Grandioso Jogo de pau!

Grandioso Jogo de pau
– Alhos Vedros –
Cujo producto liquido reverte a favor do acabamento das obras do Hospital da Misericórdia.

Domingo, 8 de Maio de 1960 às 16 horas.
Em que tomarão parte os melhores jogadores desta região e de Lisboa e entre eles os melhores mestres.

Domingos Miguel
O grande Mestre do Ateneu Comercial de Lisboa que é só por si um programa, devido à sua grande ginástica e mestria, onde há bastantes anos tem vindo por em prova o seu grande valor artístico, tendo muitíssimos admiradores em toda a parte do País onde tem apresentado esta linda modalidade, fazendo-se acompanhar dos seus discípulos.

António Nunes Caçador
De Lisboa. O categorizado Contra-Mestre do Ateneu, jogador também de grande classe e autor do livro explicativo desta modalidade.

Pedro Ferreira
De Lisboa. Jogador forte nos ataques e muito ágil na defesa.

Elias Gameiro
De Lisboa. Jogador de muita ginástica e de grande destreza.

Silvino Melro
Da Moita. Grande Mestre arrotense, que devido ao seu franzino corpo demonstra sempre uma grande destreza e que se fará acompanhar dos seus discipulos e condiscipulos que são os seguintes

Henrique Marques Valente
Do Bairro das Arroteias. Jogador muito lesto que tão bem tem sabido por em prova o seu valor artístico desde Lisboa ao Algarve.

António Brinca
De Pinhal Novo. Jogador muito rápido nos ataques.

Manuel Cunha
Dos Brejos da Moita. Jogador muito forte e muito lesto, tanto no ataque como na defesa.

Joaquim Miranda (O Espalha)
Do Pinhal Novo. É também um jogador entre os melhores do Sul do país.

Toma também parte com o seu grupo o mestre

José Ribeiro Chula Júnior
Da Moita. Jogador de grande classe e de grande popularidade, acompanhado dos seus discípulos.

Ernesto Alves
De Tomar, Jogador forte e de grande agilidade.

José Policarpo
De Cabeço Verde. Jogador que sabe marcar tanto no ataque como na defesa.

Garcia dos Santos
De Cabeço Verde. Jogador também muito rápido.

E finalmente apresentamos o grupo da F.N.A.T. de Lisboa o discípulo do grande Mestre Frederico Hopffer

Sacadura
De Lisboa. Jogador de grande projeção.

O mestre José Ribeiro Chula

joseribeirochula

Foi com o mestre António Moleiro de Valdéra, um antigo discípulo de Domingos Miguel, que José Ribeiro Chula Júnior recebeu as primeiras lições de jogo do pau.

Tinha então 17 anos, conta hoje 34, é natural da Moita do Ribatejo e, presentemente, joga no Barreiro e em Alhos Vedros.

Durante a sua carreira de mestre e de jogador tem feito uma notável propaganda do jogo do pau, tendo-se exibido no Barreiro, Coina, Azeitão, Setúbal, Grândola, Loulé, Moura, Atalaia, Montijo, Moita, Alhos Vedros e em muitas outras localidades onde o seu jogo tem sido sempre aplaudido.

José Ribeiro, que segue a escola de Lisboa, é um magnifico jogador, e na sessão de jogo do pau que há três anos organizámos no Ateneu Comercial, teve ocasião de pôr à prova todo o seu valor da sua classe, assaltando com os mais categorizados elementos que tomaram parte da aludida sessão!

A sua escola «a pura escola de Lisboa», é de grande eficácia; no ataque serve-se habilmente do pau, manejando-o só com o braço direito, o que é próprio do jogo lisboeta, e as suas pancadas enviesadas são muito perigosas, mesmo para os jogadores mais cautelosos!

As suas passagens, tento para o lado direito como para o esquerdo, são feitas com perfeição, e os seus cortes, claros e precisos, notando-se em especial uma grande rapidez no corte saído!

(…) e as cobertas laterais são executadas com toda a atenção, tendo sempre o máximo cuidado com as mãos!

José Ribeiro Chula tem vários discípulos no Barreiro e os melhores são José Policarpo e Joaquim Cunha, rapazes ainda novos no jogo, mas que, pela sua habilidade, constituem verdadeiras esperanças.

José Ribeiro é pois um belo jogador e um grande propagandista da modalidade a que se dedica, o que prova pelo notável desenvolvimento que, na sua região, tem dado à esgrima portuguesa, ensinando inúmeros rapazes, e tomando parte de várias festas desportivas, em que o jogo do pau faz parte do programa.

Sebastião D. M. Cerveira.

 

1º Aniversário da APJP – Encontro Inter-Escolas – Fundação Calouste Gulbenkian – 1978

Escola do Mestre António Portela (Abadim, Cabeceiras de Basto)

01 Escola do Mestre Portela (Abadim - Cabeceiras de Basto)
Jogo do pau – Escola do Mestre António Portela (Abadim – Cabeceiras de Basto) – 1978

Escola do Ateneu Comercial de Lisboa,  Mestre Pedro Ferreira

08 Jogo da Cruz do Meio
Jogo do pau -Escola do Ateneu Comercial de Lisboa,  Mestre Pedro Ferreira – 1978

02 Escola do ACL Sob a direccao do Mestre Pedro Ferreira
Jogo do pau -Escola do Ateneu Comercial de Lisboa,  Mestre Pedro Ferreira – 1978

Escola do Mestre José Quéo (Fafe)

03 Escola do Mestre Queo (Fafe)
Jogo do pau – Escola do Mestre José Quéo (Fafe) – 1978

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Jogo do pau – Escola do Mestre José Quéo (Fafe) – 1978

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Jogo do pau – Escola do Mestre José Quéo (Fafe) – 1978

Escola do Mestre José Ribeiro Chula (Vinha das Pedras, Alhos-Vedros)

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Jogo do pau – Escola do Mestre José Ribeiro Chula (Vinha das Pedras – Alhos-Vedros) – 1978

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Jogo do pau – Escola do Mestre José Ribeiro Chula (Vinha das Pedras – Alhos-Vedros) – 1978

09 Escola do Mestre José Ribeiro Chula (Vinha das Pedras - Alhos-Vedros)
Jogo do pau – Escola do Mestre José Ribeiro Chula (Vinha das Pedras – Alhos-Vedros) – 1978

Escola do Mestre Custódio das Neves (Lagameças, Poceirão, Palmela)

12 Escola do Mestre Custodio das Neves (Lagamecas - Porceirao - Palmela)
Jogo do pau – Escola do Mestre Custódio das Neves (Lagameças – Poceirão – Palmela) – 1978

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Jogo do pau – Escola do Mestre Custódio das Neves (Lagameças – Poceirão – Palmela) – 1978

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Jogo do pau – Escola do Mestre Custódio das Neves (Lagameças – Poceirão – Palmela) – 1978

Escola do Mestre António Moleiro (Fafe)

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jogo do pau – Escola do Mestre António Moleiro (Fafe) – 1978

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jogo do pau – Escola do Mestre António Moleiro (Fafe) – 1978

Escola do Mestre Costa do Assento (Fafe)

16 Escolas do Mestre Costa do Assento (Fafe)
Jogo do pau – Escola do Mestre Costa do Assento (Fafe) – 1978

16 Escolas do Mestre Costa do Assento (Fafe)_2
Jogo do pau – Escola do Mestre Costa do Assento (Fafe) – 1978

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Jogo do pau – Escola do Mestre Costa do Assento (Fafe) – 1978

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Jogo do pau – Escola do Mestre Costa do Assento (Fafe) – 1978

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Jogo do pau – Escola do Mestre Costa do Assento (Fafe) – 1978

Grandes Assaltos de Jogo do pau

Moita

Grandes assaltos de Jogo do Pau que tomam parte os distintos professores desta esgrima, srs: António Moleiro de Valdera; José Ribeiro Chula Junior, da Moita, e os ageis jogadores: António Verissimo e A. Brinca, da Carregueira; Henrique Valente, de Alhos Vedros; Manuel Curado, de Olhos de Água e Julio dos Santos, do Barreiro. 1939

EN:  Jogo do pau demonstrations assaults in 1939 by António Moleiro from Valdera; José Ribeiro Chula Junior, from Moita,  António Verissimo e A. Brinca, from Carregueira; Henrique Valente, from Alhos Vedros; Manuel Curado, from Olhos de Água e Julio dos Santos, from Barreiro.

Jogo do pau – Alhos Vedros

O uso de paus e varas

O uso de paus e varas na vida diária das comunidades humanas é óbvio, desde as comunidades mais primitivas às contemporâneas, e, em quase todas as situações de carácter social.

No nosso país, a utilização humana de varas e paus, porque salta à vista em praticamente todas as actividades, não carece de prova. Desde os tempos mais remotos, até aos nossos dias, os paus e varas continuam presentes na vida diária das pessoas.

Enquanto arma, é também referenciado desde épocas primitivas. Ao longo dos séculos, por todas as civilizações, a sua presença é constante e determinante, nas guerras, motins, revoltas, arruaças várias. No caso concreto de Portugal, foram decisivos em alturas críticas da nossa história.

Já em épocas medievais se pratica a modalidade em Portugal, sobretudo entre os nobres que se preparavam para a guerra, com armas cujo manejo se assemelhava ao uso do pau, e também o contrário, mas, provam os factos, também em todas as outras classes sociais. E até aos nossos dias o seu uso foi generalizado e continua a ser.

O Jogo do Pau Português

O Jogo do Pau, como o praticamos e entendemos hoje em Portugal remonta ao início do século XIX. Desde então é possível seguir uma trajectória de desenvolvimento da modalidade. Em meados do século XIX, há um método de ensino sistematizado, numa técnica concreta, fruto obviamente de toda uma experiência acumulada.

Nos finais do século XIX a prática da modalidade estava generalizada pelo país. Dezenas de escolas e mestres estão referenciadas, todas com o seu estilo próprio, num tronco comum.

A última geração por motivos próprios, perdeu essa vitalidade, e no fim deste século existem menos escolas e menos mestres em actividade que no seu princípio.

Raízes do Jogo do Pau

Muitos autores apontam o Norte de Portugal, por razões culturais e etnográficas, (entre outras), como o berço do Jogo do Pau Português, enquanto outros, entendem que o Jogo do Pau, na sua vertente desportiva, foi desenvolvido e estudado nos meios urbanos, em especial Lisboa e Porto, por bons ginastas, especialmente conhecedores de outras modalidades que poderiam trazer um acréscimo de qualidade como a esgrima.

Ao certo é que está generalizado desde finais do século XIX em todo o país e em todas as camadas sociais.

Desde essa época, pelo menos, por toda a região caramela se joga e se treina com método, se contacta e se combina encontros com outras Escolas, no sentido de trocar experiências, estudar e resolver os aspectos técnicos e éticos que são próprios da modalidade.

O Jogo do Sul

No início do século XX muitos jogadores e mestres de Lisboa e de outras regiões do país frequentavam regularmente a margem sul do Tejo. Outros, porque viviam exclusivamente do ensino do Jogo do Pau, por aqui paravam, esperando ser contratados e arranjar alunos. Muitos dos habitantes locais, eram naturais de outras regiões do país, trazendo as suas técnicas e tradições. Esta amálgama de contactos e de troca de experiências, fez nascer um novo estilo de jogo, com o seu próprio método de ensino, com princípio, meio e fim, aquilo que se pode definir como uma escola de Jogo do Pau, absolutamente original, e, em rigor, do mais puro jogo do pau português, assumindo-se como os rivais de Lisboetas e Nortenhos, ou outros, e com respeito, termos a pretensão, (nem que seja só isso), de sermos melhores.

Poderemos, com efeito, falar de uma Escola do Sul, da Borda d’ Água, do Ribatejo, caramela, e outras. Em minha opinião podemos e devemos. E nessa ordem de ideias, com rigor será caramela, no sentido que neste contexto atribuímos a esse termo.

De todas as Escolas que rivalizaram na nossa região, duas se distinguem em termos técnicos, que alguns dos seus discípulos tentam manter. Devido a percursos e aprendizagens diferentes essas Escolas são simbolizadas nos seus principais mestres: António Moleiro e Domingos Margarido. Ambos caramelos, um de Pinhal Novo e o outro de Valdera. Foi em torno destes dois símbolos do Jogo do Pau Português que aprendem dezenas de jovens, do Penteado a Águas de Moura, de Palmela a Pegões. Os discípulos destes mestres formaram novos núcleos em praticamente todas as localidades da região.

O trabalho destes primeiros mestres, que estão referenciados documentalmente, de recolher e estudar todas as técnicas e estilos conhecidos, contactando regularmente com outras escolas e outros jogadores, permitiu que tudo pudesse ser sistematizado por duas figuras ímpares do Jogo do Pau Português, os Mestres José Ribeiro Chula e Silvino Melro. Em torno destas escolas assenta todo o saber do Jogo do Pau, Caramelo, do Sul, da Borda d’ Água, ou outra. Após a morte destes Mestres o Jogo do Pau na nossa região entrou em declínio.

Como jogamos

O Jogo do Pau que se pratica na Escola de Jogo do Pau de Alhos Vedros é o mais puro Jogo do Pau Português. Todo o método de ensino e de jogo é o que aprendi com o Mestre José Ribeiro Chula, tanto nos aspectos técnicos e competitivos como nos éticos e desportivos. O método com que o Mestre me ensinou é rigorosamente o mesmo que aplico com os meus alunos, nada alterei ou modifiquei. Mas aceito todas as sugestões dos meus alunos desde que sensatas e bem intencionadas.

Cada demonstração técnica de Jogo do Pau, feita por esta Escola, é reviver uma época, com garantia de qualidade e verdade no jogo aplicado e na tradição a que se refere.

Pessoalmente tive oportunidade de conhecer e ter lições de quase todos os Mestres antigos que jogaram na nossa região, conheço e exemplifico as “entradas” e “cortesias” de todas elas, assim como algumas das virtudes desses estilos, mas, com o devido respeito e amizade, continuo a pensar que a minha escola, ou, aquela que mestre José Ribeiro Chula sintetizou, é a mais evoluída e competitiva de todas elas. Por isso, queremos manter o espírito legado pelos nossos Mestres, de continuar a aprender, vendo e jogando com todos os jogadores de todas as Escolas, procurando neles o que de melhor tiverem e se possível enriquecendo a nossa técnica, em ambientes de convívio e de amizade.

Actas da 2ª eira folclórica da região caramela. Fevereiro 2000. Lagameças.