varrem feiras» com sachos e a boa vontade não supre a falta de músculo. O praticante só necessita de um pau de lódão, de 1,50 m de comprimento aproximado, habitualmente cortado na lua de Janeiro, para além da tradicional roupa que enverga: a camisa de linho, colete, calça preta e lenço tabaqueiro afirma ele.

As invencíveis fúrias

Manuel Urjais recorda que os habitantes de Bucos e de Cavez eram considerados os mais bravos: varriam largos inteiros. Verdadeiramente, aqu, a violência latente entre comunidades vizinhas explodia em batalhas de varapaus que faziam varrer num ápice a multidão de um arraial, conforme bem nos relata Camilo. Em décadas mais recentes, foi o futebol a oportunidade para vários ajustes de contas entre comunidades vizinhas que se viam incapazes de um jogo entre si de outra forma que não fosse à pancadaria. E vão longe, muito longe já, esses radiosos tempos em que os montes baldios de Bucos, que iam até Montalegre, eram usados para os pastos. Hoje, na aldeia só há meia dúzia de rebanhos.

Mas este zelo está sempre desperto? O jogo do pau é mais do que uma moda, mais do que um mito, mais do que um ídolo de papelão. Ainda hoje é uma arte activamente mantida, conservada, apesar de alguns riscos rudimentares. Resultado: ligamentos rompidos, canelas com papos, cabeças rachadas, joelhos doridos e desgaste excessivo. É um jogo que não exige dos seus praticante nem muita habilidade nem dotes de um superatleta.

Aparentemente apoderou-se da juventude. Pela simples razão que existe em Bucos uma escola onde se ensinam, de maneira mais imperiosa, as técnicas principais do jogo, e inclusive, as técnicas reputadas de secundárias, ou até inúteis, que tomam uma importância fundamental.

Quem se desloca a Bucos, verifica que hoje, os filhos são jogadores do pau, os pais foram jogadores, os avós também. A ligação ligeira de alguns e a paixão sectarista de outros têm-lhos permitido ser uma colectividade privilegiada que proclama a sua afiliação em tradições ancestrais. A vasta audiência e o retumbante êxito nos últimos tempos das suas extraordinárias e audaciosas performances nas festas e romarias no-lo confirma.

Num curto período que vem de 1980 até hoje, o Grupo de Jogo do Pau de Bucos possui um estilo uniforme. Existe também um interdito, e compreende-se: as mulheres não têm voz na colectividade. Isto frito de um hábito que não deixou para trás o modelo patriarcal. De sua primeira fase à última, a colectividade domina as circunstâncias e sabe de antemão qual a sua cor, qual o seu ritmo. Tudo foi difícil, no principio.

A associação Desportiva e Cultural de S. João Baptista conta com duzentos adeptos e simpatizantes, certa repercussão internacional, algum desassossego e não tem descurado a formação, apostando nos últimos anos, na iniciação ao jogo do pau dos mais novos (a partir dos seis anos de idade). E a obra é fecunda. Resulta pois, que a colectividade tem sólidos alicerces a sustentá-la, faltando-lhe apenas uma sede. É este o objectivo que se segue.

Hoje, e á sua cabeça, coloca-se um homem daqueles que as aldeias, mesmo mais bem fadadas, só excepcionalmente e de longos em longos tempos, têm a sorte de produzir – Orides Golçalves de Oliveira. Ele é o coração da restauração do jogo do pau em Bucos. durante largos anos, cumpriu a tradição da família. Foi mestre dessa «arte», presidente da Junta de Freguesia e ocupou numerosos cargos na direcção da colectividade. Mas, mais do que tudo isto, um motivo há que o torna venerável no meio associativo: ele sabe todos os volteios rápidos, ataques e paradas vertiginosas e maneja o pau como se fosse parte do próprio corpo. hoje, assistido pelo seu filho Manuel Orides, continua dando «canseira» à garotada.

Para o presidente da Associação D. S. S. J. Bucos, o jogo do pau exige destreza e parceiros de alta resistência. É condição «sine qua non», nota Orides Oliveira, que o praticante não se revele desastrado e pouco hábil: «Pois é! Qualquer demonstração à toa, coisa que dura um quarto de horam leva horas a ser preparado», explica. «Há que repetir cada técnica uma porção de vezes. Vários ensaios, vários a valer, e vale tudo. Para os miúdos é um quebra-cabeças».

«A aprendizagem do jogo é difícil», diz ainda Orides de Oliveira. Por isso, o aluno nada mais faz do que ir interiorizando as técnicas, a mestria, se não de um modo livre pelo menos de um modo expresso. Antes de mais, uma coisa é certa: já não se pretende «varrer feiras», nem «ajustes de contas», mas sim dominar uma técnica, educar a mente e o corpo, desenvolver capacidades de decisão e rapidez de reflexos.

«antifamente – Explica Orides Oliveira – as questões e as questiúnculas surgidas (e formam um longo e doloroso rosário) assentavam em rivalidades de vizinhos e ambições de hegemonia, lutas de famílias e ressentimentos. Na verdade, as oposições e rivalidades entre as gentes de aldeias próximas eram norma, por razões mais ou menos graves, por vezes insignificantes: mulheres, águas, cães, etc., etc.»

Orides Oliveira é do número dos que pensa que «a dificuldade não é fazer melhor, é fazer bem» – e por isso fala sobre o que outros fazem, sabendo como é difícil fazer alguma coisa. Mas silenciosamente, enquanto os outros falam, ele trabalha…

Os mestres jogadores

A história do jogo do pau em Bucos, tão calada no seu segredo, é sobretudo carregada de recordações e imagens aprendidas. Decididamente uma escola poderosíssima. O presidente da Associação D. C. S. J. B. Bucos sabe só que «mestre» Calado, do vizinho concelho de Vieira do Minho, iniciou muitos jovens de Bucos no manejo do pau. E que Adelino Barroso continuou a tarefa já iniciada, transformando muitos rapazes em hábeis jogadores. Posteriormente, Ernesto dos Santos, que aprendera com o «mestre» Calado os alicerces da «escola» de bucos ensinando essa arte que poderá datar de séculos ou de milénios.

Pouco tempo depois levantar-se-ia, porém, uma nova geração de novas gentes. E, á sua cabeça, colocar-se-ia um mestre extraordinário: Domingos Calado (filho de «mestre» Calado). ele também ensinou, sempre obediente a um propósito de autenticidade, cobrando, então 10$00 por lição individual e 300$00 por 30 lições. Com a sua morte, o jogo do pau quase acabou «porque não houve mais ninguém que assumisse a direcção das aulas»,diz Orides Oliveira.

Todavia, hoje, o jogo do pau é, na sua essência, uma actividade recreativa em que, de acordo com as regras, nem se ganha nem se perde. É mais uma forma de canalizar o ócio. Para uns, é fonte de prazer diferente, para outros, pode chegar a transformar-se numa eficiente ginástica aeróbica. Aliás, jogar o pau queima muitas calorias: desenvolve os músculos e a resistência.

O Mestre de Esgrima

Aquelle mulatão de ganforína
erriçáda e que lembra a carapinha
de um negro do Bihé — diz-me a visinha —
que é «bom vivant» e toca concertina.

Jogo do páo e do florête ensina!…
O figurão tem lábia, o «apomb» a linha!
Mas, por pagóde, um aio da Rainha
fez-lhe, uma vêz, presente de uma tina.

Vai ao palácio de um fidalgo á noute
dar-lhe lições de esgrima— E quem se afoute
a d’isto mal cuidar, dirão que é pêta…

Com os fidalgos ceia, joga, abanca.
E, emquanto améstra o esposo na arma branca,
— amestra a fidalguinha na arma preta.

“Mefistófeles em Lisboa” Gomes Leal – 1907

Foi publicado finalmente uma versão do manual de esgrima de Luis Godinho de 1599. Este trabalho, na minha opinião é o que mais semelhanças apresenta ao jogo do pau português, na vertente de espada a duas mãos, tendo descrições detalhadas de encadeamentos contra dois ou
mais adversários, geralmente vindos de trás e diante, exatamente como se
faz no jogo do norte.

Variando desde situações, como em ruas muito apertadas, até estando cercado em campo aberto. Sendo assim, não uma mera
curiosidade ou uma coincidência de um ou outro paragrafo, mas uma serie
de elementos pensados e construidos para um programa de esgrima em
inferioridade numérica bastante completo, como no caso do jogo do pau
português, e que se vê em tão poucas outras artes de combate, quer
antigas quer modernas.

Existem certamente muitos outros manuais de esgrima portugueses,
espanhóis e por todo o mundo, mais recentes, mas este é dos poucos que
tem uma secção tão focada no combate em inferioridade numérica, prática
que foi votada ao esquecimento em trabalhos mais recentes de esgrima,
mas que não foi esquecida por quem necessitava dela para se defender, a
varapau.

http://www.ageaeditora.com/
And… finally! After a huge delay, we are proud to present Domingo Luis Godinho’s «Arte de Esgrima», the only known complete book on the
«old school» iberian swordplay, which
was so thoroughly wiped out by the emergent Verdadeira Destreza that
this text is one of the few sources that remained.

The book is 275 pages long, of which about 230 comprise the original
text, enhanced with an introduction, context, annalysis and
transcription notes.  The original text itself delivers
instructions on single (rapier) sword, sword and rotella, sword and
buckler, twin swords, sword and dagger, sword and cape, and the longest
known text on the iberian montante.

Godinho originally wrote the
book in a rough spanish ladden with portuguese expressions and
mannerisms. We have normalized the text to modern spanish, expecting to
make is thus more accessible. A must for researchers of iberian fencing traditions!

mindhost:

AGEA Editora are in the process of publishing the “Arte de Esgrima” by  Domingo Luis Godinho, one of the few complete sources of esgrima vulgar or esgrima común (vulgar or common fencing), the Iberian swordplay that was replaced by La Verdadera Destreza.

The transcription and translation work was carried by Manuel Valle Ortiz and Tim Rivera, aided by Jaime Girona, Steve Hick and Eric Myers.

A guarda do jogo do pau com a perna da frente dobrada, logo, com o peso na frente, não é uma invenção moderna ou adaptação de artes orientais.

Esta guarda é utilizada desde à séculos em várias formas de esgrima, inclusive na mais moderna esgrima olímpica, e como se pode ver, era também utilizada com vários tipos de armas, de curtas a longas, a uma ou duas mãos. Podendo haver algumas exceções, em algumas artes, ou situações que em o peso é colocado de outra forma, é no entanto a norma, a postura mais comum.