Entre nós, apenas algum, menos anémico, descendente de apopléticos menos vezes sangrados, sustenta ainda a bravura hereditária da raça nobre, brandindo o marmeleiro legado ao canto dos solares da provincia pelos extintos capitães-mores, para, num repente sanguíneo de colera ou de ciume, varrer uma feira ou estender à bordoada no fundo de uma azinhaga o canastro de um rival.

em “As Farpas”, Ramalho Ortigão.

Um “diabo” de varapau

Quem, vindo pela estrada a que hoje teremos de chamar “velha”, que ligava a Portelinha à Benfeita, tivesse atravessado a Dreia e transposto o ribeiro “de cima”, e deixasse à esquerda a “casa dos colhereiros” e, logo em seguida, na curva, as “alminhas” que convidavam o caminheiro a rezar pelos que penavam no Purgatório, entrava na pitoresca e tenebrosa “Barroca da Vinha”. Pitoresca porque a estrada marginava formoso soito de gigantescos castanheiros,cujas copas,de um verde claro e alegre, formavam fechado docel, que o Sol a custo rompia; tenebrosa porque o “Diabo”, segundo a tradição, escolhia aquele fresco e umbroso local para aparecer àqueles a quem queria tentar, ou meter medo. Raras seriam as pessoas que, de dia, atravessavam a “Barroca da Vinha” sem levarem o “Credo” na boca e a mão bem nervosamente apertada numa figa. E de noite… De noite, quem se atreveria a atravessar, sozinho, aqueles cinquenta ou sessenta metros de estrada?

Uma tarde, o Manuel “Maneta”, de regresso não sabemos de onde, demorara-se a conversar na Dreia, numa roda de amigos. Cavaqueava-se e bebia-se; “rodada” para por um, “rodada” oferecida por outro, e depois por um terceiro e um quarto, que não queria ficar de somenos. O Sol já havia desaparecido há muito e a noite começava de adensar-se.

– Manuel, são horas – disse alguém – olha que não há luar e a noite vai ser de breu. Daqui à Benfeita ainda é um bocado, e os caminhos estão maus.
– Ainda é cedo – respondeu o interpelado – e o escuro não me mete medo!
– Mas olha que pode aparecer-te o “Diabo” na “Barroca da Vinha” – insistiu o amigo, para pôr fim às “rodadas”.
– Pois até gostava que me aparecesse. Ao menos ia de companhia! – retorquiu o Manuel, com uma bela e sonora gargalhada.

A cavaqueira continuou ainda, mas a evocação do “Diabo” não deixou de impressionar os circunstantes, que, primeiro um, depois outro, foram indo para casa.

Às tantas, o “Maneta” despediu-se e, com uma bengalita de vareta de aço forrada de papel, que estava, então, na moda, meteu-se resolutamente ao caminho, assobiando. Desceu até à ribeira, subiu tornejando para a “casa dos colhereiros”, benzeu-se em frente às “alminhas” e entrou no túnel formado pelas copas dos castanheiros. A escuridão era ali completa, e profundo o silêncio da noite, só interrompido pelo estalar dos gravetos debaixo dos pés do viandante. Súbito, o “Maneta” ouviu uma voz, uma voz roufenha, medonha, pavorosa! Estacou, olhos dilatados! Ouvidos atentos, ansiosos! E a voz repetiu, arrastadamente:

– Ó Manuel, espera aí que eu também vou!

E, detrás de um castanheiro, que depois se ficou a chamar “do medo” ou “do Diabo”, surgiu um vulto branco, enorme, horrendo, a avançar para a estrada, brandindo um gigantesco e ameaçador varapau, prestes a deslombar o interpelado!

Nessa noite, o Manuel Martins chegou a casa muito mais cedo do que contava. Dir-se-ia que teve asas, ou que o seu anjo protector o ajudou a percorrer o resto do caminho! Porque o “Diabo” não foi, porque o “Diabo” ficou na “Barroca da Vinha”, pois não teve “pernas” para acompanhar o “Maneta” na corrida.

A verdade é que só muito tempo depois o “Maneta” acreditou que aquele vulto medonho, horrendo, alveiro, de voz cavernosa, escalafriante e varapau ameaçador, não fora senão o José Gomes que, cortando caminho pelos matos, lhe saíra à frente naquele preparo, disposto a abater-lhe a prosápia com duas boas arrochadas.

Nota: O soito existente na “Barroca da Vinha” desapareceu totalmente com a “malina” que em toda a região deu nos castanheiros. O local está hoje completamente diferente do que era quando ocorreu a aventura, verdadeira, que fica descrita, não só pela falta dos castanheiros que ensombravam o caminho e o tornavam tétrico de noite, mas também porque sobre este veio a construir-se a “estrada de macadame”.

As “alminhas”, porém, ainda estão no mesmo local, reparadas dos insultos do tempo e dos malefícios dos homens, graças ao generoso interesse e patrocínio do Sr.António Nunes Leitão.

José Gomes, o “Diabo” que saiu ao caminho do “Maneta”, era um homem alto, forte e valente, alfaiate de seu ofício que deixou boa fama de si.

Mário Mathias
A Comarca de Arganil – Agosto/1954
http://benfeita.net/histor15.htm

Poupe-se, que tem bom pulso!

António Francisco Barata, 1836-1910.

— Se o alfaiate aparecer, que castigo achas que se lhe deva aplicar?
— Trazes tu a escada celestial? perguntou Jorge Aires, antes de responder.
— Trago, sim.
— Pois, muito bem, O castigo que lhe quero aplicar é simples; há de subir pela escada…
— Queres enforca-lo? interrompeu Gonçalves Lobo.
— Não.
— Dizes sempre o que tencionas fazer.
— Logo o saberás, respondeu Aires.

Neste momento ouviram-se passos de quem descia a Couraça; e, quando o vento o consentia, alguns sons como de voz abafada.

— Ai vêm nossos irmãos, disse Jorge Aires.
— Parece-me que sim, respondeu Gonçalves Lobo.

E, para se certificar, assobiou. Não responderam ao assobio. Os dois estudantes admiraram isso, e a ideia de que não eram os Carquejeiros penetrou em suas mentes.

— Não são eles.
— Assim o parece.

Convém esperar e guardar silencio. E os dois, separando-se, cozeram-se com as paredes do arco, um de cada lado. O tropel de passos aproximava-se.

— Ó Aires! disse a meia voz Gonçalves Lobo.
— O que é?
— A que horas prometeu vir o Pescada?
— Ás dez.
— Então são eles. Estão para bater dez horas.
— Não são, não; porque se o foram teriam respondido ao teu assobio.
— Seja o que for. Eles não devem tardar.

Calaram-se. Já se começavam a divisar os sujeitos que vinham.

Caminhavam para a Ponte. Eram quatro: um, no meio de dois que o arrastavam á força, estrebuchava e soltava uns sons abafados e surdos, porque o quarto sujeito de traz dos três, tinha e apertava um lenço que servia de mordaça na boca do preso.

— Anda, maroto; lançaste me ao chafariz da Feira, pois ao rio te lançarei eu!

E o grupo ia passando.

— Ó Lobo, disse em voz baixa Jorge Aires; que será isto?
— Aos futricas! bradou com voz de stentor Gonçalves Lobo, respondendo assim a Jorge Aires.
— Já! disse este. E, armados de cajados que traziam, deram sobre os quatro.

O que sustinha a mordaça foi a terra à primeira pancada que lhe atirou à cabeça o estudante Jorge Aires.

— Coragem! amigos! bradou o preso logo que pôde falar, que outro não era senão José da Silva Coutinho.

Gonçalves Lobo repetia pancadas rijas no sujeito que ouvira falar debaixo do arco, e conhecera ser o alfaiate Peixoto.

À terceira cajadada João Peixoto largou o estudante Silva Coutinho, que se desembaraçou facilmente do outro que o agarrava, dando-lhe um valente murro no estômago ; e, correndo a Gonçalves Lobo, lançou-lhe as mãos ao pau, torceu-lho rapidamente e conseguiu tirar lho, mandando logo à cabeça dele uma pancada forte.

Lobo evitou a pancada na cabeça; mas com uma força bruta havia sido ela despedida! Não deu na cabeça de Lobo, mas batendo-lhe no braço esquerdo impossibilitou-o de qualquer movimento, pela dor enorme que lhe causou.

João Peixoto teria morto a Gonçalves Lobo se Jorge Aires não acudisse a aparar as pancadas tremendas do desesperado futrica.

José da Silva Coutinho lutava braço a braço com o outro sujeito que não conhecia, e que por ultimo o largou. E num chuveiro de murros que os dois se davam, ninguém podia ao certo dizer qual deles seria o vencedor.

O sujeito que primeiro fora a terra com a pancada de Jorge Aires, ou estava morto ou sem sentidos; Gonçalves Lobo, com um braço quebrado, assentara-se gemendo com dores enormes, e Francisco Jorge Aires batia-se fortemente com o alfaiate João Peixoto, redobrando um e outro perícia e destreza.

Um assobio prolongado se ouviu neste instante.

Aires sentiu-o, mas não pôde corresponder porque, se se distraísse um segundo, estava desarmado, e quem sabe o que seria?!…

Gonçalves Lobo, apesar das dores agudas que sentia, pôde ainda responder ao assobio.

Jorge folgou quando o ouviu ; e, ou fosse porque estimasse a aproximação de seus irmãos diabólicos, ou porque não quisesse aos olhos deles passar por fraco, ou menos destro no jogo do pau do que um futrica ignorante e bruto, começou a mandar ao alfaiate pancadas mais desconhecidas dele, certeiras e firmes.

João Peixoto foi-as aparando, até que perto de si viu três estudantes armados de varapaus. Então, ou fosse porque se amedrontasse, ou porque não soubesse defender-se já de Francisco Jorge Aires, deixou sair o pau das mãos, que voou até cair no rio, e entregou-se à descrição, desanimando completamente.

Os estudantes, que chegaram, correram ao futrica, e, te-lo-iam morto, se Jorge Aires não gritasse:

— Alto! amigos! Poupe-se, que tem bom pulso!

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“O Rancho da Carqueja” tentativa de romance histórico, baseado nos acontecimentos académicos do século dezoito (1864) – António Francisco Barata, 1836-1910

O minhoto e o fadista

Nos montes, ao ar livre, no despovoado, onde não há aperto, onde não há escuridão, nem galeria de mulheres dissolutas, nem a encruzilhada das vielas, nem os portais escuros, nem os apitos da polícia, o homem precisa naturalmente de toda a sua força e de toda a sua inteligência para atacar e para se defender.

Aí o homem que saca a navalha encontra-se debaixo do varapau, e não tem defesa nem esconderijo nem fuga: tem de lutar por força, braço a braço e frente a frente.

Por isso o minhoto que se embriaga nunca promove rixas: deita-se sensatamente a dormir. Se um dos nossos fadistas do Bairro Alto abusar do vinho do minhoto para o insultar, este deixar-se-á injuriar até bater, fará com este a figura mais parecida com a de um cobarde, o que deverá levar o fadista, se ele não souber bem anatomia, a numerar escrupulosamente nessa noite todas as engrenagens do seu esqueleto, porque no dia seguinte terá os ossos todos num molho.

“As Farpas” – Eça de Queirós, Ramalho Ortigão

Lambada

Descrição de jogo do pau praticado numa romaria ao mesmo tempo que esgrima com espada preta, em versos do sec. XVIII.

Aqui, o soar da Lambada não se trata de um ritmo latino que surgiu por volta de 1980 no Pará, mas sim do forte e característico som resultante do bater de vara com vara.

“Xegada estava entaõ uma romagem
Dia de Pentecoste, onde Coimbra
Em pezo aos Olivais sair costuma.
He esta uma função das mais luzidas
Daqueles arrebaldes; ali entra
Tudo o bom, e bonito, e ali se encontra
Todo o recreio de qualquer espece.
Veemse ali jacozissimas Comedias
No amplo teatro do arraial vistozo.
Veemse as Trajedias de orroroso aspéto
A sena ensanguentarem, D’uma parte
Esgrimese com ansia a espada preta,
D´outra em jogo de páo soa a lambada.

(…)”

“Santarenaida: poema eroi-comico” de Francisco de Paula de Figueiredo (1792)

Brios de Soldado

(…) Seguiu-se depois uma cena horrível de confusão e desordem; uns gritavam, outros queriam fugir, mas com a pressa iam de encontro aos diversos grupos e mesas carregadas de copos e garrafas; ouviam-se, de uns os gritos de susto, de outros os brados de admiração, nestes a dor, naqueles o desespero. Era uma vozearia infernal, era um tumulto espantoso. Eu porém continuava impelido por uma força sobrenatural, por uma sede horrível de vingança.

Em breve senti vozes próximas e ameaçadoras em torno a mim, e uma pancada violenta ferir-me o braço esquerdo.

Olhei; seis ou oito homens, os amigos e sócios do miserável a quem eu acabava de castigar, armados todos de paus, preparavam-se para tomar a desforra dele.

Estava só, mas fugir… oh! fugir… um homem, um soldado !… nunca… era impossível… Dei um pulo a retaguarda e lancei mão do meu pau.BriosDeSoldado-TiagoRamos

Ilustração de Tiago Ramos

Principiou então uma luta renhida, muda e desesperada. Eram oito… eram oito, os cobardes!…

Atacado ao mesmo tempo por todos os lados, com o braço esquerdo quase deslocado pela primeira pancada, com a cabeça e as mãos ensanguentadas, sustentava uma luta de morte. Não se ouvia mais do que as queixas de um, as interjeições da raiva de outro, e o som áspero e seco do pau sobre o pau, aparando as pancadas rápidas e violentas.

Não sei o que há em uma luta assim; parece que as atitudes ameaçadoras dos combatentes, as vociferações os gemidos produziu tudo uma impressão tão nova em mim, que me sentia como arrastado, embriagado por ela. As forças redobravam-me e eu continuava senhor do campo. Alguns dos meus adversários tinham mordido o terreno; mais de uma vez os bordões de outros se haviam partido sob a pressão do meu, que, vergando-se todo, ia cair por fim sobre as carnes maceradas deles. A cada momento que os repelia voltavam mais desesperados e terríveis, mas uma luta assim não podia continuar; o suor escorria-me já ás bagadas pelo corpo e eu ia cedendo. Havia meia hora segura que nos batíamos.

Ouvimos então o alarido de muitas vezes, que se aproximavam; a luz de alguns fachos nos envolveu a todos ; chegavam as autoridades e cabos de policia.

Os meus adversários fugiram todos, porque talvez fossem ainda outras e mais difíceis as contas, que teriam a ajustar com a policia, e eu achei-me só. (…)

A. F. de Loureiro em “Archivo universal, Volume 3” (1860)

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Aldeias desavindas

Outro episódio que a minha memória ainda não desvaneceu, é o seguinte: Segundo consta, devido a um namoro mal sucedido, os rapazes de uma freguesia contígua, receavam vir aos bailes de Vilgateira, pelo que deixaram de os frequentar até que um dia e por que o período já ia longo, um grupo resolveu pôr cobro à situação e acompanhados dos seus varapaus, apresentaram-se no baile onde dançaram até altas horas, como era hábito, decorrendo tudo dentro da normalidade.

Quando o baile estava prestes a terminar, os rapazes da aldeia que entretanto se tinham organizado, desapareceram como por encanto.

O grupo “invasor” ao regressar à sua aldeia foi surpreendido pelos “ofendidos”, tendo-se desenrolado grande contenda, com enorme alarido e as consequências esperadas.

Consta-me que se as relações eram más, ficaram muito piores e durante muitos anos não houve casamentos entre habitantes das duas aldeias.

Na minha juventude e em férias, desloquei-me algumas vezes a tal aldeia, a pé, com um ou dois amigos e se não sentíamos hostilidade, havia pelo menos desconfiança.

Anos depois, tudo estava diferente e hoje, poucos se lembrarão destes desaguisados.

-José Varzeano

PUBLICADO NO CORREIO DO RIBATEJO DE 9 DE FEVEREIRO DE 2001

Espadão contra 5 paus

Romance: “O Génio do Mal”  Volumes 3 – 4

Arnaldo Gama – 1857

— Pois então cá por mim não tenho mêdo — disse o visconde — mande preparar para partirmos.

— Umph !— rosnou Manuel Gomes, e desceu. Dez minutos depois pozeram-se a caminho. Até ao largo de Souto Redondo, Manuel Gomes, que se pozera de batedor na frente da carruagem, não viu nada que o inquietasse ; ao entrar porém no caminho que d’ahi leva a S. João da Madeira sentiu um silvo agudissimo, viu chamejar de repente o espaço, ouviu a descarga de cinco tiros, e logo o silvo das balas que passaram junto d’elle, e outras que bateram na sege.

O cavallo baqueou.

— Senhor visconde! — gritou Manuel Gomes.

— Não me acertaram, amigo – gritou o velho visconde, lançando-se fóra da carruagem com duas pistolas na mão.

Manuel Gomes viu logo correr em direcção a elles cinco homens armados de varapaus. N’um abrir e fechar de olhos desfechou a clavina sobre elles, e arrancando do espadão que trazia, deu um salto para diante do visconde, que se pozera encostado a uma parede com as duas pistolas, armadas nas mãos.

Os cinco assassinos chegaram n’um momento a elles. Manuel fez um rodizio, e conseguiu fazê-los recuar. Travou-se então uma lucta desigual e de morte. A espada de Manuel brilhava como um relampago, ora em rodizio, ora procurando de fio ou de ponta o corpo dos contrarios. Mas estes armados de compridos varapaus esquivavam facilmente o corpo, e o velho soldado começava já a sentir-se cançado com os esforços sobrenaturaes que se via obrigado a fazer. N’um só momento que tomou de descanço um dos varapaus cahiu-lhe em cheio sobre a cabeça. O velho soldado cambaleou. O visconde porém conservava todo o sangue frio; apontou uma das pistolas, e desfechou. Um dos homens cahiu. A impressão que esta morte causou nos assassinos, foi preciosa para Manuel Gomes, que tomou fôlego, e conseguiu reconquistar a primitiva destreza. Mas a lucta era desegual de mais para durar muito tempo indecisa ; Manuel Gomes começava a fraquear de novo, o visconde tinha desfechado sem exito a segunda pistola… tudo estava perdido.

Uma circumstancia porém inesperada veio fazer pender a Victoria para o lado dos quasi vencidos. Um caminhante que subia n’este momento a estrada do lado de S. João da Madeira, mal viu o combate, metteu o cavallo a galope para elle. Infelizmente o visconde que tinha carregado novamente as pistolas, desfechou terceiro tiro, e a bala foi bater na cabeça do cavallo do recem-chegado. Este veio portanto a terra; mas não desanimou ; desembaraçou-se do cavallo, e correu com uma espada na mão para o lado de Manuel Gomes.

Este ao vêr-se soccorrido, tomou alma.

— A elles, camarada — gritou o velho soldado. A resposta do recem-chegado foi um golpe de tal jaez sobre, o craneo de um dos bandidos, que lh’o abriu até os dentes. Manuel Gomes correspondia ao mesmo tempo a esta cortezia, talhando com um golpe de soslaio a cara de um salteador, que se tinha desviado com mais tento, mas ainda assim não tanto a tempo, que não apanhasse no rosto todo o rigor de um gilvaz.

N’esta occasião assomou na estrada um outro cavalleiro.

— Narcizo ! — gritou o que tinha chegado primeiro.

Os bandidos lançaram-se então a fugir, e aquelle a quem tinham chamado Narcizo partiu á brida em perseguição d’elles.

Ainda elle não tinha tido tempo de chegar da perseguição em que se empenhava, e o visconde mal podéra ainda serenar de modo que podesse agradecer ao seu salvador