José Maria da Silveira

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Primeiro dos grandes mestres da esgrima do pau , é a ele a quem se deve o primeiro desenvolvimentos neste ramo de desporto, não obstante ter havido outros mestres no seu tempo, deixou bons esgrimistas, como Domingos de Couras Salréu e Pedro Augusto da Silva que vieram a ser representantes da sua Escola, que foi na Travessa dos Inglesinhos e na Rua nova do Loureiro. Fundador da Escola de Lisboa, que assim se chama, por ser um tipo de esgrima diferente do das províncias, o qual nós ainda hoje adoptamos, possivelmente aperfeiçoado.

Em menino foi cantor de igreja e mais tarde praticou o jogo do pau.

Tinha à sua porta uma pedra muito grande e pesada com que media forças com a rapaziada do seu tempo.

Deixou uma fama monumental como esgrimista do pau e foi mestre do nosso popularissimo e grande Rei D. Carlos.

Nasceu na Calçada da Graça n.º13 em Lisboa, no ano de 1805 e faleceu, com a idade de 83 anos, em 1888.


EN:
master José Maria da Silveira  
(nicknamed “O Saloio”, name given to the peasants living in the outskirts of Lisbon, from the arabic sahroi, desert dweller. He was so called, because of his tanned skin color)

First of the great masters of staff fencing, the first developer of this branch of sport, notwithstanding other masters of his time. He trained great fencers, such as Domingos de Couras Salréu and Pedro Augusto da Silva, that became the representatives of his School, that was on Travessa dos Inglesinhos an on Rua nova do Loureiro. Founder of the Lisbon School, as it is called, because it is a different kind of fencing than the one on the provinces, the one that we use today, possibly in a perfected form.

As a boy was a church singer and later started practicing jogo do pau.
He had a large rock at his house that he used to measure strength with other boys of his age.

He had great fame as a monumental staff fencer and was master of the great and popular king D. Carlos.

Born in Calçada da Graça nr 13 in Lisbon, in 1805, died at age 83 in 1888


“Jogo do pau – Esgrima Nacional” António Nunes Caçador -1963

Mestre José Gonçalves Dias (o 95)

(…)José Dias (por alcunha o 95), antigo contra-mestre do mestre Salreu, como preito de gratidão á sua memoria, devo dizer, que soube ser um grande mestre e jogador, foi um homem d’um caracter ultra honrado, generoso, ativo trabalhador, e tão desinteressado para com os seus discípulos, que nunca deixou de bem os ensinar, mesmo quando não tinham dinheiro para lhe satisfazer a ridicula paga costumada, e era principalmente tão cheio de boa vontade no ensino, que punha tudo em pratos limpos, não lhes ocultando a mais insignificante parte do jogo

Tal era o excesso do seu desejo de ensinar, que por vezes, mais tarde quando já eu era também mestre, lhe notava que estava ensinando coisas para as quais o discipulo não tinha ainda preparação, ele me respondia: Ensine voçe os seus como entender, porque os meus teem pouco dinheiro para gastar, mas olhe que os meus são tão bem conhecidos em toda a parte, que quem chegar para eles, tem de saber o que faz.

Pois este meu mestre e amigo, a quem tanto e tanto devo do pouco que sei do jogo, foi um dos discipulos preditetos do grande mestre Domingos Salreu, que também  me deu (conforme os bilhetes de lições atestam) nada menos de meia grosa de lições(…)

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“Duas palavras sobre o jogo do pau” – Frederico Hopffer 1924

foto: “Jogo do Pau – Esgrima Nacional” – António Nunes Caçador 1963

Domingos Valente de Couras Salreu

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“Quando me julguei suficientemente ensinado do que se fazia no Real Ginásio, conversei com o meu primeiro mestre e amigo Artur dos Santos, sobre as minhas tensões de ir experimentar outros ares, e eis-me à procura doutros, que algumas cousas mais me pudessem ensinar.

Vi muito pouco antes de ir ao barracão do mestre Salreu, em diversos quintais que visitei, e esse pouco que tive ocasião de ver  não me admirou, pois que era jogo mais ou menos semelhante ao que primeiro tinha aprendido.

Mas veio um dia em que entrei no quintal do mestre Salreu, e da parte de fora da janela do barracão estive vendo um assalto, como nunca julguei que pudesse haver. Que energia de pancadas, que certeza nas defesas, que cousa tão linda, certa e movimentada, em que logo percebi, que ali nada se perdia no ar, e que o terreno era disputado com toda a consciência.

Escusado será dizer, que logo que o assalto terminou eu estava da parte de dentro do barracão, para ver os outros assaltos ou lições que se seguiram, e no dia seguinte eu era mais um discípulo do mestre Salreu.

(…) Domingos Valente de Couras Salreu foi o jogador da elite, o homem mais completo, com mais vastos conhecimentos, sabendo-se cobrir como ninguém, cortando só quando era oportuno, e sabendo fazer brilhar o seu adversário  quando isso lhe convinha ou apetecia. Nunca ninguém deixou de ficar satisfeito, quando acabasse de jogar com o mestre Salreu, mas posso afiançar que exceptuando alguns seus discípulos adiantados, ninguém percebia do que ele poderia fazer, se fosse um jogador vaidoso.”

“Duas palavras sobre o jogo do pau” – Frederico Hopffer (1924)


EN:

Frederico Hopffer, in his 1924 book on jogo do pau, describes the first time he met master Domingos Salreu’s class.

When I felt I knew enough about what was taught at the Royal Gymnasium (nowadays Ginásio Clube Português*) I talked with my master and friend Artur dos Santos about my intentions to try out other places, and I found myself looking for others that could teach me something else.

Before going to Master Salreu’s shed, I saw very little in the various yards that I visited, and the few things I had the opportunity to see didn’t impress me, because it was very similar to what I have had learned in the first place.

But there was the day I entered Master Salreu’s yard, and from the outside of the window of the shed I watched an assault, and I never imaged there could be one like it. The energy of the strikes and the certainty of the defences, what a beautiful thing, correct and dynamic, and I immediately understood that there nothing got lost in the air, and that the terrain was disputed with all consciousness.

Needless to say, as soon as the assault ended I was inside the yard to see more assaults or lessons that followed, and the next day I was one more student of Master Salreu.

(…) Domingos Valente de Couras Salreu was an elite fencer, with a most vast knowledge; he knew how to cover himself as no one else did, evading only when it was opportune, and knew how to make his opponents shine when he wanted or if it was convenient to him. I have never seen someone not satisfied when fencing with Master Salreu, yet most people, except his most experienced students, would not understand what he could do if he happened to be a vain fencer.

“Duas palavras sobre o jogo do pau” – Frederico Hopffer (1924)

Notes:
* – Ginásio Clube Português is the oldest gymnasium with jogo do pau classes, currently headed by Master Nuno Russo.

Mestre António Pereira Penela

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Um valoroso nome nortenho.

Teve escola na cidade do Porto onde leccionou bastante durante alguns anos.

Foi mestre do antigo cavaleiro tauromático Carlos Relvas, nas suas propriedades no Ribatejo.

Mestre António Pereira Penéla nasceu em 19 de Fevereiro de 1813 e faleceu em 1908 com 70 anos de idade.


“Jogo do pau (Esgrima Nacional)”, António Nunes Caçador, 1963

Mestre Joaquim Baú

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Mestre Joaquim Bau, c.1870-1880

Mestre Joaquim Baú que era natural de Marco de Canaveses, viveu largo tempo na Golegã e não obstante os seus 80 anos ainda jogava o pau em várias terras do pais, tais como, Espinho, Lisboa, Guimarães, Coimbra, Porto, Golegã e outras terras.

Vivia de donativos em troca de lições de jogo do pau. Não tinha uma residência fixa, mas sim uma vida ambulante que o fazia andar de terra em terra.

Foi um grande jogador e um mestre de grande competência, contemporâneo do mestre José Maria da Silveira (O Saloio).


“Jogo do Pau (esgrima Nacional)” – António Nunes Caçador, 1963
Fotografia de Carlos Relvas