Mestre Domingos Miguel

domingos_miguelDomingos Miguel nasceu em Silves em 18 de Fevereiro de 1884. Muito novo veio a residir com seus pais para Almada. Aqui se fez homem e desportista e aqui viria a ser sepultado. Foi um filho adoptivo de que Almada e seu conselho muito se orgulham, um homem extraordinário sob todos os aspectos da sua longa vida. O seu nome, para os vindouros, poderá ficar como uma lenda, mas foi na realidade um facto.

Era filho de um operário corticeiro e seguiu a profissão de seu pai. Cedo aprendeu a defender os direitos dos seus irmãos e camaradas, consumindo a vida inteira na luta pela democracia e pela liberdade do homem. Lutou com estoicismo. Foi temido e respeitado. Durante meio século foi símbolo de honra e valentia. Foi dirigente da Federação Corticeira e tesoureiro do Sindicato até 28 de Maio de 1926…

Tivemos o enorme prazer em contactar muitas vezes com Domingos Miguel e temos sempre presente a sua figura de homem simples, irradiante. Gostava imenso do convívio com os mais jovens, trocando impressões sobre os mais variados assuntos, transmitindo conselhos e opiniões sensatas. Era um prazer escutar Domingos Miguel.

O Desportista

Domingos Miguel foi um dos mais vigorosos desportistas portugueses de todos os tempos. Dedicou-se sobremaneira ao popular jogo-de-pau, apelido da esgrima portuguesa, onde atingiu craveira de exepcional relevo. Cremos que se tivesse enveredado por outra qualquer modalidade teria triunfado da mesma forma.

Em rapaz começou a praticar natação. Fazia ginástica e tomou o gosto de fazer saltos mortais como vira numa «troupe» de árabes. Mais tarde foi assíduo praticante de cultura física, utilizando o «Meu Sistema» do dinamasquês V. Muller. Aos 19 anos começava a receber lições de jogo-de-pau pelo mestre Domingos Salreu, na Estrela, em Lisboa. Descolava-se na companhia de Domingos Varejão, já há muito tempo discípulo de Salreu e que pouco depois passaria a ensinar Domingos Miguel, no Alfeite de na Margueira. Também foi seu mestre José Dias, o «95».

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Consultando jornais e revistas da época vamos encontrar numerosas referências que lhe são feitas. Os grandes jogadores, mestres e professores, como coronel Ressano Garcia, dr. João Moura Pinheiro, Tobias de Freitas, Artur dos Santos, Frederico Hopffer, José Gonçalves Dias – o «95», Domingos Salreu, Domingos alves, António Caçador, e tantos outros, são unânimes em afirmar a enorme classe de Domingos Miguel.

A revista «Stadium» insere em 1953, uma entrevista da qual respingamos estes apontamentos. Pergunta-lhe o jornalista: – Qual foi o seu mais terrível assalto? – «Foi – respondeu o mestre – com Domingos Alves, numa festa de beneficência. Contava então 25 anos, Nessa época possuia grande fôlego, compreende, era a idade a manifestar-se!… Travámos uma batalha colossal, de rapidez fulminante e de pancadas rijas e certeiras, que fizeram erguer a assistência fortemente emocionada. Domingos Alves foi o mais terrível adversário que tenho encontrado! Que batalha! Parece-me que ainda ouço o estalar dos paus! Jogámos mais de 15 minutos uma luta que eu recordo com saudade. Por fim a assistência pôs termo ao combate. Como esse dia é recordado por mim!»

– Falemos, Domingos Miguel, daquele jogo em Almeirim com o António Caçador – pede o entrevistador.

«Sim, joguei outro assalto, que me deixou gratas recordações. Jogámos na praça de touros e ao jogo assistiu a gente mais importante da terra. Nós estávamos em boa forma. Não pode calcular o que foi o assalto. Qualquer coisa de formidável. Jogámos em rapidez e a ovação da assistência foi enorme. Nunca na nossa vida ouvimos uma salva de palmas tão estrondosa.»

Em 20 de Fevereiro de 1971, o «Jornal de Almada» publicava uma curiosa e valiosa entrevista feita por Romeu Correia, por altura do 87º aniversário de Domingos Miguel, então internado no Lar-Granja Luis Rodrigues, em Costas de Cão.Dessa entrevista colhemos algumas passagens.

Romeu Correia perguntou: – Quando começou a leccionar no Ateneu Comercial de Lisboa?

– «Fui mestre no Ateneu, de 1926 a 1963, portanto 37 anos!…» Mas também ensinei no Lisboa Ginásio cerca de 20 anos. Boa gente! Que grandes colectividades! Do Ateneu guarde as mais gratas recordações. Uma autêntica família! Colaborei em 22 saraus no Coliseu dos Recreios e também no Eden Teatro, Palácio dos Desportos, em três circos e ainda em centenas de outros lugares!…»

SEC-AG-1584M
(Ateneu Comercial de Lisboa: Grupo de professores de aulas desportivas
-António Pereira (luta); Antero Varejão (ginástica educacional infantil); Domingos Miguel (esgrima de pau); Álvaro de Jesus (ginástica para adultos).
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-Quantos discípulos teve ao longo da sua carreia?

-Não posso calcular… mas certamente umas boas centenas. Entre outros recordo: João Mendes, João Lavrador, António Moleiro, António Nunes Pereira, Inocêncio Procópio, António Novo, Inácio Roberto Guedes, Anónio Nunes Caçador, Joaquim Madeira, Aurélio da Cunha, Domingos Rebelo, Elias Gamero, o Gabriel, que também está aqui internado.

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Aos 76 anos, o Mestre (1º da esquerda) com três discípulos

– Além do jogo-de-pau e de saltos acrobáticos… sei que foi um exímio nadador. Conte-nos uma façanha sua nessa tão salutar modalidade desportiva.

– «Por volta de 1925 ou 1927 ganhei uma travessia do Tejo a nado. Tinha quarenta e tal anos. À partida éramos umas boas dezenas de nadadores. Atirámo-nos ao rio na doca de Alcântara e viemos a nadar até Cacilhas… Ganhei o primeiro lugar para o Ginásio Clube do Sul.

-Atribui a sua espantosa saúde e lucidez à prática desportiva?

– «Pois decerto! Porque se não fizesse nada… estava mas era há uma quantidade de anos debaixo dos torrões.»

Perguntando-lhe Romeu Correia se concordava com o amadorismo ou profissionalismo, respondeu:

– «Sou pelo amadorismo. O desporto não é profissão.»

Domingos Miguel, foi, pois, durante toda a sua vida uma das figuras mais populares de todo o nosso conselho. Na modalidade que escolheu foi praticante exímio. Percorreu muitas aldeias, vilas e cidades do país, deixando sempre onde actuava bem vincada a sua personalidade e arte de manejar a vara de lódão. De reflexos rapidíssimos e agilidade felina, era «impossível» tocar-lhe e quando atacava era simplesmente «terrível». Sua destreza, força e excepcional técnica colocavam inteiramente qualquer adversário à sua disposição. Meste Domingos Miguel fazia-os render à sua incontestável supremacia, sem os molestar. Contudo, as jogadas eram por vezes arrepiantes. Desferia pauladas com uma velocidade incrível que os amantes e conhecedores da modalidade sabiam não produzir danos… Mas os menos preparados, que assistiam aos assaltos, intimamente sofriam e «rezavam para que Domingos Miguel não rachasse o adversário de alto a baixo»…

Como professor deixou bem vincada a sua competência e categoria, ensinando largas centenas de alunos. A sua actividade no Ateneu durante 37 anos e no Lisboa Ginásio durante 20 anos cremos ser um caso ímpar no País de qualquer modalidade desportiva. O facto não só atesta as suas extraordinárias faculdades como professor, como também a receptividade que possuía para tratar com pessoas de temperamentos e ideias totalmente opostas, e isto sem abdicar nunca dos seus métodos e ideias. Não faltava uma sessão de treino e era incapaz de levantar a voz, fosse a quem fosse.

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Ateneu Comercial de Lisboa. Sentados, da esquerda para a direita, os mestres Domingos Miguel, António Moleiro, António Emídio, Domingos Varejão e Tobias de Freitas. Atrás: os discípulos de Domingos Miguel, Varejão e de António Moleiro

Nos saraus do Coliseu dos Recreios, lá estava sempre com alguns alunos a mostrar à assistência a sua arte inconfundível de manejar o pau.

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Aos 70 anos sentia-se feliz. Era um autêntico jovem no regresso a casa, sempre acompanhado da sua amantíssima e inseparável esposa. Muitas vezes nos encontrámos no barco e tinha sempre uns momentos para conversar sobre desporto. Reparava na íntima satisfação pelo dever comprido, que invadia a alma daquele homem bom, enorme desportista, de longevidade desportiva invejável que, ultrapassada essa meta dos setenta anos, saltava, sem lhe tocar, um vulgar balcão de estabelecimento e dava saltos mortais para a frente e para trás com facilidade impressionante. Poucos anos antes, acompanhava o seu sobrinho Baltasar Rocha, campeão almadense de ciclismo, em muitos dos seus treinos e não gostava nada de deixar fugir o Baltasar… ainda que a sua máquina não fosse especial!…

Soldados portugueses executam demonstração do Jogo do pau
Roffey Camp, Horsham, Sussex, Inglaterra,
15 de Agosto de 1918
Fonte: http://www.iwm.org.uk

Em tempos um professor de sociologia, ao tentar explicar que certas ideias feitas resultam de enganos, repetições e desconhecimento, e não propriamente duma tradução da realidade no senso comum, deu o exemplo da China e da proverbial “paciência de chinês”. Ele, que conhecia bem o país, e que o visitara ainda antes de ele se ter tornado a fábrica do mundo, dizia que encontrar um chinês paciente não era tarefa fácil, mesmo em tempos bem mais controlados, anteriores a Deng Xiaoping. A cultura chinesa não é uma cultura de silêncio, de calma e de rituais longos e silenciosos. As cidades chinesas eram locais bulíciosos, barulhentos, dizia ele, onde à mínima coisa havia logo uma grande possibilidade de desatar tudo à estalada, ao murro e ao grito.
A ideia do chinês introspectivo, meditativo, dotado duma sabedoria milenar eram uma concepção criada no ocidente, baseada não numa experiência real e pessoal (bastava ler a “Peregrinação” de Fernão Mendes Pinto, um dos primeiros relatos na primeira pessoa de um ocidental no Império do Meio) mas antes numa mistura de informações, oriundas quer de outros países asiáticos ( do Japão, nomeadamente), quer de contactos com aspectos particulares da cultura chinesa, como o mundo burocrático imperial, a filosofia taoista e a religião budista. Tudo isto, bem amalgamado e repetido vezes sem conta junto dum mundo ocidental que nunca vira a China, e para quem tudo se confundia no Oriente, permitira a convicção profunda ( e falsa) que os chineses são, de uma maneira geral, calados, pacientes e superiormente organizados.

Essa aula, que bem me divertiu, vem-me com frequência à memória sempre que esbarro com o lugar-comum de Portugal como país de brandos costumes, o do português como povo sereno.
Se nos dias que correm a coisa (momentaneamente, talvez) até parece ser assim, afirmar tal historicamente é algo que não aguenta a confrontação com a realidade.
Um dos aspectos em que o Estado Novo foi mais bem sucedido foi no profundo apaziguamento do país, e na efectiva implementação do monopólio da força por parte do Estado. Para tal, criou um aparelho repressivo assente nas forças policiais que, ao longo do tempo, conseguiu fazer chegar a todos os recantos do território, e fez silenciar através da censura os relatos de alterações de ordem pública. Esta percepção de que nada acontecia, associada à certeza de um uso indiscriminado da força policial em caso de conflito, e a um sistema judicial que, em caso algum, questionaria as forças policiais, resultaram no referido apaziguamento.

Mas extrapolar esse facto para tempos anteriores é algo muito errado.  Antes do sucesso do Estado Novo, os brandos costumes e o povo sereno só podem ser retóricos. Portugal era um país em alvoroço constante. Entre guerras civis, um regicídio, vários assassinatos políticos, duelos de deputados, revoltas, guerrilhas e salteadores, muito pode ser dito sobre os dois últimos séculos, para não ir mais longe.

Quando, no meio da conturbada primeira república, se decidiu enviar um Corpo expedicionário para as trincheiras da primeira guerra mundial, as tropas apressadamente reunidas, e instruídas no Ribatejo, foram depois sujeitas,em Inglaterra e em França sobretudo, a novo processo de instrução militar para as habilitar para a realidade dos combates nas trincheiras.
Aí, alguns relatos indicam que os soldados portugueses espantaram os seus instrutores britânicos pela relativa facilidade com se adaptavam às técnicas de luta com baioneta, ao combate próximo nas trincheiras. De pequena estatura na sua maioria, vinham de realidades pré-industriais, onde andar à luta era quase um desporto entre aldeias. No Norte de Portugal, em particular, praticava-se uma forma de arte marcial, o chamado jogo do pau, cujas demonstrações em terras de França e Inglaterra provocaram a curiosidade dos oficiais aliados, que as filmaram e fotografaram.

Portugal, antes do Estado Novo, não era bem um local de brandos costumes. Era simplesmente um país habituado a andar à paulada.

Júlio Assis Ribeiro  em: http://naomemexamnosjpegs.blogspot.pt/2013/07/a-paulada.html

Ver também:  https://www.youtube.com/watch?v=g_Xyx4iG_kc

Associação Desportiva e Cultural de S. João Baptista de Bucos

As suas origens remontam ao início do século vinte, anos 30, altura em que o “mestre” Calado, do vizinho concelho de Vieira do Minho, iniciou muitos jovens de Bucos, no manejo do pau.
Mais tarde, Adelino Barroso, de Vila Boa de Bucos, continuou a tarefa já iniciada, transformando muitos rapazes em hábeis jogadores.

Posteriormente, Ernesto dos Santos, que aprendera com o “mestre“ Calado, cimentou os alicerces da “Escola” de Bucos ensinando essa “arte” a todos os interessados. Por essa mesma altura, Domingos Calado (filho do já citado “mestre“ Calado, também ensinou na nossa terra.

Dos ensinamentos desse mestre “caceteiro” resultou um grupo de bons jogadores, alguns dos quais, anos volvidos, em 1966, actuaram em Cabeceiras de Basto para uma cadeia de televisão alemã.

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Definitivamente legalizada, é em 1980 que a Associação Desportiva e Cultural de S. João Baptista de Bucos se relançou, aquando da participação na festa de S. Bartolomeu em Cavez, onde foi filmada pela RTP pela 1ª vez.

A partir daí, jamais parou esforçando-se afanosamente por mostrar, do modo o mais genuíno possível, a técnica nortenha do jogo do pau. As suas ”pauladas” têm soado por todo o país e até no estrangeiro. Também não tem descurado a formação, apostando na iniciação ao jogo por parte dos mais novos.

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http://jogodopaudebucos.wordpress.com/

Jogo do pau – Alhos Vedros

O uso de paus e varas

O uso de paus e varas na vida diária das comunidades humanas é óbvio, desde as comunidades mais primitivas às contemporâneas, e, em quase todas as situações de carácter social.

No nosso país, a utilização humana de varas e paus, porque salta à vista em praticamente todas as actividades, não carece de prova. Desde os tempos mais remotos, até aos nossos dias, os paus e varas continuam presentes na vida diária das pessoas.

Enquanto arma, é também referenciado desde épocas primitivas. Ao longo dos séculos, por todas as civilizações, a sua presença é constante e determinante, nas guerras, motins, revoltas, arruaças várias. No caso concreto de Portugal, foram decisivos em alturas críticas da nossa história.

Já em épocas medievais se pratica a modalidade em Portugal, sobretudo entre os nobres que se preparavam para a guerra, com armas cujo manejo se assemelhava ao uso do pau, e também o contrário, mas, provam os factos, também em todas as outras classes sociais. E até aos nossos dias o seu uso foi generalizado e continua a ser.

O Jogo do Pau Português

O Jogo do Pau, como o praticamos e entendemos hoje em Portugal remonta ao início do século XIX. Desde então é possível seguir uma trajectória de desenvolvimento da modalidade. Em meados do século XIX, há um método de ensino sistematizado, numa técnica concreta, fruto obviamente de toda uma experiência acumulada.

Nos finais do século XIX a prática da modalidade estava generalizada pelo país. Dezenas de escolas e mestres estão referenciadas, todas com o seu estilo próprio, num tronco comum.

A última geração por motivos próprios, perdeu essa vitalidade, e no fim deste século existem menos escolas e menos mestres em actividade que no seu princípio.

Raízes do Jogo do Pau

Muitos autores apontam o Norte de Portugal, por razões culturais e etnográficas, (entre outras), como o berço do Jogo do Pau Português, enquanto outros, entendem que o Jogo do Pau, na sua vertente desportiva, foi desenvolvido e estudado nos meios urbanos, em especial Lisboa e Porto, por bons ginastas, especialmente conhecedores de outras modalidades que poderiam trazer um acréscimo de qualidade como a esgrima.

Ao certo é que está generalizado desde finais do século XIX em todo o país e em todas as camadas sociais.

Desde essa época, pelo menos, por toda a região caramela se joga e se treina com método, se contacta e se combina encontros com outras Escolas, no sentido de trocar experiências, estudar e resolver os aspectos técnicos e éticos que são próprios da modalidade.

O Jogo do Sul

No início do século XX muitos jogadores e mestres de Lisboa e de outras regiões do país frequentavam regularmente a margem sul do Tejo. Outros, porque viviam exclusivamente do ensino do Jogo do Pau, por aqui paravam, esperando ser contratados e arranjar alunos. Muitos dos habitantes locais, eram naturais de outras regiões do país, trazendo as suas técnicas e tradições. Esta amálgama de contactos e de troca de experiências, fez nascer um novo estilo de jogo, com o seu próprio método de ensino, com princípio, meio e fim, aquilo que se pode definir como uma escola de Jogo do Pau, absolutamente original, e, em rigor, do mais puro jogo do pau português, assumindo-se como os rivais de Lisboetas e Nortenhos, ou outros, e com respeito, termos a pretensão, (nem que seja só isso), de sermos melhores.

Poderemos, com efeito, falar de uma Escola do Sul, da Borda d’ Água, do Ribatejo, caramela, e outras. Em minha opinião podemos e devemos. E nessa ordem de ideias, com rigor será caramela, no sentido que neste contexto atribuímos a esse termo.

De todas as Escolas que rivalizaram na nossa região, duas se distinguem em termos técnicos, que alguns dos seus discípulos tentam manter. Devido a percursos e aprendizagens diferentes essas Escolas são simbolizadas nos seus principais mestres: António Moleiro e Domingos Margarido. Ambos caramelos, um de Pinhal Novo e o outro de Valdera. Foi em torno destes dois símbolos do Jogo do Pau Português que aprendem dezenas de jovens, do Penteado a Águas de Moura, de Palmela a Pegões. Os discípulos destes mestres formaram novos núcleos em praticamente todas as localidades da região.

O trabalho destes primeiros mestres, que estão referenciados documentalmente, de recolher e estudar todas as técnicas e estilos conhecidos, contactando regularmente com outras escolas e outros jogadores, permitiu que tudo pudesse ser sistematizado por duas figuras ímpares do Jogo do Pau Português, os Mestres José Ribeiro Chula e Silvino Melro. Em torno destas escolas assenta todo o saber do Jogo do Pau, Caramelo, do Sul, da Borda d’ Água, ou outra. Após a morte destes Mestres o Jogo do Pau na nossa região entrou em declínio.

Como jogamos

O Jogo do Pau que se pratica na Escola de Jogo do Pau de Alhos Vedros é o mais puro Jogo do Pau Português. Todo o método de ensino e de jogo é o que aprendi com o Mestre José Ribeiro Chula, tanto nos aspectos técnicos e competitivos como nos éticos e desportivos. O método com que o Mestre me ensinou é rigorosamente o mesmo que aplico com os meus alunos, nada alterei ou modifiquei. Mas aceito todas as sugestões dos meus alunos desde que sensatas e bem intencionadas.

Cada demonstração técnica de Jogo do Pau, feita por esta Escola, é reviver uma época, com garantia de qualidade e verdade no jogo aplicado e na tradição a que se refere.

Pessoalmente tive oportunidade de conhecer e ter lições de quase todos os Mestres antigos que jogaram na nossa região, conheço e exemplifico as “entradas” e “cortesias” de todas elas, assim como algumas das virtudes desses estilos, mas, com o devido respeito e amizade, continuo a pensar que a minha escola, ou, aquela que mestre José Ribeiro Chula sintetizou, é a mais evoluída e competitiva de todas elas. Por isso, queremos manter o espírito legado pelos nossos Mestres, de continuar a aprender, vendo e jogando com todos os jogadores de todas as Escolas, procurando neles o que de melhor tiverem e se possível enriquecendo a nossa técnica, em ambientes de convívio e de amizade.

Actas da 2ª eira folclórica da região caramela. Fevereiro 2000. Lagameças.