[youtube http://www.youtube.com/watch?v=6Cghnc7gfLg?feature=oembed&w=500&h=374]

­Demonstração tradicional de jogo livre.
Numa demonstração tradicional, não há a preocupação de recriar um momento histórico (a não ser talvez pela utilização de roupa mais tradicional), há apenas a intenção de demonstrar a arte de combate como ela é praticada tradicionalmente.

Como as armas utilizadas são reais, de madeira sólida, e as pancadas são, como podemos ver no vídeo, bastante fortes e que claramente causariam graves danos caso caíssem no corpo de algum dos jogadores, como pode funcionar então esta demonstração de outra forma que não seja de uma coreografia bastante bem ensaiada para não haverem acidentes?

Ora se fosse uma coreográfica, com os movimentos pré definidos e ensaiados, poderiam até estar a ser utilizadas as técnicas do jogo do pau tradicional, mas não ser jogo livre. O que faz com que seja jogo livre, e jogo do pau como é praticado tradicionalmente, é o facto de que os movimentos não são planeados, as pancadas são fortes e certeiras, para bater e não para o ar.

Mas se assim é, como é possível os praticantes, na demonstração, não se magoarem gravemente na maior parte das demonstrações?

É possível, porque, apesar de as pancadas não serem controladas, serem feitas para bater e direcionadas para o corpo, não se trata de um combate real, em que os nervos estão ao rubro, mas sim de um treino/demonstração, em que os jogadores testam as suas capacidades. Este treino apresenta alguns riscos, sem duvida, pois se falha uma defesa ou há uma medição errada de distâncias, uma pancada pode cair num jogador. Pois mesmo que o atacante se aperceba da falha do jogador que defende, um ataque é muito dificilmente parado, especialmente se já for na sua fase final.

Mas então não há tentativa de enganar o adversário como num combate real? As pancadas são todas óbvias e claras? é que neste vídeo os jogadores parecem estar-se a medir um ao outro, e por vezes parece que estão se a estudar, a ver quem ataca primeiro e se se conseguem enganar um ao outro, isso é teatro?

Não é teatro, é até possível fazer alguns enganos e fintas. Temos que ter em consideração que os jogadores se conhecem e sabem a capacidade uns dos outros, se fosse um mestre contra um iniciado, o mestre poderia bater no iniciado na primeira pancada, mas num treino não o faz, ataca mais devagar, de forma a que seja possível ao iniciado defender, aprender e ir melhorando,  com ataques sinceros e claros para não haver acidentes. No entanto, conforme a mestria dos jogadores vai subindo, num combate entre praticantes de alto nível, não aumenta só a velocidade das pancadas, mas também passam a ser possíveis mais fintas e enganos, e uma tensão e intensidade superior, mais características de um combate real. O risco aumenta, mas como os jogadores se conhecem e tem confiança nas suas capacidades, este tipo de treino e demonstração, é possível de ser feito em relativa segurança, não sendo combate real, já se aproxima mais um pouco. Sendo que a certa altura, com jogadores de alto nível a diferença está em levarem as suas capacidades ao extremo, para, em combate real, realmente baterem no adversário.

Uma demonstração entre iniciados, será bastante mais aborrecida, lenta e previsível do que uma entre mestres ou praticantes de alto nível, por isso temos várias descrições de demonstrações em que certos indivíduos eram aplaudidos de pé pelo seu bravo combate, mesmo sem nenhum dos dois ter levado alguma pancada, o elevado nível de ambos os jogadores é óbvio na sua demonstração, mesmo para espetadores não praticantes.

Mas nas demonstrações de jogo do pau, os jogadores ficam a distribuir pancadas durante muito tempo, mais de 10 defesas e contra ataques por vezes, quase parece como num filme, um combate real não seria provavelmente vais rápido, uma ou duas pancadas e um dos lutadores estaria no chão?

Um combate real poderia sim acabar muito rapidamente, até logo na primeira pancada, no entanto, nestas demonstrações como já referi, a intensidade é reduzida, a um ponto em que ambos os jogadores possam treinar em segurança, em que sintam confiança nas suas defesas, por isso pode haver mais trocas de pancadas.

Mas se o jogo do pau é tão eficaz, não deveria haver um golpe que acabasse com o combate?

Não existem golpes infalíveis, pois todos os ataques tem uma defesa, um jogador vence quando encontra um desequilibro no adversário, ou por ter uma técnica superior, ou seja, mais bem treinada, ou simplesmente o adversário cometa um erro. Mas se ambos não cometerem erros e combaterem de forma ideal, nenhum será atingido. Porém, ninguém é perfeito, pelo quem, no calor do combate, a uma velocidade limite, todos podem errar, e só com treino se pode consolidar a técnica para que tal aconteça menos vezes, e se conseguir até criar aberturas e oportunidades de atacar o adversário.

Uma coisa que parece é que as pancadas não são realmente para bater no corpo, pois os jogadores estão muito longe um do outro, não é isso também que permite este treino em segurança?

A estas duas questões, “As pancadas são para o corpo?” e “A distância permite segurança?” a resposta é sim, mas vamos ver mais de perto o que quero dizer com isto. Embora por vezes pareça que as pancadas não chegariam ao outro jogador, a verdade é que há sempre deslocamento, por isso, quando o individuo que ataca avança, o que defende recua, e está sempre presente a gestão da distância pelas duas partes, não estando nunca os dois parados, a uma distancia segura a bater apenas com os paus no ar. Este recuar permite manter a distancia e, respondendo à segunda questão, manter-se seguro. Porém, este distanciamento, não é combater atirando ataques para o ar for a do alcance, o que estaria errado, mas sim, atacando para o corpo, sendo da iniciativa de quem está a ser atacado, de recuar e manter a distância, isto faz parte da defesa, sendo o ataque para o corpo, meramente recuar, é uma defesa eficaz, mesmo que não haja embate de varas.
Nas palavras de Frederico Hopffer:
“Dar todo o comprimento às pancadas é indispensável a fim de  que o discípulo não fique iludido, o que pouca  importância teria quando joga com o mestre, porque esse encurta, desvia, retarda, etc., as pancadas, mas quando jogar com qualquer condiscípulo ou adversário, não lhe será  fácil encontrar  quem lhe faça o mesmo.” – Frederico Hopffer, “Duas palavras sobre o jogo do pau” 1924

[youtube http://www.youtube.com/watch?v=y7e_R4qNU3M?feature=oembed&w=500&h=281]

O grupo de Jogo do Pau da Guarda tem feito um excelente trabalho de recriação histórica tendo como base o jogo do pau. Aplicando as técnicas desta arte de combate, e criando um ambiente histórico, que não é no entanto meramente teatral. Pois em vez de criar coreografias modernas na tentativa de recrear o antigo, conseguem antes, aplicar técnicas antigas e preservadas na nossa tradição, não como uma dança mas como forma de combate e assim dar uma autenticidade e vivacidade ao espetáculo, que não teria de outra forma.

Jogo do pau Group from Guarda using Jogo do pau for Historical reenactment. 

Os livros de Jogo do Pau de Luis preto.

O trabalho de Luis Preto na criação de material educativo de Jogo do Pau Português tem sido incrível. Este é, sem duvida, não só o melhor conteúdo disponível para quem quiser ficar a conhecer a arte e até começar a “dar uns toques” (na ausência de mestre), mas também para quem quiser aprofundar o seu conhecimento em algumas áreas. Como tal, tento aqui deixar uma lista concisa dos seus trabalhos, para quem quiser aprender esta arte. Sendo que vou tentar manter este post actualizado caso surjam novidades.

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Jogo do Pau: The ancient art & modern science of Portuguese stick fighting – Este será certamente o melhor livro para quem quiser descobrir o Jogo do Pau. Com uma excelente introdução histórica, enquadra a técnica no contexto em que surgiu e como se desenvolveu, passando pela técnica um contra um e técnica contra vários adversários.

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Understanding and developing footwork – Um complemento essencial ao anterior, para desenvolver e melhor perceber a técnica de deslocamento utilizada no jogo do pau.

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Functional parrying skill – Tal como o anterior, mas para a técnica de defesa. Sendo na minha opinião, uma das coisas mais difíceis de explicar e fazer perceber, quer em livro que em vídeo, a técnica de defesa requer sem dúvida um trabalho aprofundado e muita dedicação para compreender corretamente, pelo que este livro para tal contribui.

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Optimizing the teaching curriculum of technique and tactics – Este livro trata de como organizar os conteúdos desta forma de esgrima, como os ensinar e interligar de forma a uma progressão que vai além da sua simples aquisição, sendo um excelente complemento aos anteriores.

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The forgotten art of fighting against multiple opponents: A practical guide for staff & baton martial artists
– Esta é das mais tradicionais vertentes do jogo do pau, o combate contra vários adversários. Não sendo só a mais tradicional mas também a mais prática em termos de defesa pessoal, aconselho a interessados em defesa pessoal com armas, quer a uma ou duas mãos.

O autor também possui outros trabalhos que são úteis a praticantes não só de outras artes de combate como de qualquer desporto, e ao qual aconselho vivamente a sua consulta aqui: http://www.pretomartialarts.com

Nova edição do livro de Luís Preto sobre combate em inferioridade numérica.

Neste livro, Luís Preto trata desta que é uma tradicional vertente do jogo do pau português, mas este livro não é apenas uma excelente descrição da historia e manual prático de uma arte marcial de origem portuguesa, como também pode ter uma aplicação bastante prática nos dias de hoje, devido à adaptação da técnica ao bastão ou bengala, que tem uma maior aplicação nos dias de hoje do que o tradicional varapau ou cajado.

“Desde os tempos longínquos das ferozes batalhas em campo aberto, à mais antiga forma de defesa pessoal, numa situação em que se tenha que enfrentar um gangue de assaltantes”

[vimeo 20371954 w=500 h=375]

Neste vídeo, aos 22:10, Matt Galas apresenta-nos a sua interpretação de duas regras para montante, escritas por autores Ibéricos por volta dos séculos XVI e XVII. Estas duas regras são especificas para a situação de combate em interioridade numérica, estando cercado, primeiro numa rua apertada onde só se conseguem fazer pontuadas, e segundo, numa rua mais larga onde já se conseguem fazer ataques em rotação.

No jogo do pau português, a prática de combate em inferioridade numérica é bastante trabalhada e o desenvolvimento do jogador vai muito além da prática de formas repetitivas. No entanto, este tipo de formas, simples e simétricas, que se podem repetir indefinidamente são a base que se tem que ter para se poder progredir. Como nos demonstram vários autores, já eram praticadas à vários séculos, e preservaram-se em vários grupos de jogo do pau tradicional, alguns deles que ainda os podemos ver quer no interior no pais quer nas grandes cidades.

4 Séculos, 4 autores, 4 soluções para combate numa rua estreita

Apresento aqui, por ordem cronológica, quatro diferentes autores de manuais/documentos técnicos de esgrima, que nos apresentam quatro soluções diferentes para uma situação muito particular, a de combater numa rua ou caminho estreito, com uma arma de cerca de metro e meio de comprimento, estando cercado pelos dois lados. Vamos ver o que estes autores de séculos diferentes nos dizem:

(Nota: textos adaptados a um português mais atual)


1- “Arte de Esgrima” Domingo Luís Godinho – 1599

“Cercado numa rua meio estreita:
Se estiveres cercado numa rua em que se possam dar e jogar talhos* e reveses*, com adversários por detrás e pela frente, segurarás o montante com a mão direita junto à guarda e com a esquerda junto ao pomo, virando os lados para os adversários, com as costas viradas para uma das paredes. Jogarás aos do lado direito um talho, metendo o pé direito a esse mesmo lado, e esse talho será armado pelo ar, a cortar de cima para baixo(…). De maneira que jogarás um talho como se diz, e não parará até que caia em pontuada, com as unhas para cima, aos que estão do lado esquerdo, e juntamente meterás o pé que havias metido ao lado direito, ao lado esquerdo, do lado do outro, de maneira que o corpo fique voltado com as costas para a outra parede. O meter do pé , talho, a volta e a pontuada armada, tudo deve ser um tempo e logo voltarás de revez aos do mesmo lado direito com o qual irá armado, por cima da cabeça como o talho, e acabará com a pontuada, unhas para baixo, aos do lado esquerdo(…) E com os passos por cima do pé esquerdo e direito, irás continuando a batalha tanto quanto for necessário.”


2 -“Memorial da Prática do Montante” Diogo Gomes de Figueiredo – 1651

“Serve esta regra para brigar em rua estreita, Dispõem se dando um talho debaixo para cima metendo diante o pé direito, e logo deixando cair o montante pela mesma parte direita se dará por ela um alta-baixo, para vir a situar uma estocada com a maçã do montante no ombro direito que se dará metendo o pé direito, e começar-se-á de novo a regra com o rosto para a outra parte, com os mesmos golpes até tornar a virar se for necessário.”


3 -“A arte do jogo do pau” Joaquim António Ferreira – 1886
“quando eu for por um caminho estreito e me saia um inimigo pela frente e outro pela retaguarda, devo vigiar um passo, coberto com o pau; assim que eu apare a pancada, devo largar a mão de traz, vir com a perna de traz à frente, deitar a mão ao pau do inimigo e dar-lhe com a ponta do meu; em seguida devo aparar a pancada do inimigo da frente e dar-lhe uma pontuada.”

4 -“Programa técnico de Esgrima Lusitana – Varapau” Nuno Russo – 2012
“Técnica da quelha:
1. Entrada a avançar a perna esquerda com meio passo na direção do adversário atrás varrendo com pancada arrepiada pela esquerda e ataca com pancada de alto a baixo ao finalizar o passo.
Se necessário fazer a varrimenta com a arrepiada a avançar 1 passo completo e crescer no ataque de alto a baixo.
2. Igual ao procedimento anterior para o adversário oposto.
Nota: Usadas em espaços estreitos (Quelhas). A pancada arrepiada tanto pode ser executada como defesa ou ataque”


Como podemos ver, os 4 autores utilizam sequencias de ataques ligeiramente diferentes, com combinações de ataques e/ou pontuadas, sendo as mais semelhantes, as sequencias de ataque de Figueiredo(2) e de Nuno Russo(4), ambos executam uma arrepiada (um ataque de baixo para cima) seguido de um rebate(um ataque de cima para baixo/vertical).

No entanto, mais importante do que a sequencia de ataques utilizado, é um aspeto que se mantém em todos eles, e este é a tática de gestão do espaço, pressionando um dos lados com ataques e deslocamento nessa direção, ao mesmo tempo afastando-se do adversário do outro lado. Voltando-se de seguida ao outro lado para criar a mesma situação, tentando sempre, enquanto possível e necessário, manter os adversários afastados.

Este principio não é só respeitado por estes autores na situação especifica de combate numa rua apertada, mas é uma constante nas dezenas de regras/formas presentes nos quatro documentos aqui apresentados, em que os jogadores estão cercados de dois lados.

– Frederico Martins

—/—
*Os investigadores que descobriram e transcreveram os documentos de Montante dizem-nos que o talho é um ataque pela direita, e o revez um ataque pela esquerda, que pode ser enviesado ou arrepiado.

Links:
Algumas regras de Godinho: http://www.spanishsword.org/translations

“Arte de esgrima” de Luis Godinho, 1599, foi recentemente publicada em http://www.ageaeditora.com

“Memorial da pratica do montante” completo, em português e traduzido para inglês:

“arte do jogo do pau”: http://www.lulu.com/shop/joaquim-ant%C3%B3nio-ferreira/a-arte-do-jogo-do-pau/ebook/product-21605137.html

Sobre mestre Nuno Russo, onde Praticar etc: http://www.esgrimalusitana.pt

O programa técnico de Esgrima Lusitana

O programa técnico de Esgrima Lusitana, desenvolvido pelo mestre Nuno Russo, visa contemplar a esgrima com varapau de tradição portuguesa, nas suas mais variadas vertentes, de forma a que os praticantes e instrutores desta arte tenham uma linha de orientação a seguir.

O programa técnico está dividido em vários graus, que progressivamente, introduzem os alunos a novas técnicas, tendo já consolidado as anteriores.

Resumidamente, o programa inclui várias vertentes e elementos como:

Técnica contra um adversário: 

ao longo dos progressivos graus, o aluno aprende toda a técnica de combate um contra um.

-As pancadas – em rotação e pontuada.
-Enganos
-Sequencias de pancadas – duplas e repetidas.
-As defesas das respectivas pancadas e guardas de espera.
-Os passos, dos mais simples aos avançados, à troca de passo, em todas as combinações necessárias, incluindo deslocamento na circunferência, e lateral. 
-Aplicação dos passos aos ataques e defesas em diversas situações.
-Os vários tipos de contra ataques, sejam os que seguem a defesa, cortes e vira costas.

Tudo isto acompanhado de exercícios que permitem aos praticantes ganhar noções de distância e tempo de combate correctas, para poderem praticar, quer jogo livre, sem protecções, como se faz mais tradicionalmente, quer o moderno combate com protecções, em segurança.

Dentro do combate um contra um, também se preservam outras técnicas tradicionais do jogo do pau tais como:

-Os Sarilhos – Que incluem várias técnicas de defesa e contra ataque com troca de mão.
-As séries – Uma série de 10 formas de combate um contra um, desenvolvidas por mestres do século XIX e inicios do século XX, como Domingos Salréu, e Pedro Augusto da Silva.
– Moinho a um e aos dois lados – Exercícios tradicionais de treino de defesa e contra ataque.

Combate contra vários adversários:

– As técnicas base:
     -As varrimentas de cima;
     – Sacudir atrás;
     – Vira costas de varrimenta / Vira costas de varrimenta saltado
     – Sacudir ao lado e outros
– Aplicação das técnicas às várias situações contra 2 adversários (definido em vários encadeamentos)
– Técnica corrida (com adversários afastados) 
– Em ruas apertadas.
– Técnica contra 3 (e as suas variações)
– Técnica contra 4
– Várias formas da cruz, do quadrado e das varrimentas
– Formas contra 2 atacado.
– Utilização da choupa (lamina na ponta da vara, geralmente inicialmente coberta por uma cápsula).

etc…

www.esgrimalusitana.pt

Resumo das regras de competição.

As regras de competição de Esgrima Lusitana / Jogo do Pau Português apresentam uma solução simples e clara de esgrima com varapau que reflecte a tradição de combate desta arte.

Como as regras são bastante simples, qualquer praticante as pode entender facilmente, tal como um espectador sem experiência na arte pode também apreciar o evento como um espectáculo e conseguir segui-lo sem ficar “perdido”.

Estas regras têm como objectivo colocar o mínimo de limites possíveis nas técnicas utilizadas. Simplesmente não são válidos ataques que numa situação de combate real, não teriam grande efeito. Estas coincidem, não por acaso, com as técnicas mais tradicionais e comuns em todo o jogo do pau português. Outras limitações existem também por segurança, como as pontuadas ao pescoço, que não são permitidas por ser uma zona frágil e difícil de proteger. No entanto, os ataques em rotação são válidos a todo o corpo.

Só são válidos ataques fortes e em rotação. Este tipo de ataques não são só os característicos do jogo do pau português, como ataques curtos ou simples toques não são válidos, visto que com um varapau como arma não resultariam. Este facto torna também os movimentos, de grande amplitude de rotação da vara, mais fáceis de seguir pelo espectador.

Sendo que estas características de combate praticamente definem as características do jogo do pau português, qualquer praticante que seja jogador de pau pode participar nestas competições, mesmo que nunca tenha praticado especificamente para competição, não estando excluídos grupos tradicionais, que como já aconteceu em anos anteriores, podem participar em competição mesmo sem nunca ter experimentado protecções.

Como o objectivo é ser uma competição de esgrima com varapau, não é permitido combate corpo a corpo. O que também é uma característica da arte, em que o alcance do varapau era utilizado para manter os vários inimigos à distancia e evitar armas de curto alcance mas facilmente letais, como facas. Pequenos choques que resultem naturalmente são permitidos.

No entanto, são permitidos desarmes, e mesmo simplesmente agarrar da arma do adversário, visto que esta não corta como aconteceria com uma espada de lamina por exemplo. Pode-se assim agarrar a arma do adversário e tirar partido dessa situação para marcar ponto. Com a devida ressalva de que obviamente não se pode segurar uma arma que esteja a executar um ataque, visto que resultaria numa mão partida.

A cada ponto o combate é interrompido, o que marca claramente um acontecimento importante do combate em si, não dando oportunidade de um jogador que já foi “batido”, continuar a atacar indevidamente. Para o espectador, é também claro que foi ponto, e apesar de ser uma interrupção, é bastante curta, e o combate é imediatamente recomeçado.

O combate é terminado quando há uma vantagem de cinco pontos por um dos praticante, mesmo que dentro do tempo regulamentar. Isto cria alguma pressão ao jogador que sofre alguns pontos seguidos pois não pode permitir que a situação continue. Para o espectador, esta tensão também torna o combate mais interessante, pois pode acabar a qualquer altura, e todos os minutos são importantes. Também evita combates aborrecidos, que se poderiam prolongar mesmo quando a diferença entre jogadores é grande.

Cercado, numa praça, campo ou rua.

Regra de combate em inferioridade numérica, em manual de esgrima do século XVI de um autor natural de Santarém.

Bastante similar ao que muitos grupos de jogo do pau fazem, na pratica do jogo do meio.

 “Arte de Esgrima”, Domingo Luís Godinho – 1599

“10ª Regra – Cercado, numa praça, campo ou rua.

É preciso ter muita agudeza, agilidade e um grande brio, quando numa batalha nos encontramos cercados de adversários.

Logo, celeremente segure o montante*1 pela forma da 3ª Regra*2, e, estando no meio deles, com os joelhos dobrados, a cabeça direita, fixado no pé esquerdo, corte um talho*3. Seguindo com o pé direito, corte outro talho, de forma a ir andando de lado, ora sobre o pé esquerdo, ora sobre o pé direito, e vá dando talhos em roda viva, cingindo todo o corpo em roda com o montante. Dá-se a cada passo um talho, que poderão ser até três ou quatro, mas que não devem passar de cinco, pelo perigo que há em desfalecer a cabeça. Acabados estes passos, dados com talhos, volta-se para o lado em que se começou, com outros passos, desta vez dando revezes*4. Da mesma forma que os talhos, dá-se um revés em cada passo do pé, rodando todo o corpo com o revés.

É de notar que quando se segue rodando, com os ditos golpes, os pés deverão ser colocados com segurança, e mais, devem ser colocados direitos, estando sempre um ou outro fixo, e andando com o corpo sempre muito direito. Com a cara, ora olhando para um lado, ora para o outro. E desta forma, ora com passos de talhos, ora de revezes, a um lado e a outro, se dará tantos passos enquanto dure a batalha.

Adverte-se, que se se estiver cercado em campo aberto, os passos não devem ser dados sempre ao mesmo lado, volta-se ao sitio onde se começou, mas continuando a dar passos, ora a um lado ora a outro, fazendo todo o circuito numa roda.

Se for o caso de se estar numa rua larga, neste caso devem-se dar passos a um lado e ao outro, e é de advertir que não devem haver pontuadas.

Caso haja necessidade de romper o esquadrão inimigo que nos cercou, dever-se-á carregar, com passos, sobre a parte onde se vir maior fraqueza. E aproximando-se com um brado para fora, juntamente dar-se-á uma ponta com as unhas para cima, um grande salto em roda, e no fim da ponta, um talho e um revés. Estando de fora, pode-se aproveitar para fazer a 9ª Regra.

Como aviso, quando se está cercado, deve-se sempre carregar ao lado onde os adversários tiverem mais força.”

_________________________________
1- Espada grande, que se segura a duas mãos, geralmente com um pouco mais de metro e meio.
2- Guarda alta do lado direito da cabeça, com a ponta para trás.
3- Pancada enviesada pela direita.
4- Pancadas enviesadas pela esquerda.

Texto adaptado para português actual.

Para saber mais sobre o autor e a esgrima Ibérica antiga, consultar http://www.spanishsword.org

“Arte de Esgrima” – Luís Godinho, 1599 – Editado recentemente por: http://www.ageaeditora.com/

Lódão Bastardo – Celtis australis

Lódão:  Árvore celtácea, vulgar em Portugal.

Folhas: Simples, alternas, caducas, limbo lanceolado, peninérveo, com três nervuras basilares, assimétricas na base e ápice longamente acuminado curvado e afilado; têm a margem finamente serrada quase desde a base; com um comprimento de 7 a 15 cm e 5 cm de largo; são verde-escuras e ásperas na página superior, verde-acinzentado e pubescentes na inferior.

Mais informações:
http://arvoresdeportugal.free.fr/IndexArborium/Lodao_bastardo_Celtis_australis/Ficha_Lodao_bastardo_Celtis_australis.htm

A vara de Lódão, das mais utilizadas no jogo do pau:

Entrevista audio a fabricante de bengalas de lódão.

A produção destas bengalas é bastante similar à das varas de lódão caracteristicas do jogo do pau. Inclusive a forma de recolhida etc… 

Uma boa bengala de lódão, serve também para a pratica mais recente no jogo de pau, como bastão de combate.

“Doutores” usam bengalas de lódão 

Quando esta terça-feira o cortejo da queima das fitas tomar conta das ruas do Porto haverá milhares a marcarem o compasso dos estudantes e os vivas ao fim do curso. Falamos das bengalas dos “doutores”. Muitas são de plástico, mas outras tantas são de lódão, uma madeira de arbusto que é a matéria-prima das bengalas de Gestaçô, uma localidade do concelho de Baião.

Na localidade de Gestaço, em Baião, existem várias oficinas que se dedicam à sua produção das bengalas de lódão.

Estima-se que todos os anos os festejos académicos acabem por ser o destino de 20 mil bengalas, uma grande ajuda para uma indústria artesanal.

Ouvir a entrevista:
http://www.tsf.pt/paginainicial/AudioeVideo.aspx?content_id=2489583