Mestre António Nunes Caçador

caçador

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Artigo do jornal «Novidades»
por Sebastião Duarte da Mota Cerveira.

Dos mestres do jogo do pau que actualmente têm escola em Lisboa é de toda a justiça colocarmos num lugar de destaque António Nunes Caçador, antigo professor do Grupo Desportivo da Companhia dos Tabacos e, presentemente ajudante do mestre Domingos Miguel, no Ateneu Comercial de Lisboa.

Caçador principiou a jogar o pau em 1922 no Ateneu Comercial e o seu primeiro mestre foi Jorge de Sousa que, nos grandes tempos da esgrima lusitana, tinha sido discípulo do abalizado mestre Frederico Hopffer.

Depois de ter trabalhado durante alguns anos com aquele professor, fez-se discípulo de Domingos Miguel, jogador de combate, um dos maiores de todos os tempos, uma autêntica maravilha na arte de manejar uma vara de lodão!

António Nunes Caçador, elemento de primeira ordem no jogo do pau, exímio em «cortes» e maravilhoso em «passagens» é hoje sem dúvida, um dos mais completos jogadores de Lisboa, inúmeras vezes, em lutas emocionantes que deram brado pelo ardor com que foram disputadas, tem provado que não conhece o medo e que a sua vara está sempre pronta a cruzar se com a de qualquer adversário por muito que seja superior a sua classe!

Ultimamente, no Ateneu, quando este clube foi visitado por uns jogadores da província que aí se exibiram sustentou uma dura batalha com o mestre dos aludidos jogadores batendo-se com toda a galhardia marcando nítida superioridade sobre o seu antagonista e elevando ao máximo a escola de Lisboa que ele, nessa luta emocionante representava!

E o jogo que travou com o aludido mestre da província foi coisa que ainda não se tinha visto no Ateneu e, pela violência com que foi disputado, fiz lembrar os grandes jogos dos tempos em que a esgrima do pau era cultivada nos quintais de Lisboa!

Grande tem sido a propaganda que António Nunes Caçador tem feito da esgrima do pau: já jogou inúmeras vezes no Coliseu dos Recreios em Lisboa, em Santarém, em Alhandra, Caldas da Rainha, Montijo, Almada, Moita, Leiria, Coruche, Barquinha, e em muitas outras localidades e também no Pavilhão dos Desportos.

Nunes Caçador é autor de um interessante e útil tratado sobre esgrima do pau e que foi publicado em 1943 livro escrito em linguagem clara e simples e ao alcance de todas as inteligências, é de grande utilidade para os amadores do viril desporto! Nada falta nessa obra, e o autor mostra claramente o conhecimento que possui do assunto pois trata, magistralmente em todas as suas minúcias a esgrima lusitana.

António Nunes Caçador que está, presentemente na força da vida, é pois, um grande jogador e um mestre da mais sólida competência e as suas exibições sempre aplaudidas, fazem recordar os velhos tempos da esgrima portuguesa, os tempos dos jogos nos quintais de Lisboa, ocultos pelas trevas dos anos, mas sempre lembrados com saudade pelos amadores do viril desporto que é o jogo do pau, cultivado com toda a mestria na linda terra portuguesa.

em “Jogo do pau (Esgrima Nacional)” António Nunes Caçador, 1963.

en: Master António Nunes Caçador

Article from newspaper “Novidades” by Sebastião Duarte da Mota Cerveira. (around the 50s?)

Of all the masters currently in the Lisbon school, it is fair to highlight António Nunes Caçador, old professor of “Grupo Desportiva da Companhia dos Tabacos” and presently, as assistant master to Domingos Miguel, in “Ateneu Comercial de Lisboa”.

Caçador started staff fencing in 1922, at “Ateneu Comercial de Lisboa” and his first master was Jorge de Sousa, that in the high time of the lusitanian fencing (late 19th and early 20th century in Lisbon), had been a disciple of master Frederico Hopffer.

After some years of training with master Jorge de Sousa, he became a student of Domingos Miguel, a more combat oriented fencer, and one of the greatest of his time, a true wonder in the art of maneuvering a lote staff!

António Nunes Caçador, element of the first order in jogo do pau, was expert in «cortes» (evasion counter attacks) and «passages» and is today without a doubt, one of the most compleat fencers in Lisbon. For inumerous times had exciting fights that were hailed by the audience for the fervor with wich they were disputed. He prooved to be fearless and his staff is always ready to cross with any opponents, no matter how great is their level!

Lately, in Ateneu, when this club was visited by some fencers from the province, he had a great battle with the master of the mentioned fencers, fighting gallantly, and marking clear superiority over his antagonist, he elevated the name of his school, that he represented in that thrilling fight.

It was a fight like it is rarelly seen in Ateneu, due to the level of violence at wich it was disputed, remembering the best times of staff fencing in Lisbon.

Great has been the propagand that António Nunes Caçador has made of the art of staff fencing, he fenced many times in “Coliseu dos Recreios”, in Lisbon, Santarém, Alhandra, Caldas da Rainha, Montijo, Almada, Moita, Leiria, Coruche, Barquinha and many other places, and also in “Pavilhão dos Desportos”.

Nunes Caçador, is an author of an interesting staff fencing manual, that was published in 1943, book written in clear and simple language, at a reach of everyone, and of great utility for all lovers of this manly sport! Nothing is lacking in this work, and the author clearly shows his knoledge of the subject and all the minutiae of the lusitanian fencing.

António Nunes Caçador is now in the hight of his life, he is a great fencer and a master of great competence, his exhibitions are always hailed, and make us remember the old times of the Portuguese fencing, occluded in the shades of time, but always remembered by the lovers of this manly sport that is staff fencing, nurtured with great mastery in the beautiful Portuguese lands.

Diploma de Louvor a mestre Nuno Russo pelo Ginásio Clube Português

Nuno Russo

Nuno Manuel Curvello Russo, nascido em 1954, iniciou a sua carreira docente em 1979, há 37 anos, sempre de forma entusiástica, com grande empenho e em regime de pró-bono.

O Jogo do Pau é uma luta ancestral, com vários séculos, praticada pelo povo, replicando a luta de armas dos fidalgos. Foi adoptado como modalidade desportiva em 1885, no Ginásio Clube Português, por José Maria da Silveira.

Nas últimas décadas o Professor Nuno Russo, tem sido o principal responsável pela promoção e divulgação do Jogo do Pau em Portugal. É um símbolo desta modalidade desportiva de origem portuguesa, sendo ainda o “pai” da denominada Esgrima Lusitana.

O Prof. Nuno Russo tem sido responsável pela formação dos “Mestres do Jogo do Pau” e pela internacionalização desta modalidade, dando a conhecer ao Mundo este nobre Desporto Nacional.

Sem o seu trabalho, empenho e dedicação, hoje não existiria o Jogo do Pau Português.

Pela elevada dedicação dedicada ao Ginásio Clube Português, pelo mérito desportivo e associativo e pelos serviços relevantes prestados ao Clube, ao Desporto e ao País, nos termos dos Estatutos e do Regulamento de Prémios e Distinções delibera a Direcção distinguir com Diploma de Louvor o Professor Nuno Manuel Curvello Russo.

Lisboa, 18 de Março de 2016

Arthur dos Santos no El Heraldo Deportivo

Artigo espanhol sobre Artur dos Santos em que se destaca as suas qualidades de grande professor de ginástica e de esgrima de pau.

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“La verdadera especialidad de Arthur dos Santos es la esgrima do pau, desporte genuinamente português, que el ha dignificado, codificándolo, quitándole toda apariencia de jayania.

Maestro consumado en este deporte, ha alcanzado senaladísimos triunfos, creando escuela propria y sacando uma pléyada de alumnos que sabem homrar al profesor y aseguran, con su actuación brillantíssima, el éxito de este desporte tantas veces como se presentan em público.”

El Heraldo Deportivo (Madrid). 25 Setembro 1917.

O profissional e o mestre

Dizem dele que é «o único profissional português de jogo do pau». Chama-se Nuno Russo, tem 32 anos, vive em Lisboa e, de facto, dedica todo o seu tempo áquele desporto tradicional, seja exibindo-se, seja ensinando.

mestres Nuno Russo e Pedro Ferreira.
mestres Nuno Russo e Pedro Ferreira.

«Gosto de jogos de combate e dediquei-me ao Karaté durante muitos anos» diz Nuno Russo. «A certa altura, tomei contacto com o jogo do pau por meio do mestre Pedro Ferreira, um minhoto radicado em Lisboa. Já conhecedor das artes marciais, vi então o valor deste nosso jogo e da sua riquíssima técnica. Acabei por abandonar o Karate, e, de há oito anos para cá dedico-me exclusivamente ao jogo do pau. Se temos cá dentro, nossa, uma arte marcial tão rica, tão completa, para quê ir buscar outras lá fora?»

Ciente da necessidade de divulgação da modalidade. «para que ela não se perca». Nuno Russo começou a dar aulas, nisso ocupando hoje os seus dias: é um clubes e associações, é nos Fuzileiros, é na Policia de Intervenção, é no Instituto Superior de Educação Física (ISEF), é no Ginásio Clube Português. Enquanto reparte esforços com mestre Pedro Ferreira, professor no Ateneu, para «oficialização» deste desporto, exibe-se também um pouco por todo o lado, com solicitações várias do estrangeiro. «Estive já na China, por exemplo, e eles consideraram que temos uma das mais avançadas técnicas de jogo do pau a nível mundial…»

Aliás, é provável que daqui a tempos Portugal esteja a participar em torneios internacionais da modalidade. «Se noutros países fazem competições – adianta Nuno Russo – porque não havemos nós de as fazer também? Mas devidamente protegidos, claro, para podermos manter o combate em toda a sua pureza.»

Violento, este desporto? «Sim, é violento, como são todos os desportos, desde que não se saiba praticá-los…» atalha mestre Pedro Ferreira cujos 71 anos não impedem de praticar o «jogo do pau» um bom par de horas todos os dias. Natural de Melgaço ele lembra-se ainda de «como era» quando as desordem nas feiras «duravam uma hora e mais» pois «até davam tempo que se chamasse a GNR para parar os lutadores».

Entusiasta, Pedro Ferreira diz que o jogo do pau, mais que um desporto, é «uma arte, uma arte genuinamente portuguesa» com «enormes benefícios  físicos e psíquicos» para o praticante: desenvolve os músculos, condiciona os reflexos, coordena os movimentos, obriga à imaginação…

«E combatemos sem nunca perder a ideia da vitória» conclui «Temos que a manter ou morremos, não é?».

Joaquim Fidalgo – EXPRESSO, Sábado, 13 de Setembro de 1986

Alguns mestres de Jogo do pau de Lisboa dos últimos séculos

Alguns dos antigos mestres de jogo do pau português da escola de Lisboa  dos últimos séculos.

Mais informações sobre alguns dos mestres em:
http://jogodopau.tumblr.com/mestres

Baseado em “Jogo do Pau – Esgrima Nacional” – António Nunes Caçador 1963

Mestre Domingos Miguel

domingos_miguelDomingos Miguel nasceu em Silves em 18 de Fevereiro de 1884. Muito novo veio a residir com seus pais para Almada. Aqui se fez homem e desportista e aqui viria a ser sepultado. Foi um filho adoptivo de que Almada e seu conselho muito se orgulham, um homem extraordinário sob todos os aspectos da sua longa vida. O seu nome, para os vindouros, poderá ficar como uma lenda, mas foi na realidade um facto.

Era filho de um operário corticeiro e seguiu a profissão de seu pai. Cedo aprendeu a defender os direitos dos seus irmãos e camaradas, consumindo a vida inteira na luta pela democracia e pela liberdade do homem. Lutou com estoicismo. Foi temido e respeitado. Durante meio século foi símbolo de honra e valentia. Foi dirigente da Federação Corticeira e tesoureiro do Sindicato até 28 de Maio de 1926…

Tivemos o enorme prazer em contactar muitas vezes com Domingos Miguel e temos sempre presente a sua figura de homem simples, irradiante. Gostava imenso do convívio com os mais jovens, trocando impressões sobre os mais variados assuntos, transmitindo conselhos e opiniões sensatas. Era um prazer escutar Domingos Miguel.

O Desportista

Domingos Miguel foi um dos mais vigorosos desportistas portugueses de todos os tempos. Dedicou-se sobremaneira ao popular jogo-de-pau, apelido da esgrima portuguesa, onde atingiu craveira de exepcional relevo. Cremos que se tivesse enveredado por outra qualquer modalidade teria triunfado da mesma forma.

Em rapaz começou a praticar natação. Fazia ginástica e tomou o gosto de fazer saltos mortais como vira numa «troupe» de árabes. Mais tarde foi assíduo praticante de cultura física, utilizando o «Meu Sistema» do dinamasquês V. Muller. Aos 19 anos começava a receber lições de jogo-de-pau pelo mestre Domingos Salreu, na Estrela, em Lisboa. Descolava-se na companhia de Domingos Varejão, já há muito tempo discípulo de Salreu e que pouco depois passaria a ensinar Domingos Miguel, no Alfeite de na Margueira. Também foi seu mestre José Dias, o «95».

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Consultando jornais e revistas da época vamos encontrar numerosas referências que lhe são feitas. Os grandes jogadores, mestres e professores, como coronel Ressano Garcia, dr. João Moura Pinheiro, Tobias de Freitas, Artur dos Santos, Frederico Hopffer, José Gonçalves Dias – o «95», Domingos Salreu, Domingos alves, António Caçador, e tantos outros, são unânimes em afirmar a enorme classe de Domingos Miguel.

A revista «Stadium» insere em 1953, uma entrevista da qual respingamos estes apontamentos. Pergunta-lhe o jornalista: – Qual foi o seu mais terrível assalto? – «Foi – respondeu o mestre – com Domingos Alves, numa festa de beneficência. Contava então 25 anos, Nessa época possuia grande fôlego, compreende, era a idade a manifestar-se!… Travámos uma batalha colossal, de rapidez fulminante e de pancadas rijas e certeiras, que fizeram erguer a assistência fortemente emocionada. Domingos Alves foi o mais terrível adversário que tenho encontrado! Que batalha! Parece-me que ainda ouço o estalar dos paus! Jogámos mais de 15 minutos uma luta que eu recordo com saudade. Por fim a assistência pôs termo ao combate. Como esse dia é recordado por mim!»

– Falemos, Domingos Miguel, daquele jogo em Almeirim com o António Caçador – pede o entrevistador.

«Sim, joguei outro assalto, que me deixou gratas recordações. Jogámos na praça de touros e ao jogo assistiu a gente mais importante da terra. Nós estávamos em boa forma. Não pode calcular o que foi o assalto. Qualquer coisa de formidável. Jogámos em rapidez e a ovação da assistência foi enorme. Nunca na nossa vida ouvimos uma salva de palmas tão estrondosa.»

Em 20 de Fevereiro de 1971, o «Jornal de Almada» publicava uma curiosa e valiosa entrevista feita por Romeu Correia, por altura do 87º aniversário de Domingos Miguel, então internado no Lar-Granja Luis Rodrigues, em Costas de Cão.Dessa entrevista colhemos algumas passagens.

Romeu Correia perguntou: – Quando começou a leccionar no Ateneu Comercial de Lisboa?

– «Fui mestre no Ateneu, de 1926 a 1963, portanto 37 anos!…» Mas também ensinei no Lisboa Ginásio cerca de 20 anos. Boa gente! Que grandes colectividades! Do Ateneu guarde as mais gratas recordações. Uma autêntica família! Colaborei em 22 saraus no Coliseu dos Recreios e também no Eden Teatro, Palácio dos Desportos, em três circos e ainda em centenas de outros lugares!…»

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(Ateneu Comercial de Lisboa: Grupo de professores de aulas desportivas
-António Pereira (luta); Antero Varejão (ginástica educacional infantil); Domingos Miguel (esgrima de pau); Álvaro de Jesus (ginástica para adultos).
)

-Quantos discípulos teve ao longo da sua carreia?

-Não posso calcular… mas certamente umas boas centenas. Entre outros recordo: João Mendes, João Lavrador, António Moleiro, António Nunes Pereira, Inocêncio Procópio, António Novo, Inácio Roberto Guedes, Anónio Nunes Caçador, Joaquim Madeira, Aurélio da Cunha, Domingos Rebelo, Elias Gamero, o Gabriel, que também está aqui internado.

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Aos 76 anos, o Mestre (1º da esquerda) com três discípulos

– Além do jogo-de-pau e de saltos acrobáticos… sei que foi um exímio nadador. Conte-nos uma façanha sua nessa tão salutar modalidade desportiva.

– «Por volta de 1925 ou 1927 ganhei uma travessia do Tejo a nado. Tinha quarenta e tal anos. À partida éramos umas boas dezenas de nadadores. Atirámo-nos ao rio na doca de Alcântara e viemos a nadar até Cacilhas… Ganhei o primeiro lugar para o Ginásio Clube do Sul.

-Atribui a sua espantosa saúde e lucidez à prática desportiva?

– «Pois decerto! Porque se não fizesse nada… estava mas era há uma quantidade de anos debaixo dos torrões.»

Perguntando-lhe Romeu Correia se concordava com o amadorismo ou profissionalismo, respondeu:

– «Sou pelo amadorismo. O desporto não é profissão.»

Domingos Miguel, foi, pois, durante toda a sua vida uma das figuras mais populares de todo o nosso conselho. Na modalidade que escolheu foi praticante exímio. Percorreu muitas aldeias, vilas e cidades do país, deixando sempre onde actuava bem vincada a sua personalidade e arte de manejar a vara de lódão. De reflexos rapidíssimos e agilidade felina, era «impossível» tocar-lhe e quando atacava era simplesmente «terrível». Sua destreza, força e excepcional técnica colocavam inteiramente qualquer adversário à sua disposição. Meste Domingos Miguel fazia-os render à sua incontestável supremacia, sem os molestar. Contudo, as jogadas eram por vezes arrepiantes. Desferia pauladas com uma velocidade incrível que os amantes e conhecedores da modalidade sabiam não produzir danos… Mas os menos preparados, que assistiam aos assaltos, intimamente sofriam e «rezavam para que Domingos Miguel não rachasse o adversário de alto a baixo»…

Como professor deixou bem vincada a sua competência e categoria, ensinando largas centenas de alunos. A sua actividade no Ateneu durante 37 anos e no Lisboa Ginásio durante 20 anos cremos ser um caso ímpar no País de qualquer modalidade desportiva. O facto não só atesta as suas extraordinárias faculdades como professor, como também a receptividade que possuía para tratar com pessoas de temperamentos e ideias totalmente opostas, e isto sem abdicar nunca dos seus métodos e ideias. Não faltava uma sessão de treino e era incapaz de levantar a voz, fosse a quem fosse.

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Ateneu Comercial de Lisboa. Sentados, da esquerda para a direita, os mestres Domingos Miguel, António Moleiro, António Emídio, Domingos Varejão e Tobias de Freitas. Atrás: os discípulos de Domingos Miguel, Varejão e de António Moleiro

Nos saraus do Coliseu dos Recreios, lá estava sempre com alguns alunos a mostrar à assistência a sua arte inconfundível de manejar o pau.

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Aos 70 anos sentia-se feliz. Era um autêntico jovem no regresso a casa, sempre acompanhado da sua amantíssima e inseparável esposa. Muitas vezes nos encontrámos no barco e tinha sempre uns momentos para conversar sobre desporto. Reparava na íntima satisfação pelo dever comprido, que invadia a alma daquele homem bom, enorme desportista, de longevidade desportiva invejável que, ultrapassada essa meta dos setenta anos, saltava, sem lhe tocar, um vulgar balcão de estabelecimento e dava saltos mortais para a frente e para trás com facilidade impressionante. Poucos anos antes, acompanhava o seu sobrinho Baltasar Rocha, campeão almadense de ciclismo, em muitos dos seus treinos e não gostava nada de deixar fugir o Baltasar… ainda que a sua máquina não fosse especial!…

Mestre Henrique Valente

Nasceu no Barreiro em 6 de Dezembro de 1909.
“Fez parte durante alguns anos da classe do “Ateneu”. Jogador de boa escola, combativo e elegante a jogar, áspero e rápido”
Foto e texto retirado do livro do mestre António Caçador.